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AMILTON VALENTE DA SILVEIRA (1944-2008)
Memórias do "velho tropeiro" gaúcho
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Por onde andaria o "Tropeiro Velho", bastião da memória gaúcha, era pergunta
que não calava entre a gente
de Canguçu (RS). Poucos sabiam que o autor das antigas
crônicas do jornal, tão fartas
de memorialismo, era, quem
sabe, seu próprio dentista.
"Modesto, tinha medo de
não agradar", diz a viúva, explicando porque Amilton da
Silveira usava o inspirado
pseudônimo. Já a vida de
"menino do campo" que trazia à "Folha de Canguçu", era
mesmo sua. Nascido e crescido na fazenda, ia à escola balançando na carroça do leite;
montava a cavalo e brincava
à sombra do cinamomo.
"Escolheu a profissão de
dentista, mas de vocação era
fazendeiro". Passou 40 anos
no consultório. Mas o campo
reverberava em sua rotina.
No Centro de Tradições
Gaúchas, era bom no tiro de
laço do rodeio, onde "se enlaça o boi pelas guampas". Em
casa, "tinha um museu", com
carabinas e lanças da Revolução Farroupilha e fogareiros e arreios de cavalos, com
os quais poderia sustentar
uma guerra ou uma tropa.
Mas era calmo o dono da
sétima cadeira da Academia
Canguçuense de História e
ex-diretor do Esporte Clube
Cruzeiro (o hino era seu). Tinha quatro filhos, uma neta e
um bom guarda-roupa. "Fosse ao desfile ou à padaria, ia
rigorosamente "pilchado" dos
pés à cabeça", diz a viúva.
A pilcha é o traje tradicional do gaúcho, que vestiu até
o fim. Morreu no domingo,
aos 64, de câncer. E foi enterrado de botas, bombacha, camisa e lenço brancos e chapéu. Só não tinha uma cuia
na mão. "É incrível, mas ele
não gostava de chimarrão."
obituario@folhasp.com.br
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