São Paulo, segunda-feira, 23 de julho de 2007

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Com setor aéreo crescendo, falta avião e funcionário, diz CPI

A conseqüência, segundo integrantes da CPI, é a pressão das companhias aéreas sobre pilotos e equipamentos

Entre 2004 e 2007, frota nacional cresceu somente 3,24%; movimento de passageiros subiu 23,18% de 2004 até outubro de 2006

RUBENS VALENTE
ANDRÉ CARAMANTE

DA REPORTAGEM LOCAL

O setor aéreo vive um boom que não é acompanhado em incremento da frota e do número de funcionários, segundo apontam estatísticas em poder da CPI do Apagão Aéreo da Câmara. O resultado, de acordo com integrantes da CPI, é uma pressão das empresas sobre pilotos e equipamentos para poderem operar na capacidade máxima.
"A constatação da CPI é que as companhias aéreas estão trabalhando no limite, estão voando muito mais do que voavam, mas o número de aviões não acompanha [o crescimento]", diz o vice-presidente da CPI, deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "O acidente é a fotografia do caos."
Entre 2004 e 2007, a frota nacional cresceu apenas 3,24% -de 10.831 aviões homologados para 11.182. Já o movimento de passageiros subiu de 85 milhões, em 2004, para 104,7 milhões em 2006 (de janeiro a outubro) -aumento de 23,18%.
A TAM vive momento de crescente expansão. No período, a empresa saltou de 130 milhões de km voados para 174,9 milhões, aumento de 34,5%, segundo os anuários estatísticos divulgados pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
A empresa saiu de 11,4 milhões de passageiros transportados em vôos domésticos, em 2004, para 15,9 milhões em 2005, crescimento de 39,5%.
O número de funcionários da TAM, contudo, não acompanhou a curva ascendente com o mesmo vigor. Entre 2004 e 2005, o número de funcionários da manutenção e revisão cresceu 13,76%, de 1.199 para 1.364 -menos de um terço do aumento registrado no embarque de passageiros. O crescimento geral de funcionários, incluindo pilotos, co-pilotos e auxiliares de vôo, foi de 16,26%.
O presidente da Anac, Milton Zuanazzi, associou, em depoimento à CPI em 24 de maio, problemas em seis aviões da TAM aos "limites máximos" que a empresa teria enfrentado por ocasião do Natal passado.
"O problema principal [do Natal] foi a saída da operação de seis aeronaves da TAM, que tiveram o chamado -na linguagem da aviação- "no-go", ou seja, tiveram manutenção não programada, saíram, pararam de operar. A empresa operava nos seus limites máximos de capacidade naqueles dias. São momentos de altíssima temporada. Portanto, não conseguiu fazer a transferência, fazer endosso de bilhetes, sequer transferir para suas aeronaves, que também voavam cheias, nem para as congêneres, que também estavam cheias. Não havia aeronaves a que se pudesse transferir naquele momento."
Zuanazzi explicou os problemas indesejados trazidos pela necessidade de submeter aviões à manutenção correta: "Ora, numa malha toda integrada, como nós possuímos no Brasil, você retirar seis aeronaves -a TAM, na época, estava operando com 68 aeronaves, no doméstico- é quase 10% da frota-, realmente aquilo impactou".
Integrante da CPI, o deputado Marco Maia (PT-RS) quis saber: "O que teria justificado que uma frota relativamente nova, como a da TAM, tivesse registrado a necessidade de retirada de seis aeronaves para manutenção não prevista num único dia?". A pergunta, contudo, ficou sem resposta de Zuanazzi, segundo notas taquigráficas que registraram a sessão.
A TAM, procurada desde a tarde da última quinta para comentar seu sistema de manutenção de aviões, não deu retorno até as 22h30 da última sexta.

Freio no crescimento
A recente crise aérea e o acidente com o Boeing da Gol, no entanto, têm contribuído para desaceleração no crescimento do setor, conforme reportagem publicada pela Folha no último dia 20. Segundo um estudo da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), até maio, o total de brasileiros em viagens domésticas cresceu cerca de 13,6%. No entanto, de janeiro a maio de 2006, a alta havia sido de 18%.


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