São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 2002

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VIOLÊNCIA

Moradores da favela do Gato dizem que grupo invadiu festa e atirou; policiais diz em que foram recebidos à bala e revidaram

Corregedoria apura ação da polícia em SP

Luiz Carlos Murauskas/ Folha Imagem
José Edison Brandão, que afirma ter sido agredido por policiais


PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL

A Corregedoria da Polícia Civil instaurou inquérito para apurar a ação de policiais do Grupo de Operações Especiais (GOE) na favela do Gato, no bairro do Bom Retiro, região central da cidade.
Moradores da favela fecharam uma pista da marginal Tietê na madrugada de ontem em protesto contra um grupo de policiais que, segundo eles, teria -sem motivo algum- invadido um barraco onde estava sendo realizada uma festa, atirado em dois homens e agredido as pessoas que estavam no local.
Já a versão dos policiais é diferente. Segundo a Secretaria da Segurança Pública, os policiais do GOE teriam ido ao local checar uma denúncia -feita por um taxista- de que ocorria um tiroteio dentro da favela. Os policiais afirmaram que foram recebidos à bala na entrada da favela e que apenas atiraram para se defender.
Ninguém foi preso durante a operação e os policiais, segundo a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança, negam que tenham agredido algum morador ou tenham visto quem teria atirado contra o grupamento.
Um carro da polícia teria chegado ao local e, com o início do tiroteio, teria pedido reforço. Depois, os policiais deixaram o local sem que nenhum suspeito fosse detido. A Secretaria da Segurança Pública informou que não tinha mais detalhes da ação.
Na versão dos moradores, os policiais invadiram uma festa de aniversário de uma menina de dois anos. No local, dois homens foram agredidos e levados para o córrego Tamanduateí. José Edison Brandão, 21, disse que "pulou no rio para sobreviver". Brandão foi atingido por uma bala na perna, disparada, segundo ele, pelos policiais. Ele também disse que os policiais quebraram seu braço.
Segundo Brandão, os homens que o agrediram estavam à paisana e apenas um deles usava um colete com o desenho de uma onça, símbolo do GOE.
"Eles bateram bastante e mandaram pular no rio. Depois disso, atiraram muitas vezes. Saí da água e eles me mandaram contar até cinco e correr", afirmou.
A auxiliar de limpeza Fabiana da Silva, 22, confirma as agressões. "A gente ouviu gritos e começou a correr. Não deu tempo de ver nada. Eles diziam que iam buscar as metralhadoras se a gente não ficasse quieto", conta.
"A gente não entende por quê eles fizeram isso. Se tivessem matado algum policial aqui, ou alguma briga com traficantes, a gente até entenderia", afirmou Fabiana.
Dizendo temer algum tipo de represália, muitos moradores não registraram queixa e preferiram não se identificar à reportagem. Apenas um dos homens que foi agredido e um grupo do GOE registraram boletins de ocorrência no 2º DP (Bom Retiro).
O delegado responsável pelo inquérito que corre na Corregedoria e titular da 2ª Delegacia de Crimes Funcionais, Denis Castro, vai apurar se houve por parte dos policiais abuso de autoridade. A partir de agora, o órgão tem 30 dias para investigar o caso.
Formada em 1993, a favela do Gato tem hoje, segundo cálculos da Secretaria Municipal da Habitação, 350 famílias.



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