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Estudos apontam bom rendimento de cotistas
Unicamp, UFBA e Uergs adotaram diferentes tipos de ação afirmativa
19% das universidades
públicas do país já aplicam
algum tipo de benefício aos
alunos afrodescendentes
ou que sejam de baixa renda
ANTÔNIO GOIS
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
As políticas de ações afirmativas em discussão no Congresso já podem ser examinadas
com base em experiências concretas de várias universidades
públicas brasileiras. A Folha
selecionou três delas por serem
pioneiras ou por já terem feitos
estudos que permitiram avaliar
os primeiros resultados.
Os caminhos escolhidos pela
Unicamp, UFBA (Universidade
Federal da Bahia) e Uergs
(Universidade Estadual do Rio
Grande do Sul) são diferentes.
Em comum, está o fato de as
análises feitas até o momento
terem mostrado que o desempenho dos beneficiados foi semelhante -e em alguns casos
até superior- ao dos demais
estudantes. As taxas de evasão
deles também foram menores.
A Uergs foi a primeira universidade pública a adotar, em
2002, uma reserva de vagas levando em conta apenas o critério socioeconômico, sem considerar a cor do candidato.
A instituição separa metade
das suas vagas a alunos carentes e 10% a portadores de deficiência. "Embora não haja dados confiáveis a respeito, toda
desigualdade ou preconceito se
traduz em diferenças econômicas. Por isso, atendemos a todas as formas de desigualdade",
disse o reitor da universidade,
Nelson Boeira. Segundo ele, a
diferença nas notas foi pequena entre os grupos de alunos.
Preconceito
A UFBA, uma das primeiras
federais a adotar cotas, escolheu reservar vagas para alunos
da rede pública que fossem,
majoritariamente, pretos, pardos ou indígenas. Com isso, pela primeira vez os calouros da
rede pública superaram os das
particulares na aprovação e o
percentual de pretos, pardos e
indígenas ficou próximo ao da
população do Estado.
Para o pró-reitor de graduação, Maerbal Bittencourt Marinho, o aumento do percentual
de negros seria alcançado mesmo sem o corte racial. Apesar
disso, ele defende o critério.
"Nas escolas públicas baianas, o percentual de negros é
grande. Mas a universidade
aceitou estabelecer também o
corte racial para mostrar que
ela defende que o lugar do negro é também na universidade.
Isso ajuda a mudar a visão preconceituosa da sociedade", diz.
Já a Unicamp, por meio de
um sistema de concessão de
bônus, foi a primeira instituição pública a adotar uma ação
afirmativa sem cotas usando a
justificativa de que, dessa maneira, seria preservado o princípio do mérito acadêmico.
Houve aumento no número
de alunos de escolas públicas,
pretos, pardos e indígenas, ainda que não próximo do percentual da população de São Paulo.
A universidade avaliou o desempenho acadêmico do método. Na maioria dos cursos (31
dos 56), os beneficiados apresentam rendimento melhor do
que o dos demais no primeiro
semestre. "Os resultados mostram que o programa foi até
agora bem-sucedido, mas vamos continuar acompanhando
os resultados para ter mais confiança no caminho escolhido ou
aperfeiçoando o sistema", diz o
reitor José Tadeu Jorge.
Essas não são as únicas experiências com ações afirmativas
em curso no Brasil. Segundo a
Secretaria Especial de Políticas
de Promoção da Igualdade Racial, 30 instituições de ensino
superior federais ou estaduais
já adotam algum critério. Elas
representam 19% total de 162
instituições dessas duas redes.
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