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São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 2003

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HABITAÇÃO

Governador disse que ações organizadas constituem "espetáculo da invasão" e que isso pode aumentar confrontos no país

Alckmin promete rigor contra sem-teto

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Assembléia de sem-teto no hall do hotel Danúbio decide reforçar a segurança do imóvel


DA REPORTAGEM LOCAL

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) classificou ontem as invasões realizadas pelos sem-teto em quatro prédios particulares no centro de São Paulo e em um terreno da Volkswagen em São Bernardo como parte de um "espetáculo da invasão". A frase é uma alusão ao discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, em maio, disse que o país teria um "espetáculo de crescimento" da economia a partir deste mês.
Alckmin afirmou que vai agir com rigor contra os invasores e que espera apenas uma decisão da Justiça para que a Polícia Militar seja autorizada a fazer a reintegração de posse dessas áreas.
Ontem, a Volkswagen obteve autorização judicial para retomar o terreno. A UniFMU (Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas), que teve um prédio invadido na segunda-feira, entrou ontem com o mesmo pedido na Justiça.
"Estamos vivendo uma situação muito preocupante. É o espetáculo da invasão. Agora é uma nova invasão a cada hora, não é mais nem por dia. É inadmissível. São ações articuladas por um movimento político, um movimento profissional", afirmou.
Para Alckmin, as invasões a prédios particulares ou espaços públicos não são o caminho que deve ser seguido pelos movimentos que reivindicam moradia. "Eles estão rompendo com a lei. O número de prédios invadidos só não foi maior porque a polícia agiu durante a madrugada toda." Na segunda, os sem-teto planejavam invadir outros dois prédios.
O governador disse estar convencido de que as ocupações "não são obras do acaso, não são uma geração espontânea". De acordo com Alckmin, o país vive "uma indústria da invasão", o que pode causar "o crescimento dos confrontos no Brasil".
A coordenadora do MSTC (Movimento dos Sem-Teto do Centro), Ivaneti de Araújo, 30, contestou o governador e disse que a ação dos invasores "não é política". O MSTC liderou a invasão simultânea aos quatro edifícios.
"Não é de espantar essa resposta do governador", afirmou Araújo. "Ele vai cumprir a reintegração de posse e nós vamos cumprir com nossas necessidades, que é ter um local digno para morar."
A coordenadora disse que o movimento está disposto a resistir a uma suposta ordem de reintegração de posse.
Ontem, advogados da UniFMU entraram com pedido de reintegração de posse do prédio onde funcionava o antigo hotel Danúbio, na avenida Brigadeiro Luís Antônio, e que foi adquirido pela instituição no ano passado.
"É lamentável ter um governador com um pensamento como o dele", criticou Araújo. Ela negou que as ocupações promovidas por seu movimento tenham alguma relação com as invasões protagonizadas pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra). "A única coisa que tem a ver é a necessidade", disse ela.


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