São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 2002

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SEGURANÇA

Em Taubaté, interior de São Paulo, juíza descobre o artefato durante vistoria em guarita de centro de detenção

Boneco de palha vigia prisão para a PM

Claudio Capucho/Folha Imagem
Boneco de palha encontrado anteontem no CDP de Taubaté vestido com calça, jaleco e boné da Polícia Militar de São Paulo


MARIA TERESA MORAES
DA FOLHA VALE

Um boneco de palha vestido com uma farda da Polícia Militar foi encontrado em uma das guaritas do CDP (Centro de Detenção Provisória) de Taubaté (130 km de São Paulo), onde um policial deveria estar fazendo a segurança.
O boneco foi retirado da guarita por volta das 16h de anteontem, durante uma vistoria de rotina feita pela juíza da Vara de Execuções Criminais de Taubaté, Sueli Zeraik Armani de Menezes.
Segundo a juíza, o diretor do presídio sabia da existência do boneco antes da vistoria. "Minhas visitas aos presídios são mensais, mas não incluem as torres de segurança da Polícia Militar. Fui até lá [à torre" acompanhada da direção do CDP], afirmou ela.
Um policial militar, que não quis se identificar, disse que o boneco era utilizado havia cerca de dez dias na muralha. De acordo com ele, o boneco "trabalhava" principalmente durante a noite.
O policial afirmou ainda que o boneco era utilizado com consentimento da direção da prisão. O diretor do CDP, José Guedes, confirmou que sabia da existência do boneco. ""Lamento", disse.
O secretário de Estado de Comunicação, Luiz Salgado Ribeiro, afirmou que o boneco não foi confeccionado com a autorização do comando da PM. ""É um fato isolado, que só aconteceu no CDP de Taubaté", declarou.
O presídio, inaugurado em dezembro passado, tem capacidade para 768 presos e abriga 735. Em suas quatro torres, cerca de 20 policiais militares trabalham em esquema de revezamento.
Desde a inauguração, sete presos já fugiram. Em uma das fugas, os detentos cavaram um túnel de 15 metros. No mês passado, uma das alas foi desativada após a polícia encontrar dois novos túneis, estiletes, barras de ferro, brocas, cordas e carregadores de celular.
O coordenador da Coespe (Coordenadoria dos Estabelecimentos Penitenciários do Estado) do Vale do Paraíba e Litoral Paulista, Carlos Alberto Corade, disse que o número de PMs disponíveis não atende às necessidades dos presídios da região.
Segundo ele, apenas três das quatro torres existentes nas penitenciárias são ocupadas por policiais militares. "Em algumas penitenciárias, o efetivo atende às quatro torres. No entanto, a maioria tem policiais em apenas três."
De acordo com a Coespe, cinco penitenciárias de Tremembé e Potim, no Vale do Paraíba, têm uma das quatro torres desativada.
O comandante do 5º BPMI (Batalhão da Polícia Militar do Interior) de Taubaté, coronel Lamarque Monteiro, abriu uma sindicância para apurar o caso do boneco. "É uma irregularidade inaceitável, uma transgressão disciplinar grave, que deve ser punida", afirmou.
O comando da PM espera concluir a apuração dentro de, no máximo, uma semana. "Até que as investigações sejam encerradas, será difícil dizer que tipo de punição será aplicada aos culpados", disse o comandante.


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