São Paulo, domingo, 23 de dezembro de 2007

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Einstein vai treinar hospitais públicos para ampliar doação

Instituição firmou um convênio com a Secretaria Estadual da Saúde de SP para capacitar equipes de transplantes

Comunicação da morte encefálica e abordagem aos familiares representam os maiores entraves à doação de órgãos, diz médico

DA REPORTAGEM LOCAL

O Hospital Israelita Albert Einstein firmou um convênio com a Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo para capacitar equipes de transplantes de quatro hospitais públicos, a partir de janeiro, com o intuito de aumentar a doação e a captação de órgãos.
O Estado responde por 45% dos transplantes do país, mas só consegue captar em torno de 20% dos órgãos doados.
De janeiro até a semana passada, por exemplo, havia no sistema eletrônico da secretaria 1.887 potenciais doadores de órgãos. Desses, apenas 360 se transformaram em doadores viáveis. Dos 1.527 descartados, 547 foram por parada cardíaca antes da captação, 446 por recusa familiar e o restante por motivos não especificados.
"Se nós [São Paulo], que temos um dos melhores índices de captação e doação de órgãos do país, ainda apresentamos taxas tão baixas, no resto do país, no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, a situação é muito pior", diz o médico Ben-Hur Ferraz Neto, da equipe de transplantes do Hospital Israelita Albert Einstein, que vai coordenar o projeto com a secretaria.
Segundo ele, a idéia é que profissionais formados e subsidiados pelo Einstein atuem em instituições com grande potencial de doadores, mas com baixo índice de doações efetivas e de captação.
Para Ferraz Neto, com capacitação é possível rever as duas maiores causas de não-doações efetivas. "Se a comunicação da morte encefálica é feita tardiamente, por exemplo, a chance de parada cardíaca é maior, e a perda do órgão, idem. Mudar essa situação está nas mãos da capacitação das pessoas. O mesmo acontece se treinarmos as pessoas para abordar adequadamente os familiares de potenciais doadores."

Caso real
O caso de Marilda Santana, 40, ilustra bem o que médico quer dizer. No último dia 21 de novembro, ela foi atropelada por uma moto em Mauá (Grande SP) e teve morte encefálica diagnosticada no dia seguinte.
Mesmo abalada com a tragédia, a família não titubeou em doar os órgãos, porque sabia que esse era o desejo de Marilda. Mas a equipe da organização de procura de órgãos, de São Paulo, só chegou ao hospital em Santo André, onde ela fora internada, sete horas depois do diagnóstico, quando já não havia condições de aproveitar o coração.
"Eles nos explicaram que o processo entre a coleta dos órgãos e a liberação do corpo poderia chegar a 72 horas. E que, depois da captação, a família é que deveria providenciar a remoção do corpo do IML de São Paulo para Mauá [onde aconteceria o enterro]", conta Jesualdo Santana, irmão de Marilda.
Com a perspectiva de demorar três dias para poder enterrar a irmã e sem a garantia de que os demais órgãos ainda seriam viáveis para transplante, a família desistiu da doação.
Só as córneas, que puderam ser retiradas no local, foram aproveitadas.
"Era um desejo da minha irmã que não pôde ser realizado por falhas do sistema. O governo incentiva a doação, mas, com essas falhas, fica difícil", diz Jesualdo. (CLÁUDIA COLLUCCI)


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