São Paulo, segunda-feira, 23 de julho de 2007

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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/EQUIPAMENTO

Especialista vê falhas em manual de avião

Professor de faculdade da Alemanha diz que orientações a pilotos de Airbus-A320 são "incompletas" em sistema de freios

Peter Ladkin estuda acidentes com o modelo de aeronave e já identificou situações parecidas com tragédia de Congonhas

ALENCAR IZIDORO
EVANDRO SPINELLI

DA REPORTAGEM LOCAL

CINTHIA RODRIGUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O manual de operação do Airbus-A320, modelo da TAM que foi protagonista da maior tragédia da aviação brasileira, é "incompleto", "ambíguo" e "menos compreensível do que precisaria ser" para os pilotos no item que trata do sistema de frenagem -fato que pode contribuir para acidentes aéreos.
A avaliação é do especialista britânico Peter B. Ladkin, professor da Faculdade de Tecnologia da Universidade de Bielefeld, na Alemanha, e que estuda, há 14 anos, acidentes específicos do Airbus-A320.
Em seus trabalhos, Ladkin identificou três aviões do mesmo modelo (além do da TAM) que já tiveram acidentes por dificuldades do sistema de freios.
Pelo menos dois tinham condições muito semelhantes à de Congonhas, com um dos reversores desligados -em 1998, nas Filipinas, e 2002, nos EUA.
Os estudos do especialista indicam que, muitas vezes, não há necessariamente um defeito mecânico, mas sim uma orientação inadequada aos pilotos ou uma interpretação confusa de procedimentos do manual.
O britânico começou a se interessar pelo tema em 1993, quando um A320 da Lufthansa não conseguiu parar no aeroporto de Varsóvia, na Polônia.
O avião saiu da pista, fez uma curva e bateu em um muro de proteção. Duas pessoas morreram, e dezenas se feriram.
Apesar da forte chuva, as condições de aproximação da pista eram normais, e a aeronave tinha em seu comando um piloto considerado experiente.
A empresa aérea afirmou que, conforme orientação do manual da fabricante francesa, ele aumentou a velocidade no pouso para que houvesse um impacto no solo maior e aumentasse a potência do sistema de freio aerodinâmico -aquele que aciona os "spoilers" quando as rodas sentem a pista.
Na ocasião, a Airbus respondeu que se tratava de um mal-entendido da operadora do vôo.
O tema foi muito discutido entre as duas empresas. A fabricante disse que parte do avião deveria ser colocada no solo com rapidez diante de alguns critérios de peso, mas manteve seu manual de operações.
O professor realizou um estudo para completá-lo, abordando situações omitidas. "Não há defeitos da máquina, simplesmente alguns fenômenos operacionais que precisariam ser incluídos", afirmou Ladkin.
A pesquisa publicada em um fórum online sobre riscos de acidente chegou a pilotos proeminentes que a repassaram a colegas, inclusive da Airbus.
Segundo ele, só parte das correções apontadas foi feita.
O modelo Airbus-A320 tem registros de aproximadamente 30 incidentes desde 1988, quando começou a operar.
Ladkin é autor de publicações citadas como referências em documentos da FAA (Administração Federal de Aviação, em português) nos EUA.
A Airbus foi procurada desde sábado por e-mail e ontem por telefone, mas não respondeu.


Colaborou MATTHEW BLUMENTHAL

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