|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Com setor aéreo crescendo, falta avião e funcionário, diz CPI
A conseqüência, segundo integrantes da CPI, é a pressão das companhias aéreas sobre pilotos e equipamentos
Entre 2004 e 2007, frota nacional cresceu somente 3,24%; movimento de passageiros subiu 23,18% de 2004 até outubro de 2006
RUBENS VALENTE
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O setor aéreo vive um boom
que não é acompanhado em incremento da frota e do número
de funcionários, segundo apontam estatísticas em poder da
CPI do Apagão Aéreo da Câmara. O resultado, de acordo com
integrantes da CPI, é uma pressão das empresas sobre pilotos
e equipamentos para poderem
operar na capacidade máxima.
"A constatação da CPI é que
as companhias aéreas estão
trabalhando no limite, estão
voando muito mais do que voavam, mas o número de aviões
não acompanha [o crescimento]", diz o vice-presidente da
CPI, deputado federal Eduardo
Cunha (PMDB-RJ). "O acidente é a fotografia do caos."
Entre 2004 e 2007, a frota
nacional cresceu apenas 3,24%
-de 10.831 aviões homologados para 11.182. Já o movimento de passageiros subiu de 85
milhões, em 2004, para 104,7
milhões em 2006 (de janeiro a
outubro) -aumento de 23,18%.
A TAM vive momento de
crescente expansão. No período, a empresa saltou de 130 milhões de km voados para 174,9
milhões, aumento de 34,5%, segundo os anuários estatísticos
divulgados pela Anac (Agência
Nacional de Aviação Civil).
A empresa saiu de 11,4 milhões de passageiros transportados em vôos domésticos, em
2004, para 15,9 milhões em
2005, crescimento de 39,5%.
O número de funcionários da
TAM, contudo, não acompanhou a curva ascendente com o
mesmo vigor. Entre 2004 e
2005, o número de funcionários da manutenção e revisão
cresceu 13,76%, de 1.199 para
1.364 -menos de um terço do
aumento registrado no embarque de passageiros. O crescimento geral de funcionários,
incluindo pilotos, co-pilotos e
auxiliares de vôo, foi de 16,26%.
O presidente da Anac, Milton
Zuanazzi, associou, em depoimento à CPI em 24 de maio,
problemas em seis aviões da
TAM aos "limites máximos"
que a empresa teria enfrentado
por ocasião do Natal passado.
"O problema principal [do
Natal] foi a saída da operação
de seis aeronaves da TAM, que
tiveram o chamado -na linguagem da aviação- "no-go", ou seja, tiveram manutenção não
programada, saíram, pararam
de operar. A empresa operava
nos seus limites máximos de
capacidade naqueles dias. São
momentos de altíssima temporada. Portanto, não conseguiu
fazer a transferência, fazer endosso de bilhetes, sequer transferir para suas aeronaves, que
também voavam cheias, nem
para as congêneres, que também estavam cheias. Não havia
aeronaves a que se pudesse
transferir naquele momento."
Zuanazzi explicou os problemas indesejados trazidos pela
necessidade de submeter
aviões à manutenção correta:
"Ora, numa malha toda integrada, como nós possuímos no
Brasil, você retirar seis aeronaves -a TAM, na época, estava
operando com 68 aeronaves, no
doméstico- é quase 10% da
frota-, realmente aquilo impactou".
Integrante da CPI, o deputado Marco Maia (PT-RS) quis
saber: "O que teria justificado
que uma frota relativamente
nova, como a da TAM, tivesse
registrado a necessidade de retirada de seis aeronaves para
manutenção não prevista num
único dia?". A pergunta, contudo, ficou sem resposta de Zuanazzi, segundo notas taquigráficas que registraram a sessão.
A TAM, procurada desde a
tarde da última quinta para comentar seu sistema de manutenção de aviões, não deu retorno até as 22h30 da última sexta.
Freio no crescimento
A recente crise aérea e o acidente com o Boeing da Gol, no
entanto, têm contribuído para
desaceleração no crescimento
do setor, conforme reportagem
publicada pela Folha no último
dia 20. Segundo um estudo da
Fipe (Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas), até
maio, o total de brasileiros em
viagens domésticas cresceu
cerca de 13,6%. No entanto, de
janeiro a maio de 2006, a alta
havia sido de 18%.
Texto Anterior: Artigo: As "outras" vítimas do acidente da TAM Próximo Texto: Tragédia em Congonhas/Governo: Diretores tentaram afastar Anac da crise Índice
|