São Paulo, quarta-feira, 23 de novembro de 2005

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TURISMO

Equipamento foi retirado por empresa, cujo contrato foi cancelado

Disputa judicial deixa Anhembi sem telefone

FABIO SCHIVARTCHE
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

A empresa oficial de turismo de São Paulo, a SPTuris (antiga Anhembi Turismo), a porta-voz da prefeitura junto aos turistas que visitam a capital, ficou muda no último final de semana. Desde então tenta operar sem sua central telefônica de PABX com 1.200 ramais, que foi retirada na última sexta-feira após uma batalha judicial que envolve suspeitas de irregularidades durante a gestão da ex-prefeita Marta Suplicy (PT).
A queda no sistema de comunicação aconteceu justamente na véspera da Virada Cultural (maratona de eventos culturais durante 24 horas) e de evento de grande porte no pavilhão de exposição do Anhembi.
O equipamento foi retirado pela Global OSI, empresa que prestava serviços de comunicação para a SPTuris até julho deste ano. Ela ganhou na Justiça o direito de reaver o material após alegar que a prefeitura rescindiu unilateralmente o contrato entre ambas.
O contrato, iniciado em 2003, seria de cinco anos. Ao final, as benfeitorias instaladas no Anhembi ficariam com a SPTuris.
O contrato foi rescindido após uma auditoria da SPTuris apontar uma série de irregularidades na escolha da Global OSI (ainda na gestão petista) e na execução dos serviços por ela prestados até julho deste ano. Em resumo, foi constatado que:
1) A escolha da empresa ignorou a exigência de experiência mínima de cinco anos (a Global OSI teria só três anos e meio);
2) Houve falta de equipamentos e outros não tinham qualidade ou estavam obsoletos;
3) Não foram apresentadas notas fiscais relativas a vários serviços prestados, não sendo possível conferir sua execução -há suspeita de que a empresa omitiu parte da receita;
4) A Global OSI subcontratou a empresa RDM para executar parte dos serviços.
Sobre esse último item a auditoria da SPTuris aponta para uma cláusula do contrato que proíbe a Global OSI de subcontratar outra empresa para fazer os serviços.
A Global OSI nega irregularidades e diz que retirou os equipamentos amparada por decisão judicial.

Telefone sem fio
Procurada pela Folha na tarde de ontem, a assessoria de imprensa da SPTuris informou que a retirada da central de PABX prejudicou muito o trabalho do órgão.
No final de semana, a empresa municipal contou com menos de 200 linhas telefônicas cedidas pela empresa expositora. Ontem, já havia obtido mais 160 ramais para uso dos funcionários da sede -ainda muito aquém da necessidade diária de 1.200 linhas, com uma média de 50 mil chamadas por dia. Alguns departamentos continuam mudos.
A falta de outros equipamentos retirados pela Global OSI (telefones, cabos e linhas de transmissão) também comprometeu o tráfego de dados de segurança (informações sigilosas sobre cartões de crédito e de débito) e a conferência de material, provocando uma fila de caminhões que se estendeu até a pista da marginal Tietê, junto ao Anhembi.
A SPTuris, que está colhendo mais provas do que considera irregular para anexar ao processo que tramita no Ministério Público, põe sob suspeita a subcontratação da RDM, cujo proprietário, Rafael Marmo, foi gerente financeiro do Anhembi no ano passado -ainda na gestão petista.
Procurado pela Folha, Marmo disse ontem que a RDM foi desativada em maio deste ano. Mas confirma que até então sua empresa foi subcontratada pela Global OSI para prestar serviços de comunicação no Anhembi. "Mas está tudo dentro da lei", disse.
Hoje, já na administração do prefeito José Serra (PSDB), a avaliação da SPTuris é que pode ter havido pressão política de pessoas ligadas ao governo anterior para que o trabalho fosse repassado a essa empresa.
Corrobora essa tese, segundo a SPTuris, o fato de os três advogados que defendem a Global OSI terem ocupado cargos importantes na gestão Marta.
Uma delas é Anna Emília Cordelli Alves, que foi secretária de Negócios Jurídicos no início do governo petista. A outra é sua ex-chefe-de-gabinete Ilza Defilippi Dias. O terceiro é o ex-ouvidor da polícia paulista, Itajiba Farias Ferreira Cravo -que ocupou cargo no Anhembi nas três administrações municipais que antecederam a de José Serra. Os três negam interferência nos contratos.


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