São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2011

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Em área de preservação, USP Leste recebe caminhões de terra suspeita

Material despejado em terreno da zona leste de São Paulo pode estar contaminado, diz Cetesb

Direção da unidade está aterrando terreno para gramá-lo; reitoria afirma que não foi informada sobre obra

FÁBIO TAKAHASHI
CRISTINA MORENO DE CASTRO

DE SÃO PAULO

Construída numa área de preservação ambiental, a USP Leste recebeu em seu terreno cerca de 480 caminhões de terra durante este ano.
O material, que soma algo em torno de 7.200 m³ de terra, não tem origem comprovada e pode estar contaminado.
Após ser questionada pela Folha sobre o fato, a Cetesb (agência ambiental do Estado) fez nesta semana uma fiscalização no campus, localizado no Parque Ecológico do Tietê, zona leste paulistana. O despejo da terra foi considerado irregular por técnicos.
Eles verificaram que a universidade descumpriu a norma que exige que qualquer movimentação desse tipo seja comunicada à Cetesb. A agência notificou a USP, cobrando a comprovação de origem e da qualidade da terra.
Parte do solo da capital paulista -provável procedência do material- é contaminado com combustíveis (devido aos tanques dos postos), resíduos industriais ou com outras substâncias.
Caso o material despejado na USP Leste tenha mesmo problemas, a contaminação da terra pode chegar a pequenas nascentes e córregos que cruzam toda a região, agravando ainda mais a situação da já poluída bacia do Tietê.

IBIRAPUERA?
O diretor da EACH (nome oficial da unidade), José Jorge Boueri Filho, afirmou inicialmente à Folha que tanto a terra quanto o transporte do material foram providenciados pelo parque Ibirapuera, entre março e maio deste ano.
A Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, responsável pelo parque, no entanto, informou não ter conhecimento de tal doação.
Confrontado com a resposta da prefeitura, o diretor admitiu não ter registro formal da doação. Boueri afirmou que a informação sobre o Ibirapuera havia sido passada por um funcionário seu.
"Se você tem uma terra que os seus assessores falam que é de origem boa e eles doam para cá, você vai falar o quê? Não, não quero?", disse o diretor. "Toda vez que eu botar terra de cobertura vou ter que pedir autorização?"
A reitoria afirmou que sua comissão que acompanha as questões ambientais do campus não foi informada sobre a doação de terra. Disse ainda que vai "apurar detidamente os fatos ocorridos".

INVESTIGAÇÃO
A partir de denúncia anônima, o promotor José Eduardo Ismael Lutti abriu no mês passado inquérito para apurar "depósito de terra com entulho, sem procedência e contaminada, em área de APP [área de preservação permanente] e APA [área de preservação ambiental] no Parque Ecológico do Tietê".
Na investigação, além do diretor da USP Leste, é citada também a construtora Cyrela, pois, segundo a denúncia anônima, a empresa teria despejado no campus terra e entulho de suas obras.
A construtora afirma que "desconhece os fatos narrados no procedimento" e que possui "projeto específico de gerenciamento de resíduos, elaborado de acordo com a legislação vigente".
De acordo com o diretor da USP Leste, o aterro foi feito em uma área que possuía apenas entulhos.
Ele afirma que o local tinha até focos de dengue. Atualmente, a área (de cerca de 36 mil m²) está sendo gramada, segundo o diretor.


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