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65% apóiam cotas raciais na faculdade
Menos de metade dos entrevistados pelo Datafolha conhece a proposta, e apenas 9% declararam estar bem informados
Pesquisa indica que rejeição à reserva de vagas para os negros em universidades é maior entre os mais ricos
e os mais escolarizados
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A maioria dos brasileiros é a
favor da adoção das cotas para
afrodescendentes nas universidades, mas a aprovação diminui à medida que aumenta a
renda familiar e a escolaridade
do entrevistado, aponta pesquisa Datafolha feita com 6.264
pessoas acima de 16 anos.
Desse total, 65% são favoráveis à reserva de um quinto das
vagas nas universidades públicas e privadas para negros e
descendentes, como prevê um
dos pontos do Estatuto da
Igualdade Racial, que tramita
no Congresso. A votação deve
acontecer no próximo ano.
Ao mesmo tempo em que
aprovam as cotas para negros,
87% dos entrevistados também
concordam que deveriam ser
criadas reservas de vagas nas
universidades para pessoas pobres e de baixa renda, independentemente da raça.
Negros e pardos representam hoje 48% da população
brasileira, segundo a Pnad
(Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios) 2004.
O levantamento mostra também que o assunto precisa ser
mais bem discutido. O estatuto
é conhecido por 46% dos entrevistados, porém apenas 9% se
dizem bem informados sobre
ele. Também nesse ponto o conhecimento aumenta conforme cresce a renda familiar e a
escolaridade do entrevistado.
A maior taxa de aprovação
das cotas raciais ocorre entre as
pessoas com escolaridade fundamental (71%). Já entre os entrevistados com nível superior
acontece uma inversão: 55%
são contra as cotas raciais.
O mesmo acontece entre as
pessoas com renda familiar acima de dez salários mínimos
-que representam 2% da população brasileira, segundo a
Pnad. Apenas 39% são favoráveis às cotas, contra 57% dos
que não concordam com elas.
Nessa faixa salarial, a rejeição é alta tanto entre aqueles
que se autodeclaram brancos
(64%) quanto para os negros
(54%). O índice cai para 47%
entre os pardos.
Já entre os que ganham até
dois salários mínimos, o índice
de aprovação é de 70%.
Para Roberto Romano, filósofo e professor titular de ética
e filosofia política na Unicamp
(Universidade Estadual de
Campinas), os resultados podem ser interpretados sob dois
pontos de vista.
"O moralista diria que quanto mais privilegiada uma pessoa, mais ela quer ser. Eu prefiro acreditar que os mais escolarizados sabem que não existem
soluções mágicas, conhecem as
dificuldades do ensino e da pesquisa dentro da universidade e
têm consciência da atitude administrativa que se deve ter."
Já o professor de antropologia da UnB (Universidade de
Brasília), José Jorge Carvalho,
entende que os resultados da
pesquisa indicam que "a elite
não quer perder o poder". "Vagas nas universidades públicas
boas são cotas de poder. E a elite não quer concorrentes negros", diz Carvalho, que foi um
dos idealizadores do programa
de cotas para negros da UnB.
A cor declarada pelo entrevistado não representa diferença estatística significativa sobre
a aprovação das cotas. Entre os
negros, 69% são a favor e, entre
os brancos, 62%. "Isso mostra
que no Brasil o problema da desigualdade não está colocado
em termos de raciais e sim de
gente pobre", avalia o cientista
político Bolívar Lamounier.
O sociólogo Edward Telles,
professor do departamento de
sociologia da UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles), pensa que esse dado merece mais pesquisa. "Já o encontrei em minhas pesquisas também, mas não sei bem dizer por
que", diz ele.
A pesquisa Datafolha foi realizada nos dias 17 e 18 de julho
em 272 municípios. A margem
de erro máxima é de dois pontos percentuais para mais ou
para menos.
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