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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/EQUIPAMENTO
Especialista vê falhas em manual de avião
Professor de faculdade da Alemanha diz que orientações a pilotos de Airbus-A320 são "incompletas" em sistema de freios
Peter Ladkin estuda acidentes com o modelo de aeronave e já identificou situações parecidas com tragédia de Congonhas
ALENCAR IZIDORO
EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
CINTHIA RODRIGUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O manual de operação do
Airbus-A320, modelo da TAM
que foi protagonista da maior
tragédia da aviação brasileira, é
"incompleto", "ambíguo" e
"menos compreensível do que
precisaria ser" para os pilotos
no item que trata do sistema de
frenagem -fato que pode contribuir para acidentes aéreos.
A avaliação é do especialista
britânico Peter B. Ladkin, professor da Faculdade de Tecnologia da Universidade de Bielefeld, na Alemanha, e que estuda, há 14 anos, acidentes específicos do Airbus-A320.
Em seus trabalhos, Ladkin
identificou três aviões do mesmo modelo (além do da TAM)
que já tiveram acidentes por dificuldades do sistema de freios.
Pelo menos dois tinham condições muito semelhantes à de
Congonhas, com um dos reversores desligados -em 1998, nas
Filipinas, e 2002, nos EUA.
Os estudos do especialista indicam que, muitas vezes, não
há necessariamente um defeito
mecânico, mas sim uma orientação inadequada aos pilotos
ou uma interpretação confusa
de procedimentos do manual.
O britânico começou a se interessar pelo tema em 1993,
quando um A320 da Lufthansa
não conseguiu parar no aeroporto de Varsóvia, na Polônia.
O avião saiu da pista, fez uma
curva e bateu em um muro de
proteção. Duas pessoas morreram, e dezenas se feriram.
Apesar da forte chuva, as
condições de aproximação da
pista eram normais, e a aeronave tinha em seu comando um
piloto considerado experiente.
A empresa aérea afirmou
que, conforme orientação do
manual da fabricante francesa,
ele aumentou a velocidade no
pouso para que houvesse um
impacto no solo maior e aumentasse a potência do sistema
de freio aerodinâmico -aquele
que aciona os "spoilers" quando as rodas sentem a pista.
Na ocasião, a Airbus respondeu que se tratava de um mal-entendido da operadora do vôo.
O tema foi muito discutido entre as duas empresas. A fabricante disse que parte do avião
deveria ser colocada no solo
com rapidez diante de alguns
critérios de peso, mas manteve
seu manual de operações.
O professor realizou um estudo para completá-lo, abordando situações omitidas. "Não
há defeitos da máquina, simplesmente alguns fenômenos
operacionais que precisariam
ser incluídos", afirmou Ladkin.
A pesquisa publicada em um
fórum online sobre riscos de
acidente chegou a pilotos proeminentes que a repassaram a
colegas, inclusive da Airbus.
Segundo ele, só parte das correções apontadas foi feita.
O modelo Airbus-A320 tem
registros de aproximadamente
30 incidentes desde 1988,
quando começou a operar.
Ladkin é autor de publicações citadas como referências
em documentos da FAA (Administração Federal de Aviação, em português) nos EUA.
A Airbus foi procurada desde
sábado por e-mail e ontem por
telefone, mas não respondeu.
Colaborou MATTHEW BLUMENTHAL
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