São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2004

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FEBEM

Jovem de 18 anos levou tiro na perna em tiroteio ocorrido durante tentativa de fuga anteontem e não resistiu ao ferimento

Morre o 2º interno baleado em unidade

GILMAR PENTEADO
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais um interno da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) morreu em decorrência de um tiroteio ocorrido na madrugada de anteontem, na unidade 3 do complexo Vila Maria, na zona norte de São Paulo.
O jovem de 18 anos não resistiu ao ferimento a bala na perna e morreu anteontem à noite. O outro adolescente, de 17 anos, já havia chegado morto ao hospital.
A própria fundação reconheceu ontem que não chamou ambulância para atender os cinco jovens feridos -três a bala-, que foram levados para o hospital em um veículo da unidade.
Os tiros foram disparados durante uma tentativa de fuga, mas a Polícia Civil ainda não sabe se os autores foram policiais militares ou funcionários da unidade.
A possibilidade de os feridos serem resultado de uma briga entre os internos está praticamente descartada pela polícia. Até agora não há indícios de confronto.

Projéteis
Exames feitos no primeiro adolescente morto mostraram que ele foi atingido por projéteis pouco convencionais. A polícia foi informada que peritos do IML (Instituto Médico Legal) de São Paulo encontraram quatro balins (grãos de chumbo) no corpo do interno. Esses projéteis não são usados nos revólveres .38 e pistolas utilizadas pela Polícia Militar.
Um das suspeitas é que os balins sejam de armas antigas ou artesanais, o que afastaria a suspeita sobre os PMs. A possibilidade de os tiros serem de uma espingarda calibre 12, usada pela PM, é considerada pouco provável já que os ferimentos desse tipo de arma costumam apresentar um número maior de grãos de chumbo.
Segundo a delegada plantonista Denise Prado, do 81º DP (Belém), que comanda a investigação, só um exame do IC (Instituto de Criminalística) de São Paulo esclarecerá a suspeita.
Os policiais militares negam ter feito os disparos. Os funcionários afirmaram que não perceberam tiros na confusão. "Ninguém sabe nada, ninguém viu nada", afirmou a delegada.
De acordo com ela, 25 PMs e agentes da Febem foram ouvidos até ontem. Foram realizados, também segundo a delegada, exames residuográficos para tentar encontrar vestígios de pólvora em 52 pessoas. O resultado deve sair na próxima semana.
A polícia ainda tenta saber o local da unidade onde os adolescentes foram atingidos. "Havia sangue no portão de entrada, nos fundos da unidade e na própria ala", disse Prado. Segundo ela, as várias manchas de sangue podem significar que, mesmo feridos, os adolescentes continuaram andando pela unidade.
Conselheiros tutelares que visitaram ontem a unidade da Febem disseram que os internos responsabilizaram os PMs pelos disparos. "Segundo eles, o tiros partiram dos policiais, não dos agentes", disse Silvia Carnevalli, conselheira tutelar da Mooca.
Os adolescentes feridos não falaram com os policiais que estiveram no hospital. Os 31 internos que teriam participado do tumulto devem ser ouvidos no começo da semana que vem no 81º DP.
Segundo Silvia Carnevalli, conselheiros tutelares e entidades do menor e de direitos humanos se reúnem na segunda-feira para discutir o incidente.
Para o coordenador da comissão municipal dos direitos humanos da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil), Hédio Silva Júnior, "houve, no mínimo negligência da Febem".
Segundo ele, independentemente de serem os PMs ou os agentes os autores dos disparos, o Estado tem de ser responsabilizado pelo episódio. "Vamos acompanhar as investigações e orientar as famílias", disse.


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