São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2001

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MISÉRIA

Objetivo é quebrar o ciclo de pobreza, e não apenas resolver a fome imediata; galpão na Vila Maria vai arrecadar alimentos

Programas querem unir doação e cidadania

DA REPORTAGEM LOCAL

O objetivo dos programas públicos de combate à fome existentes na cidade de São Paulo é associar a doação de alimentos a ações de cidadania, com ênfase em geração de renda.
Isso tudo para tentar escapar das chamadas "políticas compensatórias", que são aquelas que ajudam a resolver um problema imediato, como a fome, mas, por outro lado, não são capazes de romper o ciclo de pobreza.
Especialistas em pobreza dizem que essas iniciativas ainda são pouco representativas frente à necessidade de o país adotar políticas públicas voltadas para a erradicação da pobreza.
O maior programa de distribuição de alimentos da cidade, o Alimenta São Paulo, do governo do Estado, que atende a 54 mil famílias (cujos chefes estão desempregados), exige matrícula escolar e carteira de vacinação.

Participação
A distribuição de cestas básicas do governo é feita por meio das associações de bairro, com o objetivo de estimular as famílias a participar de entidades organizadas, explica Moacir Rossetti, o coordenador dos programas estaduais de abastecimento.
"Quanto mais organizada for a sociedade, mais fácil vai ser fazer os programas chegarem a quem realmente precisa", afirma ele. A nova meta de distribuição é beneficiar 100 mil famílias.
Além disso, o governo do Estado também distribui leite para quase 206 mil crianças de até dois anos e para 35 mil idosos. Há ainda quatro restaurantes subsidiados, localizados em pontos de grande movimento, que servem refeição a R$ 1.

Prefeitura
Já a prefeitura, além do programa de Renda Mínima -que garante uma ajuda financeira aos pais que mantêm crianças na escola- está montando um programa de distribuição de alimentos para instituições que servem refeições a pessoas carentes.
O galpão de recepção de alimentos, que será na Vila Maria (zona norte), também vai ter um "estoque para situações de emergência" -como, por exemplo, atender desabrigados de enchentes ou incêndios.
"Vai funcionar nos moldes de um banco, só que o capital vai ser o alimento", diz Vera Barral, a coordenadora do projeto.
A prefeitura também criou um programa de redução do desperdício em mercados, que já está beneficiando 2.000 crianças.
São frutas e legumes que seriam jogados fora por estarem fora dos padrões de mercado, mas que, de acordo com Vera, ainda detêm todos os nutrientes.
Para especialistas, o maior avanço nutricional promovido pela prefeitura até o momento foi a introdução de refeições nas escolas municipais. Antes da novidade, as crianças recebiam "lanche seco", composto por bolacha, suco e doces.
No extremo sul da cidade, existem casos de crianças que engordaram quatro quilos em apenas um mês, depois de terem recebido refeições "de verdade" todos os dias. (GA)



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