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Ação da PM desocupa Faculdade de Direito
Tropa de Choque entrou no prédio da USP menos de 8 h após início do protesto de estudantes e membros de movimentos sociais
Cerca de 220 pessoas foram levadas para a delegacia e depois liberadas; houve reclamações de truculência, negada pela Polícia Militar
FÁBIO TAKAHASHI
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Menos de oito horas após um
grupo de alunos e integrantes
de movimentos sociais ter invadido a Faculdade de Direito
da USP, no largo São Francisco
(centro de SP), a Tropa de Choque da Polícia Militar de São
Paulo entrou na unidade na
madrugada de ontem para retirar os manifestantes. Cerca de
220 pessoas foram levadas para
a delegacia, mas foram liberadas após serem identificadas.
Foi a primeira vez desde 1968
(durante o regime militar) que
a PM entrou na faculdade, que
completa 180 anos, para reprimir manifestações. "Não houve
invasão [da PM]. A Tropa da
PM entrou lá para tirar os invasores", disse mais tarde o governador José Serra (PSDB).
A retirada ocorreu a pedido
do diretor da faculdade, João
Grandino Rodas, que disse, em
carta, que "movimentos alheios
a essa instituição [...] tentaram
impedir a saída de alunos e professores do prédio".
Além de estudantes da USP,
o movimento, que é nacional,
possui integrantes de 40 entidades, entre elas a UNE e o
MST. O grupo pretendia sair da
faculdade às 16h de ontem.
A reivindicação tem 18 pontos, entre os quais a erradicação
do analfabetismo e o aumento
de vagas públicas nas universidades. O grupo diz não atacar
um governo especificamente.
Os manifestantes detidos ontem acusam a polícia de ter agido com truculência e violência.
A PM nega e diz apenas ter
atendido ao pedido do diretor,
em ação considerada "calma".
A presidente da UNE, Lúcia
Stumpf, disse que cerca de 30
pessoas foram feridas levemente durante a ação, com escoriações ou luxações. A polícia diz
não haver registro de feridos.
O sem-terra Fidelçino Marcos dos Santos, 52, disse ter sido uma das vítimas da violência. "Me arrastaram pela camisa e começaram a me chutar.
Pode ver que ainda tem sangue
na cadeira", disse. Santos não
soube informar à Folha o que o
movimento reivindicava.
Nova manifestação
À tarde, cerca de 200 pessoas
(segundos os organizadores) ou
80 (conforme a PM) protestaram em frente ao prédio contra
a ação e o diretor, por ter chamado a polícia. "Foi lamentável. A ocupação tinha hora para
acabar", disse Otaviano Helene, presidente da Associação
dos Docentes da USP. Não houve aulas no período.
A ação da polícia ocorre dois
meses após o fim da invasão da
reitoria da USP, que durou 50
dias. Na ocasião, tanto a gestão
Serra quanto a reitora Suely Vilela foram criticados por setores da própria universidade por
não terem executado a reintegração de posse. A saída foi decidida pelos próprios invasores.
O secretário de Justiça, Luiz
Antonio Marrey, disse que a
ação agora foi mais rápida porque houve um pedido "imediato", coisa que Suely não fez.
Os integrantes do Choque
entraram no prédio principal
por um anexo e uma passarela,
chegando pelo segundo andar.
Batendo os cassetetes nos escudos, desceram uma escadaria e
alcançaram o pátio, onde estava a maioria dos manifestantes.
Um efetivo de 120 policiais
(40 homens da Tropa de Choque, 60 da Força Tática e 20 policiais femininas) foi utilizado.
Sala dos Estudantes
Houve correria e muitos gritos, que podiam ser ouvidos do
lado de fora do prédio -a imprensa não pôde acompanhar a
ação. Segundo relatos dos manifestantes, eles tentaram sair
pela porta da rua Riachuelo,
mas ali encontraram mais policiais. Eles, então, entraram na
Sala dos Estudantes, tradicional auditório da faculdade.
"Fomos encurralados. A polícia foi para cima com escudos e
cassetetes", disse Célio Romualdo, 22, do MST. "Havia
muitas mulheres e crianças."
O coronel Camilo afirma que
os manifestantes é que não
queriam sair da sala e chegaram a fechá-la com correntes
-que tiveram de ser arrebentadas, segundo ele.
"Tiramos todos com muita
calma. Não foi nem necessário
o uso de artifícios como gás pimenta", disse o coronel.
Camilo afirmou que a retirada de mulheres e crianças foi
feita pelas policiais femininas.
"A maioria dos que estavam lá
não eram estudantes, eram de
movimentos como MST. Levamos todos para a delegacia para
comprovar que não houve
agressões. O pessoal do MST,
por exemplo, podia se autolesionar para culpar o Estado."
Alguns deitaram no chão, como forma de protesto, e foram
carregados para fora pelos
PMs. "Fazíamos uma manifestação pacífica, de 24 horas. A
ação da polícia foi violenta",
disse o presidente do centro
acadêmico da faculdade, Ricardo Leite Ribeiro. "Nem na ditadura a polícia entrou assim."
O coronel Camilo negou que
tenha havido abuso na operação, mas afirmou que investigará caso haja alguma denúncia.
Sergio Salomão Shecaira,
professor de direito penal da faculdade, chamado pelos alunos
para fazer uma mediação com a
polícia, disse não ter visto nenhuma pessoa ferida na ação.
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