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RIO
UPMR é a mais representativa das três entidades de moradores; preocupação dos candidatos é evitar vínculo com tráfico
4 disputam associação da Rocinha amanhã
FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO
Quatro moradores da Rocinha
(zona sul do Rio) disputam amanhã a presidência da UPMR
(União Pró-Melhoramentos da
Rocinha) -a mais representativa
das três associações de moradores
da favela- preocupados em evitar vínculos com o tráfico de drogas. Eles dizem que esperam um
convívio pacífico com os traficantes, desde que o bando local, ligado à facção criminosa CV (Comando Vermelho), não tente interferir na entidade.
Nascidos e criados na Rocinha,
os dois principais candidatos encaram a convivência com o tráfico
como natural. A professora
Adriana Pirozzi, 32, a favorita,
disse que a associação e o tráfico
"são poderes paralelos que caminham lado a lado". Afirmou que,
se eleita, trabalhará na prevenção
ao uso de drogas, mas que "a contenção do que já existe é responsabilidade do poder público".
Para o DJ William de Oliveira,
32, ex-vice-presidente na atual
gestão, o traficante "é um morador normal". Segundo ele, nos
dez meses em que ficou no cargo,
não houve imposições. "Quando
tinha uma decisão que eles não
aceitavam, tentavam um acordo."
Os outros dois candidatos à presidência da entidade são o treinador Abel Gomes, 40 e o ex-fuzileiro naval Carlos José dos Santos.
O tráfico na favela, segundo a
polícia, movimenta cerca de R$ 50
milhões por mês e é o mais rentável do Estado. É comandado por
Luciano Barbosa da Silva, o Lulu,
única liderança solta do CV.
A Rocinha ocupa um espaço
nobre da cidade, em São Conrado, a cerca de 500 m da praia. Em
população e área, equivale ao
principado de Mônaco -56.338
habitantes (censo de 2000) e 1,44
milhão de metros quadrados.
A eleição está sendo encarada
pelos candidatos como um resgate do movimento comunitário
que existia na favela no fim dos
anos 70 e início dos 80. A partir
daí, com a ascensão do tráfico e o
assassinato de dois importantes
líderes, a mobilização diminuiu.
A politização das associações de
moradores, que passaram a atuar
como cabos eleitorais, ajudou a
enfraquecer a ação comunitária.
"Percebo o empenho de jovens
universitários moradores de favelas interessados em recuperar a
memória dessas comunidades",
diz a antropóloga social Lygia Segala, que fez mestrado sobre o trabalho comunitário na Rocinha
entre 1977 e 1984.
Para esta eleição, foi formada
uma comissão eleitoral que elaborou um regulamento e fiscalizará
a votação e a apuração.
A expectativa é que 5.000 moradores (9% da população) votem.
Nas últimas eleições, o número de
eleitores não passou de 2.000. A
quatro dias do pleito, dos 26 moradores ouvidos pela Folha, oito
disseram que não votariam.
As campanhas estão sendo financiadas, oficialmente, por conta própria. A professora Pirozzi
admite que sua candidatura recebeu ajuda financeira de políticos,
mas não revelou o valor nem a
que partido pertencem. O DJ Oliveira diz ter gasto R$ 3.000, doados por comerciantes da região.
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