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"Há um problema sério de nutrição"
DA REPORTAGEM LOCAL
O secretário da Agricultura e do
Abastecimento do Estado de São
Paulo, João Carlos de Souza Meirelles, diz que, como em São Paulo não existe a "fome indiana de
não ter nada", o desafio é melhorar a qualidade nutricional dos cidadãos e reinserir os excluídos no
processo produtivo.
Folha - Por que há fome na cidade
mais rica do Brasil?
João Meirelles - A causa disso é o
modelo que o Brasil adotou para
o seu desenvolvimento há 50
anos. Não é culpa específica de
nenhum governo, mas de um
processo que deu prioridade à industrialização, que era mesmo
inadiável, mas que provocou a
aceleração do êxodo rural e criou
áreas de miséria em cidades como
São Paulo, Rio e Belo Horizonte.
A nação inteira está em débito
com seus excluídos. Não fomos
capazes de criar a primeira etapa
da inclusão social: o emprego.
Folha - Se a fome é proporcional
ao desemprego, então ela está aumentando na cidade de São Paulo?
Meirelles - Tome cuidado com a
palavra fome. É uma palavra um
pouco indiana, que lembra jejum.
Se você olhar toda a população de
São Paulo, você não encontra desnutridos estruturais. Veja os meninos que pedem coisas nas esquinas. Você não encontra nenhum barrigudinho, fruto de
qualquer tipo de verminose, e nenhum subnutrido.
Folha - De acordo com os dados
existentes, a fome está mais concentrada na periferia.
Meirelles - Você pode ter pessoas em condições de desnutrição, mas não aquela fome extrema, como vemos em determinadas regiões do Nordeste, onde a
pessoa fica até três dias sem comer nada. Uma coisa é comer menos, ou comer coisas que não sejam nutritivas. Outra, é a fome.
Há um problema sério de nutrição e precisamos melhorar isso.
Folha - Então quando o senhor fala da fome refere-se apenas à situação de não ter nada?
Meirelles - Em São Paulo você
pode ter uma subalimentação nos
casos mais graves da periferia,
mas é muito raro alguém ficar
sem nada. Nós fazemos um atendimento enorme, com cesta básica e leite, mas sabemos que ainda
não é o suficiente.
(GA)
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