São Paulo, terça-feira, 23 de outubro de 2007

Próximo Texto | Índice

Presa quadrilha acusada de adulterar leite

Grupo usava produtos como água oxigenada para aumentar o prazo de validade do produto, segundo a Polícia Federal

Dos 27 detidos, 26 são ligados a duas cooperativas mineiras; PF determina a coleta e a análise de amostras em outros Estados

L. Adolfo
Empregados de mercado em Uberaba recolhem leite Centenário

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

RENATA BAPTISTA
DA AGÊNCIA FOLHA

A Polícia Federal prendeu ontem 27 pessoas suspeitas de adulterar leite longa vida integral de várias marcas. A quadrilha, segundo a PF, usava produtos impróprios para o consumo, como água oxigenada e citrato de sódio, para aumentar o prazo de validade do produto.
As prisões ocorreram nas cidades mineiras de Uberaba e de Passos. Dos detidos, 26 são ligados a duas cooperativas, que produziam cerca de 400 mil litros diários de leite (a produção nacional é de 68,5 milhões de litros por dia). O outro é do Ministério da Agricultura.
Entre os presos está um químico de Batatais (353 km de SP), que, segundo a PF, criou a fórmula usada pela cooperativa de Uberaba. O órgão diz que outras cooperativas do país podem usar o mesmo método.
A Direção Geral da PF determinou que sejam recolhidas amostras de leite em comércios locais para detectar se há irregularidades em mais Estados. Segundo o delegado-chefe da PF em Uberaba, Davidson José Chagas, funcionários da Casmil (Cooperativa Agropecuária do Sudoeste Mineiro), de Passos, e Copervale (Cooperativa dos Produtores de Leite do Vale do Rio Grande), de Uberaba, confirmaram a adição de produtos nocivos à saúde no leite.
Na Copervale, a PF apreendeu cerca de mil litros de uma solução aquosa que seria misturada ao leite. A cada litro de leite, cerca de 8% era constituído dessa mistura (água oxigenada, soda cáustica, ácido cítrico, citrato de sódio, sal e açúcar). A fórmula foi para análise.
A professora-doutora Mirna Lúcia Gigante, que estuda a área de tecnologia de leite e derivados na Unicamp, afirma que a mistura possivelmente foi usada para conservar e para aumentar o volume do leite.
Ela cita o citrato de sódio, cujo uso é permitido na fabricação do leite longa vida, e que atua como um conservante.
Mirna diz que outros componentes da mistura podem ter a função de mascarar a adição dos componentes ou manter o PH semelhante ao do leite "puro" para que a indústria não perceba que está comprando um leite modificado.
Edson Credidio, diretor da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia), afirma que a água oxigenada tem um papel muito potente contra "bactérias anaeróbias" (que não utilizam oxigênio ) e que poderia ser usada para camuflar contaminantes bacterianos.
A PF investiga a fraude há quatro meses, acompanhada dos Ministérios Públicos Federal e Estadual, a partir de denúncias. Amostras do leite foram analisadas pelo Ministério da Agricultura.
"O laboratório verificou alta alcalinidade e baixa acidez. O laudo diz que os produtos analisados são impróprios para o consumo humano", diz Chagas.
Segundo ele, um outro laudo que deve indicar a quantidade dos produtos encontrados e possíveis efeitos na saúde ainda não foi entregue à PF.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) diz que vai, preventivamente, monitorar as indústrias que utilizam leite dessas cooperativas.
A gerente de Vigilância em Alimentos da Secretaria da Saúde do Estado, Cláudia Parma, afirma que o departamento não foi notificado para recolher os produtos do mercado.
Segundo ela, o consumidor que sentir alterações na textura ou odor do leite deve comunicá-las à Vigilância Sanitária de cada município mineiro.
A PF afirma também que ao menos três fabricantes compravam o produto das duas cooperativas: Parmalat, Calu e Centenário. O órgão diz que não sabe para onde esse leite era enviado e vendido.
Os investigados deverão responder por crimes de falsificação e adulteração de produto alimentício e formação de quadrilha. As penas podem chegar a até oito anos de reclusão.


Próximo Texto: Parmalat diz que só compra produto cru
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.