São Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

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Polícia liga ONG a seqüestro de repórter

Três integrantes da ONG Nova Ordem foram presos acusados de ter dado apoio logístico ao crime contra profissionais da TV Globo

Polícia também prendeu a advogada Iracema Vasciaveo, que negociou com os chefes do PCC o fim dos ataques no ano passado

Eduardo Knapp - 12.jul.06/Folha Imagem
Ivan Raymondi Barbosa, ex-policial e presidente da ONG


ANDRÉ CARAMANTE
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

A polícia prendeu ontem três pessoas sob a acusação de participação no seqüestro do jornalista Guilherme de Azevedo Portanova, 30, e do auxiliar-técnico Alexandre Coelho Calado, 27, ambos da TV Globo, entre 12 e 14 de agosto de 2006.
Todos os presos têm ligação direta com a ONG Nova Ordem, que atua em parte dos 144 presídios paulistas.
Foram presos o ex-policial e ex-presidiário Ivan Raymondi Barbosa, presidente da ONG, Simone Barbaresco, funcionária da entidade e mulher de um detento ligado ao PCC, e Anderson Luís de Jesus. Eles são acusados de ter dado apoio logístico para o seqüestro, repassando informações e ordens recebidas de dentro das prisões onde a facção atua.
A advogada Iracema Vasciaveo, diretora jurídica da Nova Ordem, também é investigada pelo seqüestro, mas acabou presa em flagrante, ontem, por porte ilegal de arma. De acordo com a polícia, ela portava um revólver sem documentação e com registro de furto.
Apontada pela polícia como a verdadeira diretora-executiva da ONG, Iracema também será acusada pelo crime de estelionato. Uma parte da investigação está voltada para descobrir se a advogada ajudava o PCC a utilizar contas bancárias, em nomes de laranjas, para lavar dinheiro da facção.

Negociadora do governo
A advogada é a mesma que, em 14 de maio de 2006, terceiro dia da primeira onda de ataques do PCC contra o Estado, foi autorizada pelo então governador Cláudio Lembo (PFL) a embarcar num avião da PM e pedir o fim dos ataques para os chefes do PCC, presos no CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes (589 km de SP).
Na aeronave da polícia, voaram para negociar com os líderes do PCC, além de Iracema, o delegado José Luiz Cavalcante e o corregedor da SAP (Secretaria da Administração Penitenciária), Antonio Ruiz Lopes.
Ao falar ontem sobre a prisão dos quatro integrantes da ONG, o delegado Rui Ferraz Fontes disse que não iria apresentar as provas reunidas contra os acusados para "não atrapalhar o andamento das investigações".
Outros dois homens também são procurados pela polícia, que baseou em escutas telefônicas a investigação que levou aos acusados presos.
A ONG foi criada em 2005 sob a justificativa de desenvolver atividades de recuperação dos presos. É investigada pelo Ministério Público desde julho de 2006 sob a suspeita de ligação com a facção criminosa.

O vídeo da facção
Portanova e Calado foram seqüestrados em agosto de 2006 para que um vídeo com um comunicado do PCC fosse exibido pela emissora.
O CD com a gravação chegou à TV Globo pelas mãos de Calado, que foi libertado por volta das 22h30 do dia 12 de agosto, a menos de um quilômetro da sede da emissora, na zona sul de São Paulo.
A TV Globo atendeu às exigências da facção criminosa, exibiu o vídeo no início da madrugada do dia 13, e, na madrugada seguinte, Portanova também foi libertado do cativeiro.


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