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Einstein vai treinar hospitais públicos para ampliar doação
Instituição firmou um convênio com a Secretaria Estadual da Saúde de SP para capacitar equipes de transplantes
Comunicação da morte encefálica e abordagem aos familiares representam os maiores entraves à doação de órgãos, diz médico
DA REPORTAGEM LOCAL
O Hospital Israelita Albert
Einstein firmou um convênio
com a Secretaria Estadual da
Saúde de São Paulo para capacitar equipes de transplantes
de quatro hospitais públicos, a
partir de janeiro, com o intuito
de aumentar a doação e a captação de órgãos.
O Estado responde por 45%
dos transplantes do país, mas
só consegue captar em torno de
20% dos órgãos doados.
De janeiro até a semana passada, por exemplo, havia no sistema eletrônico da secretaria
1.887 potenciais doadores de
órgãos. Desses, apenas 360 se
transformaram em doadores
viáveis. Dos 1.527 descartados,
547 foram por parada cardíaca
antes da captação, 446 por recusa familiar e o restante por
motivos não especificados.
"Se nós [São Paulo], que temos um dos melhores índices
de captação e doação de órgãos
do país, ainda apresentamos taxas tão baixas, no resto do país,
no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, a situação é muito pior",
diz o médico Ben-Hur Ferraz
Neto, da equipe de transplantes
do Hospital Israelita Albert
Einstein, que vai coordenar o
projeto com a secretaria.
Segundo ele, a idéia é que
profissionais formados e subsidiados pelo Einstein atuem em
instituições com grande potencial de doadores, mas com baixo índice de doações efetivas e
de captação.
Para Ferraz Neto, com capacitação é possível rever as duas
maiores causas de não-doações
efetivas. "Se a comunicação da
morte encefálica é feita tardiamente, por exemplo, a chance
de parada cardíaca é maior, e a
perda do órgão, idem. Mudar
essa situação está nas mãos da
capacitação das pessoas. O
mesmo acontece se treinarmos
as pessoas para abordar adequadamente os familiares de
potenciais doadores."
Caso real
O caso de Marilda Santana,
40, ilustra bem o que médico
quer dizer. No último dia 21 de
novembro, ela foi atropelada
por uma moto em Mauá (Grande SP) e teve morte encefálica
diagnosticada no dia seguinte.
Mesmo abalada com a tragédia, a família não titubeou em
doar os órgãos, porque sabia
que esse era o desejo de Marilda. Mas a equipe da organização de procura de órgãos, de
São Paulo, só chegou ao hospital em Santo André, onde ela
fora internada, sete horas depois do diagnóstico, quando já
não havia condições de aproveitar o coração.
"Eles nos explicaram que o
processo entre a coleta dos órgãos e a liberação do corpo poderia chegar a 72 horas. E que,
depois da captação, a família é
que deveria providenciar a remoção do corpo do IML de São
Paulo para Mauá [onde aconteceria o enterro]", conta Jesualdo Santana, irmão de Marilda.
Com a perspectiva de demorar três dias para poder enterrar a irmã e sem a garantia de
que os demais órgãos ainda seriam viáveis para transplante, a
família desistiu da doação.
Só as córneas, que puderam
ser retiradas no local, foram
aproveitadas.
"Era um desejo da minha irmã que não pôde ser realizado
por falhas do sistema. O governo incentiva a doação, mas,
com essas falhas, fica difícil",
diz Jesualdo.
(CLÁUDIA COLLUCCI)
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