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Garoto de 11 anos furta carro e anda por 3 km
Menino foi flagrado por guardas-civis depois de passar conduzindo o veículo a cerca de 70 km/h em via na zona sul de SP
Criança foi levada à
delegacia e liberada; ações
socioeducativas, como
internação, só se aplicam a
jovens entre 12 e 17 anos
JULIANA COISSI
EM SÃO PAULO
Um menino de 11 anos furtou
um carrou e dirigiu por três
quilômetros em alta velocidade
no bairro Campo Grande, zona
sul de São Paulo, anteontem à
noite. À Folha ele disse que
não queria voltar a pé para casa
e por isso pegou o carro. Ele foi
ouvido na delegacia, acompanhado do pai, e liberado.
Esse foi o sexto boletim de
ocorrência que envolve o garoto. Dois dias antes, ele foi ouvido na delegacia por supostamente ter furtado outro carro.
Os outros registros em que ele
é suspeito foram por dirigir
sem habilitação, por furto de
uma farmácia, por dano e por
desacato à autoridade.
De acordo com a polícia,
guardas-civis faziam a ronda
em uma escola no bairro quando viram um carro passar em
alta velocidade, a 70 km/h, em
uma rua estreita. Ele foi seguido até parar com o carro em
frente à sua casa.
"Até então não sabia que
era uma criança ao volante,
porque não dava para ver a cabeça, só o cabelo", conta o
GCM Valdecir Bento da Silva.
"Foi um choque ver a criança.
Não aparenta ter nem 11 anos."
O garoto, diz o guarda, contou
ter pego o carro "porque ele estava dando mole na rua".
Segundo a polícia, o menino
disse em depoimento que furtou o carro na avenida Nossa
Senhora Sabará, a três quilômetros de sua casa.
Com uma "mixa", espécie de
chave mestra, tentou primeiro
abrir a porta de um Cross Fox.
Não conseguiu. Apelou, então,
para o veículo ao lado, um Gol
ano 81, usado no suposto furto.
Até completar 12 anos, nenhuma criança pode ser punida, segundo o ECA (Estatuto da
Criança e do Adolescente). Medidas socioeducativas, inclusive internação, só se aplicam
entre os 12 e os 17 anos.
O caso será encaminhado ao
juiz da Infância e da Juventude, que pode determinar medidas protetoras, como sujeitar o
garoto a acompanhamento psicológico. A exigência pode se
estender também à família.
"O que me parece claro é que
a família falhou em algum momento na educação. É preciso
detectar qual foi essa falha e
ajudá-los para corrigir daqui
para frente", disse o promotor
da Infância e da Juventude
Thales César de Oliveira. A Folha não encontrou os pais.
Um bom menino
O cabelo descolorido, arrepiado caprichosamente com
gel, é o primeiro sinal de quem
gosta de estar bem vestido.
Camiseta e bermudas bem
passada, tênis branco limpo,
o garoto contou à reportagem
que não está mais na escola.
Desligou-se dos amigos da
escola -"são tudo criança"
- e dos da rua -"tudo dedo-duro". "Não tenho amigo. Meu
amigo é Deus."
O garoto vive com o pai, auxiliar de limpeza, a mãe, dona-de-casa, e com os três irmãos, de
sete, 16 e 17 anos.
Um ano atrás, não era esse o
menino que conheciam, contam os vizinhos. "Vi esse menino nascer aqui. Todo mundo o
admirava. Enquanto as crianças brincavam na rua, ele andava com carrinho juntando papelão", disse o aposentado José
Araújo Aguiar, 69.
Ele também limpava vidro de
carros parados no sinal em uma
avenida perto de sua casa. O dinheiro, entregava para a mãe.
Às vezes, o pequeno trabalhador se permitia a regalias: chegava com pizza ou geladinhos
nas mãos e distribuía na rua.
De uns tempos para cá, conta
outra vizinha, o garoto mudou.
"Ele não fala mais com ninguém. Direto a gente vê ele passar de carro aqui, correndo. Dá
dó de ver", afirma.
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