|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JUSTIÇA
Casais fizeram exame de sangue ontem para achar bebê trocado em maternidade de Osasco (SP) há cinco anos
Pais dizem que não vão destrocar crianças
MALU GASPAR
da Reportagem Local
Eles dizem já ter pensado em
mudar de cidade, esquecer ou
contestar o resultado do exame de
paternidade. Para esse grupo de 16
casais, o que interessa é não perder as meninas que criam como filhas há cinco anos.
Os casais estiveram ontem no
Imesc (Instituto de Medicina Social e Criminologia) a pedido da
Justiça para ajudar a esclarecer
quem é o bebê trocado numa maternidade de Osasco (Grande São
Paulo) em 1993.
Eles dizem que, mesmo que o
exame de sangue feito ontem
aponte que estão com a filha de
outro, não a entregarão aos pais
verdadeiros.
"Eu faço qualquer coisa, mas
sem minha filha eu não fico. Se
não tiver outro jeito, a gente foge
com ela", diz Conceição da Silva
Celano, 33, mãe de Tatiana.
Ela era uma das mães que estavam com a escriturária Sueli Zaothei Silva, 36, na enfermaria do
Hospital e Maternidade João Paulo 2º em 14 de maio de 93. As filhas
de ambas nasceram naquele dia.
Havia uma greve nos hospitais
da cidade e o João Paulo 2º era um
dos únicos que funcionavam.
No dia seguinte, o hospital chamou o marido de Sueli, Benedito
Leopoldo da Silva Júnior, para avisar que a filha havia morrido ao
nascer. Ele não acreditou: o bebê
que havia morrido ao nascer prematuro não tinha nada a ver com
sua filha Bruna, que nasceu com a
gestação completa e foi vista pela
mãe logo após o parto, chorando.
"Na hora eu vi que não podia ser
a minha filha, mas demorei a perceber que os bebês podiam ter sido
trocados", afirma Silva Júnior.
Procurada ontem pela Folha, a
diretoria do João Paulo 2º não quis
se manifestar sobre o caso.
Saber exatamente o que ocorreu
na maternidade naquele dia e
quem é a filha do casal é o objetivo
de um inquérito policial do 5º Distrito Policial de Osasco que está
protegido por sigilo de Justiça.
Durante as investigações, um
exame de DNA já provou que o bebê morto não era do casal.
O exame de ontem, feito com casais que tiveram filhos nos dias
próximos ao parto de Sueli, vai
apontar se alguma das meninas
que eles criam é o bebê trocado.
Mas ao mesmo tempo em que é a
esperança do casal Sueli e Benedito, o exame tira o sono dos outros
casais há pelo menos um mês,
quando foram chamados para
prestar depoimento na delegacia.
"Quando entendi o que havia
acontecido, tive um choque, me
desesperei. Mas recuperei a confiança e tenho certeza que ela é minha filha. É a cara de todo mundo
lá em casa", diz Maria Rosário Alves da Silva, mãe de Jaiane.
A semelhança física é a maior
prova para esses pais que não têm
como argumentar diante da evidência de que um bebê foi trocado
no hospital naquele dia.
Na sala de espera do exame, todos admitiram estar buscando semelhanças entre pais e filhos para
tentar adivinhar quem é a menina.
"A gente repara, é inevitável. Eu
já vi aqui uns dois ou três que não
parecem muito com os pais. Mas
acho que a criança que essa mulher procura não está aqui", afirma Ademilson Ribeiro da Cruz,
pai de Natani, sua única filha.
O estranhamento entre os pais e
o casal que busca a filha foi imediato. "Vieram perguntar porque
estamos mexendo nisso depois de
tanto tempo. Mas a culpa não é
nossa", diz Sueli, que tem três outros filhos, todos homens.
Diferentemente do marido, que
ficou impassível, ela diz que passou a manhã procurando nos rostos das crianças os traços de sua
família. Os olhos brilham quando
diz que achou uma. "Até me arrepiei quando vi uma menina que é a
cara do meu filho. Fiquei pensando se não era ela", diz.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|