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São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2003

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ENTREVISTA

Portadores de doença pulmonar cobram programas do governo

DA REPORTAGEM LOCAL

A Associação Brasileira de Portadores de DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) cobra um programa público de assistência aos portadores do problema. Quer ainda que as campanhas antifumo dêem mais destaque para o risco de a fumaça do cigarro gerar um bloqueio das vias aéreas. Mais de 90% dos casos da doença no mundo são relacionados ao tabagismo.
Segundo a associação, o SUS não oferece tratamento completo ainda, apesar de a DPOC ser a quinta causa de morte no país. Na quarta-feira, foi o dia mundial da doença. O Ministério da Saúde informou que realiza um encontro amanhã para discutir políticas para as doenças respiratórias.
"É pior do que o câncer de pulmão", afirma Maria Christina Lombardi Machado, 49, diretora médica da entidade. "E ninguém se preocupa." Leia a seguir trechos de sua entrevista.
 
Folha - Por que um dia mundial para lembrar da DPOC?
Maria Christina Machado
- Definiu-se que a doença é uma questão de saúde pública. Em 90% ou mais dos casos, ela é causada por tabagismo. Como é uma doença sistêmica, provavelmente será uma das três primeiras causas de morte no mundo todo em breve. Hoje é a quarta causa, no Brasil é a quinta. E é pior do que o câncer de pulmão.

Folha - Por quê?
Machado
- É pior em termos de prevalência. Estima-se que no Brasil 15% das pessoas adultas que fumam tenham DPOC. De 50 milhões [de fumantes], seriam 7,5 milhões de portadores. Não temos nem 1 milhão de pessoas com câncer de pulmão. E com DPOC ninguém se preocupa.

Folha - Mas e as campanhas antitabagistas, não fazem isso?
Machado
- As campanhas são feitas por órgãos de cancerologia e cardiologistas. Os pneumologistas estão se mobilizando agora. Isso depende de uma conscientização do Ministério da Saúde. O paciente pode ter câncer de pulmão. Mas vai ter DPOC com câncer. Pode ter um infarto, mas ele vai ter DPOC com infarto.

Folha - Qual é o mecanismo de ação da doença?
Machado
- Você tem as vias aéreas, que são os brônquios, subdividindo até os pequenos bronquíolos e, finalmente, os alvéolos, onde ocorre a troca do oxigênio pelo gás carbônico. Quando a fumaça do cigarro passa pelas vias aéreas, vai causando inflamação crônica, irritando as glândulas que produzem o muco no pulmão. Elas começam a produzir muito catarro. Com isso, o paciente tosse muito. A fumaça também provoca inchaço dos brônquios, o que diminui a passagem do ar. Incham por dentro, o ar entra e não sai. É a bronquite crônica. Quando a fumaça começa a destruir o alvéolo, onde se dá a troca de oxigênio por gás carbônico, temos o enfisema. Há pacientes que vão direto para o enfisema. Alguns só têm bronquite crônica. Mas as duas coisas estão englobadas na doença. O principal sintoma é a falta de ar progressiva.

Folha - E o tratamento?
Machado
- É parar de fumar, usar broncodilatadores, antibióticos, antiinflamatórios, fazer reabilitação pulmonar e fornecer oxigênio nos casos avançados.

Folha - Essas possibilidades são oferecidas pelo sistema público?
Machado
- Nosso principal objetivo é conseguir remédios e oxigênio pelo SUS. Não existe um programa para a doença no país. Os remédios bons são caros. Para pacientes graves, com o oxigênio, são R$ 500 mensais no mínimo. Tratando e dando oxigênio, o número de internações de pacientes, que era de três meses por ano em média, caiu para meia internação por ano, pelo menos na unidade em que trabalho, o Hospital do Servidor Público Estadual, de São Paulo. (FL)


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