São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 2002

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AMBIENTE

Plantas e arbustos nascem e se desenvolvem em lugares pouco convencionais em meio ao concreto paulistano

Vegetação desafia a poluição em São Paulo

JUCA VARELLA
REPÓRTER FOTOGRÁFICO

BRUNO LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio ao concreto e à poluição de São Paulo, árvores, arbustos e folhagens desafiam as adversidades e crescem em rachaduras de calçadas e frestas de viadutos. São samambaias, bromélias e até mesmo orquídeas que, em diversos pontos da cidade, disputam espaço com o asfalto e nascem em locais pouco convencionais.
Na marginal Pinheiros (zona oeste), no sentido da rodovia Castello Branco, quem passa próximo à ponte do Jaguaré se surpreende com uma trepadeira florida na cerca que acompanha a ferrovia. Na avenida do Estado (centro), samambaias sobrevivem nas paredes de sobradinhos e há prédios em que o abandono deu lugar a verdadeiros jardins.
Embora o excesso de cálcio existente na composição do cimento impeça que espécies nativas se desenvolvam, plantas exóticas como o ficus microcarpa -a chamada "figueirinha"- encontram na superfície alcalina do concreto um ambiente apropriado para crescer. Nas emendas dos viadutos, sem nenhuma intervenção humana, nascem e dão frutos.
"Só é possível ver essas plantas porque elas resistem inclusive à poluição", afirma o professor do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências da USP Sérgio Tadeu Meirelles, que já preparou duas teses sobre vegetação em rochas. "Espécies de outros lugares são capazes de compartilhar o ambiente que foi alterado pelo homem e já não tem mais espécies nativas", diz.

Revolta verde
Em prédios antigos, material em decomposição da própria construção consegue formar, com o tempo, uma superfície com características ideais para espécies de outros países. Em geral, são plantas que têm menor necessidade de água e suportam excessos de luz e de calor.
E o processo não acontece só nesta época do ano -a primavera começa hoje. A reocupação dos espaços urbanos pela vegetação ocorre de forma contínua e demorada, podendo levar muitos anos. E a intervenção do homem, molhando a planta, por exemplo, pode prejudicar ou impedir o desenvolvimento. O regime de chuvas de São Paulo, segundo Meirelles, é determinante para o crescimento das espécies.
Bromélias e orquídeas são capazes de ocupar muros, sobretudo os de pedras como gnaisse e granito. As samambaias, que se desenvolvem por pequenos esporos transportados pelo vento, têm mais facilidade de encontrar frestas de construções e pequenos vãos entre dois prédios.
O ficus, que lembra uma jabuticabeira, instala-se sobre pedras ou outras plantas, já que precisa de um suporte para se desenvolver. As sementes -que medem menos de um milímetro- são transportadas por pássaros que comem frutos e se desenvolvem bem nas emendas de viadutos.


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