|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
ANÁLISE
Prática do overbooking não é necessariamente um mal em si
CLEVELAND PRATES
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em reunião ontem, governo e companhias aéreas colocaram em discussão potenciais problemas nos aeroportos brasileiros no final deste
ano. Dentre as medidas
anunciadas, destaca-se a decisão de proibir a prática do
overbooking.
O overbooking não é necessariamente um mal em si.
Ao contrário: em vários países, ele é adotado como uma
forma de evitar que as aeronaves decolem com um número de passageiros inferior
ao número de assentos disponíveis.
A questão é que, nesses
países, quando faltam assentos em algum voo, a companhia aérea realiza um leilão
para seus clientes, ofertando
desde passagens adicionais
até dinheiro, com o objetivo
de fazer o ajuste necessário.
Esse modelo evita a decolagem de aeronaves com espaço ocioso e, ao mesmo
tempo, identifica e premia
aqueles consumidores que
teriam disponibilidade para
voar em outro momento.
O problema é que, no caso
brasileiro, as empresas aéreas não procuram abrir um
processo de negociação.
Isso porque o sistema de
fiscalização e de punição no
país não é claro, e, na maioria das vezes, os consumidores não têm o dano reparado
-pelo menos, não em um
prazo razoável.
Esse quadro gera alguns
incentivos perversos: o consumidor desiste de reivindicar seus direitos e as empresas continuam a agir da mesma forma.
Note-se que esse é apenas
parte do problema vivenciado no setor aéreo nacional.
Sobram ainda questões relacionadas à ausência de infraestrutura adequada.
É fato que os investimentos neste setor estão subdimensionados. A questão é
como resolver o problema.
Caberia, por exemplo,
uma análise sobre a conveniência de o Estado permanecer como proprietário e
gestor dos aeroportos.
Um amplo processo de privatização, por exemplo, que
implicasse ganhos significativos de produtividade poderia ajudar.
Ademais, medidas que estimulem a concorrência no
mercado de aviação civil, tais
como um modelo mais pró-concorrencial de redistribuição de slots (direitos de pouso e decolagem nos principais aeroportos do país) e a
revisão das restrições legais
hoje existentes para a participação de capital estrangeiro
nas empresas aéreas seriam
bem-vindas.
O fato é que essas não são
medidas que geram efeito no
curto prazo e que, dado o debate hoje vigente, só nos resta aguardar.
CLEVELAND PRATES é sócio-fundador da
MicroAnalysis Consultoria Econômica e
professor da FGV-Law
Texto Anterior: Perguntas e respostas Próximo Texto: Rubem Alves: Hans Hoekendijk Índice | Comunicar Erros
|