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STF determina que Sean volte para os EUA
Para presidente do Supremo Tribunal Federal, filho de brasileira com norte-americano deve ficar com o pai no exterior
Gilmar Mendes cassou liminar que permitia a permanência do menino no Brasil; ministro Marco Aurélio Mello vê "autofagia" do Judiciário
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em mais uma reviravolta, a
Justiça determinou que o menino Sean Goldman, 9, deve ser
entregue ao consulado americano para viajar com o pai americano, David Goldman, ao seu
país de origem.
O presidente do Supremo
Tribunal Federal, Gilmar Mendes, desautorizou ontem o colega Marco Aurélio Mello e cassou a liminar que permitiu à família materna do garoto ficar
com ele até pelo menos fevereiro do próximo ano.
Na semana passada, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região havia determinado, por 3
votos a 0, a entrega do menino
às autoridades americanas no
Brasil. Mas a decisão foi suspensa pelo ministro Marco Aurélio até que o STF analisasse
um pedido da avó materna, Silvana Bianchi, para que o menino fosse ouvido pela Justiça.
Marco Aurélio argumentava
que ficaria muito difícil para a
família brasileira ter Sean de
volta, caso ele fosse levado para
os EUA pelo pai e, no julgamento dessa ação, o Supremo se posicionasse favorável ao pedido.
O presidente do STF, no entanto, argumentou que o caso é
"peculiar" e tem "caráter excepcional". Afirmou que o pedido da família materna não
apontou nenhuma ilegalidade
na decisão do TRF-2 e ainda
alegou que aquele tribunal assegurou um acordo de visitação
entre os parentes brasileiros e
americanos, "para a garantia do
fomento da continuidade das
relações familiares".
Sean viveu nos EUA até os
quatro anos, quando veio ao
Brasil para passar férias com a
mãe, Bruna Bianchi, que morreu em 2008 no parto da segunda filha. Ela tinha autorização
de David Goldman para passar
as férias com o filho no país,
mas, alguns dias depois de desembarcar, avisou ao pai de seu
filho que não iria retornar.
Desde então, a família da brasileira e do americano brigam
na Justiça pela criança. O caso,
inclusive, mobilizou o governo
e a imprensa dos EUA.
Difícil de reverter
Gilmar Mendes julgou dois
mandados de segurança, um
movido pelo pai do garoto e o
outro pela AGU (Advocacia-Geral da União), que manifestava a posição do governo favorável à entrega de Sean.
A partir de agora, fica muito
difícil reverter a situação, já que
qualquer recurso contra a determinação de ontem será analisado pelo próprio Mendes,
que é o responsável, até o final
desta semana, pelo plantão do
STF -que ficará em recesso até
fevereiro de 2010.
A Folha conversou com o
ministro Marco Aurélio Mello
antes de Mendes proferir a decisão no caso. Ainda sem saber
qual seria o desfecho, o ministro caracterizou de "autofagia"
a até então possível cassação de
sua liminar. "A autofagia causa
insegurança jurídica e é contrária, não a quem praticou o
ato, mas à instituição. Sai menor o Supremo", disse.
Apesar de Gilmar Mendes
ser o presidente da Corte, juridicamente, eles possuem equivalência hierárquica.
CNN ao vivo
Nos EUA, a emissora CNN
interrompeu sua programação
ontem para anunciar a decisão
do ministro Gilmar Mendes, favorável ao pai de Sean.
Até a conclusão desta edição,
o senador democrata Frank
Lautenberg não havia se pronunciado sobre se retiraria o
bloqueio à votação de uma lei
de isenção tarifária que beneficia o Brasil, que ele anunciou na
semana passada como retaliação ao caso.
Colaborou SÉRGIO DÁVILA , de Washington
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