São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Há um problema sério de nutrição"

DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário da Agricultura e do Abastecimento do Estado de São Paulo, João Carlos de Souza Meirelles, diz que, como em São Paulo não existe a "fome indiana de não ter nada", o desafio é melhorar a qualidade nutricional dos cidadãos e reinserir os excluídos no processo produtivo.

Folha - Por que há fome na cidade mais rica do Brasil?
João Meirelles -
A causa disso é o modelo que o Brasil adotou para o seu desenvolvimento há 50 anos. Não é culpa específica de nenhum governo, mas de um processo que deu prioridade à industrialização, que era mesmo inadiável, mas que provocou a aceleração do êxodo rural e criou áreas de miséria em cidades como São Paulo, Rio e Belo Horizonte. A nação inteira está em débito com seus excluídos. Não fomos capazes de criar a primeira etapa da inclusão social: o emprego.

Folha - Se a fome é proporcional ao desemprego, então ela está aumentando na cidade de São Paulo?
Meirelles -
Tome cuidado com a palavra fome. É uma palavra um pouco indiana, que lembra jejum. Se você olhar toda a população de São Paulo, você não encontra desnutridos estruturais. Veja os meninos que pedem coisas nas esquinas. Você não encontra nenhum barrigudinho, fruto de qualquer tipo de verminose, e nenhum subnutrido.

Folha - De acordo com os dados existentes, a fome está mais concentrada na periferia.
Meirelles -
Você pode ter pessoas em condições de desnutrição, mas não aquela fome extrema, como vemos em determinadas regiões do Nordeste, onde a pessoa fica até três dias sem comer nada. Uma coisa é comer menos, ou comer coisas que não sejam nutritivas. Outra, é a fome. Há um problema sério de nutrição e precisamos melhorar isso.

Folha - Então quando o senhor fala da fome refere-se apenas à situação de não ter nada?
Meirelles -
Em São Paulo você pode ter uma subalimentação nos casos mais graves da periferia, mas é muito raro alguém ficar sem nada. Nós fazemos um atendimento enorme, com cesta básica e leite, mas sabemos que ainda não é o suficiente. (GA)










Texto Anterior: "É preciso uma rede de solidariedade"
Próximo Texto: Assistência: Escolas do RJ distribuem merenda também nos finais de semana
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.