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VIOLÊNCIA
Grupo especial, que vai atuar onde o narcotráfico é forte, ganha primeira unidade em favela da zona sul do Rio
Polícia "ocupa" morro e desagrada a morador
PEDRO DANTAS
DA SUCURSAL DO RIO
Moradores do complexo de favelas Cantagalo-Pavão-Pavãozinho, na zona sul do Rio, receberam ontem com desconfiança a
apresentação dos cem homens da
primeira unidade do GPAE (Grupamento de Policiamento em
Áreas Especiais), cujo objetivo é
aproximar os policiais militares
das comunidades onde é forte a
presença do narcotráfico.
"Se for para fazer policiamento
e participar da vida social da comunidade, tudo bem. Agora, se
for para afrontar o trabalhador
com revistas, aí não vai dar certo",
disse Ademir José Custódio, 46,
coordenador dos programas esportivos no morro do Cantagalo.
O objetivo oficial do GPAE é estabelecer um canal de comunicação com os moradores. Além do
policiamento, os cem homens devem se dedicar à rotina da favela,
como prestar primeiros socorros
e apoiar atividades desenvolvidas
por ONGs (organizações não-governamentais).
"Acho que estão todos desconfiados. É muito bom para ser verdade. Para os moradores, é uma
ruptura de costumes, pois o policiamento em massa não acontece
nem nos bairros. Por sua vez, os
policiais temem entrar para proteger a comunidade e levar um tiro pelas costas", disse o coordenador do movimento Viva Rio, Rubem César Fernandes, que esteve
presente à solenidade.
Escolha
A escolha do complexo não foi
por acaso. A área Pavão-Pavãozinho-Cantagalo foi cenário de
confrontos entre moradores e policiais militares, em maio, depois
das mortes de um adolescente de
14 anos e de cinco supostos traficantes. Os moradores desceram o
morro e chegaram a bloquear
ruas de Ipanema e Copacabana.
A cerimônia, que teve a presença do secretário da Segurança, Josias Quintal, mostrou que no próprio complexo existe uma divisão
social, entre os moradores nascidos e criados no Cantagalo, os
imigrantes e moradores temporários do Pavão-Pavãozinho e os
moradores da parte mais miserável da favela, batizada de Vietnã.
Os do Cantagalo eram os mais
entusiasmados com o novo grupamento. "Os projetos sociais são
mais desenvolvidos no Cantagalo
porque aqui está o pessoal mais
raiz, enquanto no Pavão-Pavãozinho vive o pessoal do Norte que
mora lá por um tempo e depois
vai embora", disse Luiz Bezerra
Nascimento, vice-presidente da
Associação de Moradores do
Cantagalo.
Novo tempo
"Todos sabemos que a relação
com as comunidades não é das
melhores, mas pretendemos
inaugurar um tempo novo", disse
o secretário Josias Quintal.
A sucessão de mortes e conflitos
entre policiais e traficantes vem
gerando protestos violentos de
moradores de favelas do Rio desde o início do ano.
Desde fevereiro, já foram mais
de 14 protestos, que frequentemente terminam com ônibus depredados. Para o governo, essas
ações são incitadas pelos traficantes, o que os moradores negam.
Morte
Na zona norte, os protestos começaram em fevereiro, depois da
morte de um adolescente de 17
anos no morro do Salgueiro, na
Tijuca.
Em abril, moradores da favela
Fazendinha, em Inhaúma, incendiaram um ônibus e acusaram
policiais de balear e não socorrer
uma estudante de 14 anos, que
morreu a caminho do hospital.
Em maio, moradores do morro
dos Macacos (zona norte) protestaram em frente ao hospital do
Andaraí depois que a Polícia Militar matou um jovem de 22 anos e
feriu três pessoas.
Os protestos mais recentes
aconteceram no morro de São
Carlos, na zona central, depois
que um menino de 6 anos foi
morto por uma bala perdida.
Apesar de o governo ter oferecido
uma recompensa de R$ 10 mil, o
autor do crime até agora não foi
identificado.
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