São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 2006

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Pastores são acusados de manter escravos em fazendas em Minas

Fundadores de igreja reuniram 800 pessoas para morar e trabalhar em "refúgios espirituais"

DIEGO ZANCHETTA
DO "AGORA"

Pastores evangélicos acusados de aliciar fiéis de São Paulo para o trabalho escravo em fazendas no sul de Minas Gerais podem ter a prisão preventiva pedida nas próximas semanas. Eles negam as acusações e se dizem vítimas de perseguição.
Cícero Vicente Araújo e Edmilson Pereira da Silva, pastores do Tatuapé (zona leste) que fundaram em 1998 a igreja Jesus, a Verdade Que Marca, teriam movimentado R$ 10 milhões em bens adquiridos com doações não declaradas de fiéis paulistas. Eles compraram imóveis, terras, estabelecimentos comerciais, carros e rádios clandestinas em Minduri, Andrelândia, Caxambu, Cruzília e São Vicente de Minas. Eles foram indiciados por estelionato e ocultação de bens. O promotor de Caxambu (MG), Bergson Cardoso Guimarães, disse ontem que vai dar início à ação penal contra eles, denunciados à Justiça em abril pelas polícias Civil e Federal e a Promotoria. Eles arrebanharam ao menos 800 seguidores convencidos a trabalhar de graça em "refúgios espirituais no campo".
A reportagem foi ao sul de Minas após receber, no final de julho, as primeiras denúncias de ex-fiéis que abandonaram fazendas do grupo e se dizem enganados pelos pastores.
Eles contam ter vendido o que tinham para adquirir, com os pastores, terras e comércios registrados em nomes de pessoas sem ligação com a igreja. Também dizem que trabalhavam sem registro em carteira e recebiam só roupas e comida.

Outro lado
Por quatro dias, o pastor Estevão Ribeiro disse que o pastor Cícero Vicente Araújo comentaria as denúncias e afirmou que a reportagem poderia visitar as fazendas. "Não temos o que esconder." No entanto, Araújo se recusou a conceder uma entrevista e a reportagem não pôde visitar as fazendas.
Ribeiro, por sua vez, disse que não há trabalho escravo e que a comida servida aos fiéis é boa. No site da comunidade www.cejvm.com.br, Araújo deixou uma mensagem, no final de 2005, quando começaram as investigações: "Colocamos-nos à disposição dos órgãos governamentais do nosso país e do Poder Judiciário para qualquer esclarecimento".


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