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Presa quadrilha acusada de adulterar leite
Grupo usava produtos como água oxigenada para aumentar o prazo de validade do produto, segundo a Polícia Federal
Dos 27 detidos, 26 são
ligados a duas cooperativas
mineiras; PF determina a
coleta e a análise de
amostras em outros Estados
L. Adolfo
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Empregados de mercado em Uberaba recolhem leite Centenário
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA,
EM BELO HORIZONTE
RENATA BAPTISTA
DA AGÊNCIA FOLHA
A Polícia Federal prendeu
ontem 27 pessoas suspeitas de
adulterar leite longa vida integral de várias marcas. A quadrilha, segundo a PF, usava produtos impróprios para o consumo, como água oxigenada e citrato de sódio, para aumentar o
prazo de validade do produto.
As prisões ocorreram nas cidades mineiras de Uberaba e de
Passos. Dos detidos, 26 são ligados a duas cooperativas, que
produziam cerca de 400 mil litros diários de leite (a produção
nacional é de 68,5 milhões de litros por dia). O outro é do Ministério da Agricultura.
Entre os presos está um químico de Batatais (353 km de
SP), que, segundo a PF, criou a
fórmula usada pela cooperativa
de Uberaba. O órgão diz que outras cooperativas do país podem usar o mesmo método.
A Direção Geral da PF determinou que sejam recolhidas
amostras de leite em comércios
locais para detectar se há irregularidades em mais Estados.
Segundo o delegado-chefe da
PF em Uberaba, Davidson José
Chagas, funcionários da Casmil
(Cooperativa Agropecuária do
Sudoeste Mineiro), de Passos, e
Copervale (Cooperativa dos
Produtores de Leite do Vale do
Rio Grande), de Uberaba, confirmaram a adição de produtos
nocivos à saúde no leite.
Na Copervale, a PF apreendeu cerca de mil litros de uma
solução aquosa que seria misturada ao leite. A cada litro de
leite, cerca de 8% era constituído dessa mistura (água oxigenada, soda cáustica, ácido cítrico, citrato de sódio, sal e açúcar). A fórmula foi para análise.
A professora-doutora Mirna
Lúcia Gigante, que estuda a
área de tecnologia de leite e derivados na Unicamp, afirma
que a mistura possivelmente
foi usada para conservar e para
aumentar o volume do leite.
Ela cita o citrato de sódio, cujo uso é permitido na fabricação do leite longa vida, e que
atua como um conservante.
Mirna diz que outros componentes da mistura podem ter a
função de mascarar a adição
dos componentes ou manter o
PH semelhante ao do leite "puro" para que a indústria não
perceba que está comprando
um leite modificado.
Edson Credidio, diretor da
Abran (Associação Brasileira
de Nutrologia), afirma que a
água oxigenada tem um papel
muito potente contra "bactérias anaeróbias" (que não utilizam oxigênio ) e que poderia
ser usada para camuflar contaminantes bacterianos.
A PF investiga a fraude há
quatro meses, acompanhada
dos Ministérios Públicos Federal e Estadual, a partir de denúncias. Amostras do leite foram analisadas pelo Ministério
da Agricultura.
"O laboratório verificou alta
alcalinidade e baixa acidez. O
laudo diz que os produtos analisados são impróprios para o
consumo humano", diz Chagas.
Segundo ele, um outro laudo
que deve indicar a quantidade
dos produtos encontrados e
possíveis efeitos na saúde ainda
não foi entregue à PF.
A Anvisa (Agência Nacional
de Vigilância Sanitária) diz que
vai, preventivamente, monitorar as indústrias que utilizam
leite dessas cooperativas.
A gerente de Vigilância em
Alimentos da Secretaria da
Saúde do Estado, Cláudia Parma, afirma que o departamento
não foi notificado para recolher
os produtos do mercado.
Segundo ela, o consumidor
que sentir alterações na textura
ou odor do leite deve comunicá-las à Vigilância Sanitária de
cada município mineiro.
A PF afirma também que ao
menos três fabricantes compravam o produto das duas
cooperativas: Parmalat, Calu e
Centenário. O órgão diz que
não sabe para onde esse leite
era enviado e vendido.
Os investigados deverão responder por crimes de falsificação e adulteração de produto
alimentício e formação de quadrilha. As penas podem chegar
a até oito anos de reclusão.
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