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Seis cursos reúnem 52% dos universitários
Levantamento do Inep revela a má distribuição do ensino superior brasileiro; censo será lançado até o final deste ano
Campeão em número de alunos, administração tem mais estudantes que toda a área de saúde, que inclui medicina e enfermagem
FÁBIO TAKAHASHI
ENVIADO ESPECIAL A CAXAMBU (MG)
O ensino superior brasileiro,
além de ter uma abrangência
considerada baixa, está mal distribuído: seis dos atuais 84 cursos do país concentram 52% de
todas as matrículas.
O campeão em número de
universitários é administração,
com 621 mil. Sozinho, ele possui mais estudantes que toda a
área de saúde, que inclui medicina, enfermagem e psicologia,
entre outros. Este grupo conta
com 549 mil alunos.
Os números fazem parte de
um levantamento inédito que
será lançado até o final deste
ano pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais, do Ministério da
Educação), que desenvolveu
um censo do nível superior para cada uma das 27 unidades da
federação.
Os dados gerais do levantamento foram apresentados na
29ª reunião anual da Anped
(Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação), na semana passada, em
Caxambu (MG).
Ciências
Em situação oposta à da administração, que ultrapassou o
meio milhão de alunos, cursos
ligados às ciências não chegam
a 35 mil, casos de física e de química. No mesmo patamar estão
agronomia e veterinária.
"Isso mostra que o país deixou para trás um projeto de desenvolvimento", afirmou à Folha o coordenador do estudo,
Jaime Giolo, responsável pelas
estatísticas da educação superior do Inep.
Para Giolo, o problema não é
ter mais de 600 mil matrículas
em administração, mas, sim,
contar com apenas 32 mil em
agronomia ou 124 em recursos
pesqueiros. "Como seremos líderes em agricultura?", questiona. "E na pesca nossas técnicas não devem ser muito mais
avançadas do que as dos índios
da época do descobrimento."
Avaliação parecida tem a ex-pró-reitora de graduação da
USP Sonia Penin, atual diretora
da Faculdade de Educação da
universidade. "Para o desenvolvimento do país, precisamos
de grandes cientistas. E isso só
ocorrerá se tivermos uma grande massa de profissionais formados nessas áreas."
Hoje, apenas 10,5% dos jovens brasileiros entre 18 e 24
anos estão matriculados no ensino superior. O Plano Nacional de Educação prevê como meta que o percentual seja de
30% até 2011. A análise do Inep
aponta que dificilmente o objetivo será alcançado.
Custos
O estudo liga o desequilíbrio
da distribuição de matrículas à
expansão do ensino superior
no Brasil, que ocorreu principalmente pelas universidades
privadas -o setor detém hoje
71,7% das matrículas. O levantamento do Inep afirma que a
oferta desigual de cursos gerou
um "forte desequilíbrio no panorama das vocações profissionais dos jovens brasileiros".
"As instituições particulares
preferem os cursos mais baratos, porque visam o lucro", disse a presidente da Anped, Márcia Angela da Silva Aguiar, pesquisadora da Universidade Federal de Pernambuco.
O consultor em educação superior privada Carlos Monteiro
está de acordo com a avaliação.
Segundo ele, a estrutura física
do curso de química chega a
custar o dobro do de administração, devido à necessidade de
laboratórios especiais.
Já Paulo Renato Souza, ministro da Educação na gestão
do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), tem
uma posição contrária -foi sob
seu comando que o setor particular teve uma forte expansão.
"Se dobrássemos as vagas de
física ou agronomia, teríamos
procura para isso?", questionou. "O setor privado vai onde
tem demanda por cursos.
Atualmente, os jovens têm
mais segurança em cursos como administração e direito."
O jornalista FÁBIO TAKAHASHI viajou a convite da Anped
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