São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2004

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TRANSPLANTE

Caso da candidata a cirurgia foi tratado em e-mails enviados pelo coordenador-geral do sistema nacional

Paciente teve exame acelerado, diz ex-diretor

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

O ex-diretor do Cemo (Centro de Transplante de Medula Óssea) do Inca (Instituto Nacional de Câncer), Daniel Tabak, afirmou ontem que uma paciente de São Paulo teve a realização de seus exames acelerada por pressão do coordenador-geral do SNT (Sistema Nacional de Transplantes), Diogo Mendes.
Segundo Tabak, que centralizava no Cemo as consultas aos bancos internacionais de doadores de medula óssea, essa paciente fez, em menos de um mês, exames que outros da lista com mesmo grau de gravidade e inscritos antes no sistema não haviam feito.
Tabak apresentou como prova quatro e-mails de Mendes em que o coordenador do SNT determina que o Redome (Registro de Doadores de Medula Óssea), vinculado ao Inca, prossiga "imediatamente" com a busca internacional de doadores para a paciente.
"Como explicar que essa paciente, inscrita em 10 de novembro de 2003, teve os exames todos finalizados em 3 de dezembro de 2003, quando foram solicitados os testes confirmatórios?", indaga.
A ordem de prioridade na lista de exames para busca de um doador e de transplantes é definida por um processo complexo e que depende, principalmente, da avaliação de médicos do Centro de Transplante de Medula Óssea do Inca ou dos pacientes.
Um paciente inscrito recentemente pode ter todos os exames realizados antes de outro que espera há mais tempo se o seu caso for de maior gravidade ou se, na avaliação dos médicos e do Cemo, houver mais sucesso na tentativa de encontrar doadores.
Diferentemente do que ocorre com a doação de outros órgãos, o processo de busca de um doador de medula óssea é bem mais complexo e caro. Isso porque é preciso fazer exames sofisticados e buscas internacionais para achar doadores compatíveis com o receptor.
Esses exames custam caro ou exigem do Inca uma infra-estrutura que o instituto não tem para realizar todos os pedidos ao mesmo tempo. É por essa razão que há uma fila para exames que permitem que a busca por um doador seja feita em bancos de dados de vários países.
Por depender de avaliações subjetivas de médicos em que são analisados diversos fatores, é difícil comprovar casos em que alguém tenha passado injustamente na frente de outros pacientes.
O principal argumento de Tabak nesse caso, no entanto, é que esse caso específico foi agilizado não por causa de uma avaliação médica, mas por causa de uma determinação de um alto funcionário do Ministério da Saúde.

Outro lado
Em nota anteontem, o ministério informou que a paciente em questão "aguarda na fila a busca e, portanto, ainda não houve o transplante".
A reportagem da Folha tem tentado falar com Diogo Mendes desde a última quarta-feira, mas a assessoria de imprensa do ministério afirma que ele está em férias, no exterior.


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