São Paulo, quinta-feira, 23 de agosto de 2007

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Ação da PM desocupa Faculdade de Direito

Tropa de Choque entrou no prédio da USP menos de 8 h após início do protesto de estudantes e membros de movimentos sociais

Cerca de 220 pessoas foram levadas para a delegacia e depois liberadas; houve reclamações de truculência, negada pela Polícia Militar

FÁBIO TAKAHASHI
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Menos de oito horas após um grupo de alunos e integrantes de movimentos sociais ter invadido a Faculdade de Direito da USP, no largo São Francisco (centro de SP), a Tropa de Choque da Polícia Militar de São Paulo entrou na unidade na madrugada de ontem para retirar os manifestantes. Cerca de 220 pessoas foram levadas para a delegacia, mas foram liberadas após serem identificadas.
Foi a primeira vez desde 1968 (durante o regime militar) que a PM entrou na faculdade, que completa 180 anos, para reprimir manifestações. "Não houve invasão [da PM]. A Tropa da PM entrou lá para tirar os invasores", disse mais tarde o governador José Serra (PSDB).
A retirada ocorreu a pedido do diretor da faculdade, João Grandino Rodas, que disse, em carta, que "movimentos alheios a essa instituição [...] tentaram impedir a saída de alunos e professores do prédio".
Além de estudantes da USP, o movimento, que é nacional, possui integrantes de 40 entidades, entre elas a UNE e o MST. O grupo pretendia sair da faculdade às 16h de ontem.
A reivindicação tem 18 pontos, entre os quais a erradicação do analfabetismo e o aumento de vagas públicas nas universidades. O grupo diz não atacar um governo especificamente.
Os manifestantes detidos ontem acusam a polícia de ter agido com truculência e violência. A PM nega e diz apenas ter atendido ao pedido do diretor, em ação considerada "calma".
A presidente da UNE, Lúcia Stumpf, disse que cerca de 30 pessoas foram feridas levemente durante a ação, com escoriações ou luxações. A polícia diz não haver registro de feridos.
O sem-terra Fidelçino Marcos dos Santos, 52, disse ter sido uma das vítimas da violência. "Me arrastaram pela camisa e começaram a me chutar. Pode ver que ainda tem sangue na cadeira", disse. Santos não soube informar à Folha o que o movimento reivindicava.

Nova manifestação
À tarde, cerca de 200 pessoas (segundos os organizadores) ou 80 (conforme a PM) protestaram em frente ao prédio contra a ação e o diretor, por ter chamado a polícia. "Foi lamentável. A ocupação tinha hora para acabar", disse Otaviano Helene, presidente da Associação dos Docentes da USP. Não houve aulas no período.
A ação da polícia ocorre dois meses após o fim da invasão da reitoria da USP, que durou 50 dias. Na ocasião, tanto a gestão Serra quanto a reitora Suely Vilela foram criticados por setores da própria universidade por não terem executado a reintegração de posse. A saída foi decidida pelos próprios invasores.
O secretário de Justiça, Luiz Antonio Marrey, disse que a ação agora foi mais rápida porque houve um pedido "imediato", coisa que Suely não fez.
Os integrantes do Choque entraram no prédio principal por um anexo e uma passarela, chegando pelo segundo andar. Batendo os cassetetes nos escudos, desceram uma escadaria e alcançaram o pátio, onde estava a maioria dos manifestantes.
Um efetivo de 120 policiais (40 homens da Tropa de Choque, 60 da Força Tática e 20 policiais femininas) foi utilizado.

Sala dos Estudantes
Houve correria e muitos gritos, que podiam ser ouvidos do lado de fora do prédio -a imprensa não pôde acompanhar a ação. Segundo relatos dos manifestantes, eles tentaram sair pela porta da rua Riachuelo, mas ali encontraram mais policiais. Eles, então, entraram na Sala dos Estudantes, tradicional auditório da faculdade.
"Fomos encurralados. A polícia foi para cima com escudos e cassetetes", disse Célio Romualdo, 22, do MST. "Havia muitas mulheres e crianças."
O coronel Camilo afirma que os manifestantes é que não queriam sair da sala e chegaram a fechá-la com correntes -que tiveram de ser arrebentadas, segundo ele.
"Tiramos todos com muita calma. Não foi nem necessário o uso de artifícios como gás pimenta", disse o coronel.
Camilo afirmou que a retirada de mulheres e crianças foi feita pelas policiais femininas. "A maioria dos que estavam lá não eram estudantes, eram de movimentos como MST. Levamos todos para a delegacia para comprovar que não houve agressões. O pessoal do MST, por exemplo, podia se autolesionar para culpar o Estado."
Alguns deitaram no chão, como forma de protesto, e foram carregados para fora pelos PMs. "Fazíamos uma manifestação pacífica, de 24 horas. A ação da polícia foi violenta", disse o presidente do centro acadêmico da faculdade, Ricardo Leite Ribeiro. "Nem na ditadura a polícia entrou assim."
O coronel Camilo negou que tenha havido abuso na operação, mas afirmou que investigará caso haja alguma denúncia.
Sergio Salomão Shecaira, professor de direito penal da faculdade, chamado pelos alunos para fazer uma mediação com a polícia, disse não ter visto nenhuma pessoa ferida na ação.


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