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Presa, falsa socialite confessa golpes no circuito de luxo de SP
Segundo a polícia, Kelly Samara C. dos Santos se apresentava como Kelly Tranchesi e lesou ao menos dez pessoas em R$ 30 mil
Jovem de 19 anos roubou gravura autenticada de Joan Miró, no valor de US$ 18 mil, após romance relâmpago com o dono de uma galeria
KLEBER TOMAZ
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL
A aventura da falsa socialite
que por sete meses se apresentou como a fina Kelly Tranchesi no circuito de luxo de São
Paulo terminou com sua prisão
e a revelação de que ela é, na
verdade, Kelly Samara Carvalho dos Santos, 19, autora de
golpes e furtos no Brooklin, na
Vila Olímpia, no Itaim Bibi e
nos Jardins, como ela própria
confessou.
É a segunda vez que ela foi
detida pelo mesmo tipo de crime. Na primeira, em 1º de agosto, sua advogada conseguiu que
a Justiça concedesse sua liberdade provisória após oito dias.
Kelly acabou presa porque,
para não pagar os R$ 4.000 de
honorários, resolveu prestar
queixa contra a própria advogada, alegando que ela havia se
apropriado de suas roupas. Na
noite de anteontem, ao voltar
ao 15º Distrito Policial, no
Itaim Bibi, na zona oeste, para
buscá-las, foi presa em flagrante por portar cheques furtados.
Foi indiciada por suspeita de
crimes de estelionato, falsidade
ideológica e três furtos.
Desde fevereiro, a garota que
aos 15 anos saiu da casa dos
pais, em Amambai (MS), onde
nasceu, já lesou ao menos dez
pessoas em mais de R$ 30 mil
na capital paulista, segundo a
polícia -um quadro avaliado
em R$ 37 mil foi recuperado.
Seu primeiro crime, que
mostrou a predileção por artigos de luxo, diz a polícia, foi na
adolescência: o roubo de R$ 50
mil em jóias em Mato Grosso
do Sul. Em São Paulo, onde se
hospedava no hotel Mercury,
deu um "baile".
Em 25 de julho, roubou uma
gravura autenticada do artista
espanhol Joan Miró (1893-1983) no valor de US$ 18 mil
(quase R$ 37 mil) após ter um
namoro relâmpago com o dono
da galeria. Passou a noite com
um quarentão e furtou dele, na
cama, cartão de crédito e R$
5.500 em dinheiro, gastos em
roupas de lojas grifadas da rua
Oscar Freire.
Furtava cheques e alugava
carros importados com motorista para ir a boates como as
badaladas Disco e Pacha. Também deu calote no hotel.
Boa-noite-cinderela
Uma das últimas vítimas de
Kelly foi uma aposentada de 84
anos, em 10 de agosto.
"Eu caí na rua, ela me ajudou
e me levou até em casa", diz
Amena Campos de Souza, moradora do Jardim Paulista. "Depois voltou para ver se eu estava bem, pegava o celular e fingia
que conversava com o pai, que
seria dono de loja da Oscar
Freire, pedindo que ele me desse um emprego para eu ter
uma atividade. Um dia, sem eu
perceber, roubou um talão de
cheques."
Kelly "Tranchesi" (sobrenome clonado de Eliana Tranchesi, dona da butique Daslu) se
passava por endinheirada. Ela
estudou até o ensino médio e
não trabalhava. Segundo a delegada Aline Martins Gonçalves, do 15º Distrito Policial, no
Itaim Bibi, ela disse em depoimento que chegou a atuar como garota de programa na Baixada Santista.
Quando não cobrava por
bem, "cobrava" por mal. Aplicava o golpe conhecido por
boa-noite-cinderela (adicionar
sonífero à bebida da vítima para furtar) em homens jovens e
maduros que seduzia com seu
corpo de modelo (1,76 m e 56
kg) em boates caras.
Outro artifício usado por
Kelly para se aproximar de seus
possíveis "alvos" eram os sites
de relacionamentos, como o
Orkut. "Ela está sendo acusada
disso? Sério?", diz o estudante
Kléber Neivert, 18. "Nossa! Ela
me adicionou dizendo que me
conhecia de algum lugar, e era
muito legal. Eu sempre trocava
mensagem com ela."
"Empregada"
Na loja Vide Bula, na rua da
Consolação, armou um circo e
tanto, segundo relato de uma
vendedora que prefere não se
identificar. Ligou antes dizendo ser "empregada da Kelly
Tranchesi" e avisando que a
"patroa" iria "comprar muito" e
que, então, deveria ser muito
bem tratada.
De acordo com a funcionária,
ela chegou à loja dez minutos
depois do telefonema, vestida
com roupas de marca, tratando
a todos muito mal e com a mesma voz da "empregada".
O apreço por grifes é traduzido em suas comunidades do
Orkut: Diesel, Scuderia Ferrari,
Sttutgart Porsche, Eu Uso Emporio Armani ou Quero uma
Ferrari Pink.
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