São Paulo, segunda-feira, 23 de novembro de 2009

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Merenda de Kassab mantém má qualidade

Após quatro meses da assinatura de novos contratos, vistoria acha alimentos vencidos e mofados nos refeitórios de alunos

Fiscalização vê falhas em 22 das 25 escolas; em 3 foram encontrados pombos nos refeitórios; prefeitura diz que erros "são pontuais"

ALENCAR IZIDORO
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Relatórios de fiscalização da merenda escolar de São Paulo revelam que a presença de pombos nos refeitórios onde os alunos comem, excesso de moscas, alimentos vencidos no estoque e ovos mofados são problemas que persistem na rede municipal de ensino.
Falhas diversas, que vão da falta de higiene nas cozinhas à infraestrutura deficiente das unidades, foram flagradas neste semestre, mesmo depois de a gestão Gilberto Kassab (DEM) assinar novos contratos de fornecimento da merenda.
As deficiências afetam inclusive empresas estreantes nesse segmento na capital paulista.
A Folha acompanhou nos últimos quatro meses os balanços de vistorias realizadas pelo CAE (Conselho de Alimentação Escolar) -órgão oficial de fiscalização formado por pais, servidores e professores. Entrevistou agentes, consultou relatórios de visita e fotografias sobre parte dos problemas.
Das 25 escolas fiscalizadas, foram encontradas falhas em 22 -em metade delas, já a partir da vigência dos novos contratos com quatro empresas estreantes e com quatro que já prestavam os serviços antes.
Os problemas mais emblemáticos foram identificados em escolas atendidas pela Nuttriclass (nova, ligada ao grupo Puras) e pela Terra Azul (que já estava no contrato anterior).
A cargo da primeira, por exemplo, os ovos embolorados e a "grande quantidade de pães vencidos" no CEU Parque São Carlos. Ou então, na EMEF José Lins do Rego, as moscas que dominam a cozinha sem telas de proteção de janelas e de portas e a presença de embalagem violada de peito de frango -dentro, havia uma parte diferente da ave, condição considerada suspeita pelos agentes.
A fiscalização também verificou que algumas escolas atendidas não tinham a comprovação dos exames médicos das merendeiras -exigência contratual para evitar a manipulação de alimentos por quem tem alguns tipos de doença.

Granola
Em unidades atendidas pela Terra Azul, além das falhas de higiene (como fezes de pombo no refeitório e "pano imundo e mau cheiroso" em cima do fogão), dois problemas chamaram a atenção dos fiscais.
Na EMEI Laura F. de Leceur, os membros do CAE constataram que havia uma única funcionária para fazer tudo -e que, por isso, não dava conta.
Já na EMEI Enio Correia, as reclamações das crianças sobre a granola muito dura levou a fiscalização a recolher uma amostra. Resultado: a empresa dava aos alunos uma marca de cereal diferente da autorizada e aprovada pela prefeitura.
Os relatórios do CAE apontam que, das 25 escolas, em 3 os conselheiros flagraram a presença de pombos dentro do refeitório dos alunos -justamente no momento da vistoria.
Esse problema já havia sido detectado em visitas realizadas em meses anteriores pelo órgão -sinalizando uma situação que está longe de ser pontual.
A gestão Gilberto Kassab afirma que os problemas identificados pela fiscalização não são generalizados.
Embora admita os riscos, a prefeitura afirma que as empresas só podem ser punidas contratualmente se as aves estiverem na cozinha -e não no refeitório, cujo controle deve ficar a cargo dos próprios servidores. Ela diz orientar as escolas para evitar essa situação.


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