São Paulo, quarta-feira, 23 de setembro de 2009

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Fleury diz que foi vítima no caso dos remédios

Laboratório afirma que não suspeitou que drogas eram roubadas porque distribuidor tinha todos os documentos em ordem

Dono de empresa que vendeu caixas de Mabthera roubadas foi preso no mês passado, mas grupo Fleury diz que não sabia disso

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

O grupo Fleury diz que foi "vítima" da quadrilha recém-desmantelada que roubava remédios de farmácias e hospitais públicos e os revendia a hospitais e clínicas particulares. Na sexta passada, a Polícia Civil apreendeu dez caixas roubadas de Mabthera no Fleury Hospital-Dia, em Higienópolis (região central de São Paulo).
O Mabthera é indicado para artrite reumatoide e câncer do sistema linfático. O Fleury comprou o produto da Oncofarma, distribuidora cujo dono, Maurício Rei, foi preso no mês passado, como parte da Operação Medula, da Polícia Civil.
Paulo Esteves, advogado de Rei, diz que seu cliente já foi solto e nega as acusações. O dono da distribuidora, porém, continua sendo investigado.
O grupo Fleury afirma que a Oncofarma tem todos os registros necessários na Agência Nacional de Vigilância Sanitária e na Receita Federal. "A distribuidora é legal e não houve nada irregular na compra. Por isso não tínhamos como suspeitar [da origem criminosa do produto]", diz Mauro Figueiredo, presidente do grupo.
A partir do número do lote impresso nas caixas do Mabthera, a polícia e a Vigilância Sanitária de São Paulo descobriram que a droga utilizada pelo Fleury havia sido roubada em março deste ano de uma farmácia pública estadual na Vila Mariana (zona sul).
O delegado Sérgio Norcia diz crer que "não houve má-fé" do Fleury. "Mas só vamos ter certeza no fim da investigação."
O grupo Fleury diz que pagou R$ 5.100 por cada caixa de Mabthera. O governo paulista afirma que o adquire por cerca de R$ 6.000. A Roche, o laboratório fabricante, diz que o preço de mercado é de R$ 8.000.
Hospitais ouvidos pela Folha, porém, afirmaram que os R$ 5.100 estão dentro do valor médio de venda para um hospital-dia como o do Fleury.
Hospital-dia é um tipo de unidade onde a internação não passa de um dia, para realização de pequenas cirurgias e aplicação de certas drogas.
O presidente do Fleury diz que poderia ter deixado de usar o Mabthera se tivesse sabido da prisão do dono da distribuidora no mês passado e se o número do lote tivesse sido tornado público na época do roubo.
A Vigilância Sanitária paulista divulgou o número do lote roubado em seu site no mês de julho, quatro meses após o roubo. Diz que o atraso foi proposital, para não prejudicar a investigação da Operação Medula.
O Fleury Hospital-Dia aplica o Mabthera desde o ano passado. Desde então, 14 pacientes de artrite reumatoide receberam o medicamento da distribuidora Oncofarma. Segundo o Fleury, os pacientes estão bem.


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