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São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2003

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NA REAL

Desenvolvimento de tecnologia apropriada para combater o crime eletrônico será uma principais marcas deste século

Guerra à fraude digital será intensificada

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

É guerra.
No século 20, você podia ser furtado. Roubado. Ou assassinado.
No século 21, você também pode ter seus dados vitais emprestados e usados por criminosos anônimos. Bem-vindo à era da fraude digital, do crime eletrônico e da clonagem de identidades.
Seu nome, seu crédito, seu dinheiro, até mesmo seu e-mail pode ser usado por um estranho, que tem como conhecer cada arquivo individual do seu computador dito "pessoal".
"O cartão tinha ficado preso no caixa eletrônico. Esperei uma semana para pedir outro. Só soube que ele tinha sido clonado quando me ligaram avisando que tinham feito saques na minha conta", declara o médico Luiz Roberto Barradas Barata, secretário de Saúde do Estado de São Paulo.
"Meu assessor de imprensa também teve seu cartão do banco clonado recentemente", diz.
Cartões de crédito são ainda mais facilmente clonáveis, pois o proprietário precisa entregá-lo no ato da utilização ao vendedor. Em questão de segundos ele pode ser passado em um aparelho que copia os dados da tarja magnética.
Quando o comportamento dos usuários sai muito do padrão, "em 99,9% dos casos é um clone", segundo o pesquisador Carlos Becker Westphall, do Laboratório de Redes e Gerência da Universidade Federal de Santa Catarina.
Westphall e alunos estudaram clonagem de telefones celulares e criaram técnicas para detectar clones a partir do perfil dos usuários. Os modelos são sofisticados, usam por exemplo as teorias de redes neurais, que tentam aproximar o processamento dos computadores ao cérebro humano. Ou usam os chamados algoritmos genéticos, um híbrido de matemática com processos naturais baseados na evolução biológica.
Algoritmo, em informática, é um "conjunto de regras e operações bem definidas e ordenadas, destinadas à solução de um problema", diz o dicionário Aurélio.
São fundamentais para "criptografar" informações, isto é, transformá-las em código para dificultar o acesso dos criminosos a elas.
Na guerra real a grande coqueluche são as bombas ditas "inteligentes", "smart bombs", capazes de guiagem precisa ao alvo. Na guerra da informação, a nova arma é o "smart card", cartão inteligente, dotado de um microchip bem menos vulnerável que as tradicionais tarjas magnéticas.
As operadoras de celular apostam na segurança proporcionada pelo cartão inteligente Simcard associado com algoritmos de criptografia. "Até hoje não tem comunicado oficial da quebra do sistema GSM", diz Antonio Parrini, diretor de rede da Oi, operadora móvel da Telemar.
Celulares mais antigos são vítimas fáceis. "O sistema analógico é absolutamente vulnerável", diz o pesquisador Paul Jean Etienne Jeszensky, do Laboratório de Comunicações e Sinais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Ele exemplifica com um episódio clássico, de mais de uma década: o caso do príncipe que queria virar absorvente feminino.
O príncipe britânico Charles conversava por celular com sua amante, Camilla Parker-Bowles, e brincou que gostaria de ser um tampax para viver dentro dela. A conversa tinha sido grampeada e foi parar na imprensa popular.
É a segurança que permite criar um ambiente para operar os recursos da rede. "É um tema bom academicamente, como desafio é ótimo", diz Westphall, pois "por mais que se criem mecanismos de segurança, alguém vai e quebra".
Westphall exemplifica com um caso na sua própria universidade. Um aluno de graduação se propôs, como trabalho de conclusão de curso, a descobrir as senhas dos professores. Dos 450 professores que eram seu "alvo", ele só não conseguiu a senha de dois. O motivo: eram os únicos que tinham senhas enormes, com 37 caracteres. O aluno achou que fuçar até 35 dígitos seria suficiente.
"Um funcionário desonesto já deixa a empresa vulnerável. As empresas não costumam divulgar esses casos, mas 75% dos problemas tem como causa uma pessoa interna", declara Westphall.
"Os golpes têm crescido demais na área de internet banking", diz Giordani Rodrigues, editor do InfoGuerra, um pioneiro site dedicado aos temas de segurança e privacidade na rede mundial (http://www.infoguerra.com.br).
O nome do site é significativo. "A tal sociedade da informação vive uma guerra de informação. São os vírus, os boatos, os hackers que deturpam o conteúdo de sites", diz Rodrigues.



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