|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TRAGÉDIA EM CONGONHAS/HOMENAGEM
1.200 pessoas vão à Sé chorar pelas vítimas
Familiares e amigos dos mortos no vôo 3054 da TAM, na última terça-feira, se reuniram em cerimônia na catedral
Vítimas foram citadas nominalmente por padre, o que emocionou familiares; presença de autoridades indignou alguns parentes
CINTHIA RODRIGUES
MARIANA BERGEL
VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um sermão longo e dolorido
iniciou ontem a missa em homenagem às vítimas do vôo JJ
3054 da TAM, na catedral da
Sé, em São Paulo.
O nome de 197 mortos no acidente foram lidos um a um pelo
padre Juarez de Castro para as
mais de 1.200 pessoas que lotavam a igreja. "Para que eles sejam sempre lembrados e que as
autoridades possam fazer de
tudo para que [a tragédia] não
se repita nunca mais", disse.
A TAM já admite 198 mortos
no acidente da última terça-feira (leia texto na pág. C5).
Cada vez que um nome ecoava pela catedral, um grupo de
amigos e familiares, vestindo
camisetas com fotos dos parentes mortos, se levantava e chorava. Algumas lágrimas eram
acompanhadas de abraços, outras de aplausos descoordenados. Alguns parentes abaixavam a cabeça e fechavam os
olhos.
Os passageiros foram lembrados primeiro, em ordem alfabética. Por último, foram nomeados a tripulação e os funcionários da companhia aérea.
Um grupo de colegas da empresa uniformizados começou a
aplaudir quando foi chamado o
primeiro piloto e só parou depois que foi lido o nome da última comissária.
O arcebispo de São Paulo
dom Odilo Scherer assumiu a
cerimônia e cumprimentou as
autoridades presentes, entre
eles, o prefeito da capital, Gilberto Kassab, representantes
do governo do Estado e do Poder Judiciário. Também estava
lá o presidente da TAM, Marco
Antonio Bologna.
Uma mãe se indignou, teve
uma crise de choro e foi até
uma das saídas laterais da igreja. "Não é justo eles estarem parados aqui enquanto minha filha está dentro de um frigorífico. Não consigo ficar de braços
cruzados", reclamava Tereza
Maliszewski, mãe da analista
de sistemas Katiane Maliszewski Lima, 32, um dos nomes
da lista de mortos no acidente.
Na hora do ofertório (quando
oferendas são levadas ao altar),
Marilda Conde Ruzzante, mãe
da comissária Fabiane Ruzzante, 32, que estava grávida de
cinco meses, levou uma coroa
de flores ao altar. Atrás dela,
outros parentes subiram de
mãos dadas segurando fotos
dos mortos.
Ao descer de lá, Malu Gualberto, que perdeu o marido,
Antonio Gualberto Filho, 53,
foi direto ao primeiro banco,
onde estavam as autoridades.
"Você é o representante do
governador?", perguntou ao secretário de Justiça, Luiz Antonio Marrey. "Vou cobrar do poder público por tudo isso", disse. "Eu entendo sua dor, mas
estamos fazendo todo o possível", respondeu Marrey.
Promessas como essa não
aliviam a sensação de Ubirajara
Souza de Almeida, pai de Rodrigo Almeida, 26, que teve o seu
corpo identificado ontem pelo
IML (Instituto Médico Legal).
"A dor não vai passar nunca",
lamentou. "Hoje demos uma
trégua ao nosso coração para
vir à igreja orar", disse. Até o fechamento desta edição, 61 pessoas foram identificadas.
Os parentes das vítimas marcaram para hoje um ato ecumênico, que será realizado às
12h30, na Assembléia Legislativa, próximo ao parque Ibirapuera, em São Paulo.
Texto Anterior: Avião da BRA faz pouso inesperado em Portugal Próximo Texto: Presidente da TAM sai antes do final da missa Índice
|