São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2004

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RIO

UPMR é a mais representativa das três entidades de moradores; preocupação dos candidatos é evitar vínculo com tráfico

4 disputam associação da Rocinha amanhã

FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO

Quatro moradores da Rocinha (zona sul do Rio) disputam amanhã a presidência da UPMR (União Pró-Melhoramentos da Rocinha) -a mais representativa das três associações de moradores da favela- preocupados em evitar vínculos com o tráfico de drogas. Eles dizem que esperam um convívio pacífico com os traficantes, desde que o bando local, ligado à facção criminosa CV (Comando Vermelho), não tente interferir na entidade.
Nascidos e criados na Rocinha, os dois principais candidatos encaram a convivência com o tráfico como natural. A professora Adriana Pirozzi, 32, a favorita, disse que a associação e o tráfico "são poderes paralelos que caminham lado a lado". Afirmou que, se eleita, trabalhará na prevenção ao uso de drogas, mas que "a contenção do que já existe é responsabilidade do poder público".
Para o DJ William de Oliveira, 32, ex-vice-presidente na atual gestão, o traficante "é um morador normal". Segundo ele, nos dez meses em que ficou no cargo, não houve imposições. "Quando tinha uma decisão que eles não aceitavam, tentavam um acordo."
Os outros dois candidatos à presidência da entidade são o treinador Abel Gomes, 40 e o ex-fuzileiro naval Carlos José dos Santos.
O tráfico na favela, segundo a polícia, movimenta cerca de R$ 50 milhões por mês e é o mais rentável do Estado. É comandado por Luciano Barbosa da Silva, o Lulu, única liderança solta do CV.
A Rocinha ocupa um espaço nobre da cidade, em São Conrado, a cerca de 500 m da praia. Em população e área, equivale ao principado de Mônaco -56.338 habitantes (censo de 2000) e 1,44 milhão de metros quadrados.
A eleição está sendo encarada pelos candidatos como um resgate do movimento comunitário que existia na favela no fim dos anos 70 e início dos 80. A partir daí, com a ascensão do tráfico e o assassinato de dois importantes líderes, a mobilização diminuiu.
A politização das associações de moradores, que passaram a atuar como cabos eleitorais, ajudou a enfraquecer a ação comunitária.
"Percebo o empenho de jovens universitários moradores de favelas interessados em recuperar a memória dessas comunidades", diz a antropóloga social Lygia Segala, que fez mestrado sobre o trabalho comunitário na Rocinha entre 1977 e 1984.
Para esta eleição, foi formada uma comissão eleitoral que elaborou um regulamento e fiscalizará a votação e a apuração.
A expectativa é que 5.000 moradores (9% da população) votem. Nas últimas eleições, o número de eleitores não passou de 2.000. A quatro dias do pleito, dos 26 moradores ouvidos pela Folha, oito disseram que não votariam.
As campanhas estão sendo financiadas, oficialmente, por conta própria. A professora Pirozzi admite que sua candidatura recebeu ajuda financeira de políticos, mas não revelou o valor nem a que partido pertencem. O DJ Oliveira diz ter gasto R$ 3.000, doados por comerciantes da região.


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