São Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

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Preso ex-chefe de grupo de elite da PM do RJ

Suspeito de comandar esquema de extorsão a traficantes, Fragoso comandava, até a semana passada, o Grupamento Especial Tático Móvel

Policial há 20 anos, ele recebeu a medalha Tiradentes, a maior condecoração da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

O major Carlos Alberto Cardoso Fragoso, até semana passada comandante do Grupamento Especial Tático Móvel, unidade de elite da Polícia Militar do Rio, foi preso ontem acusado de comandar um esquema de extorsão a traficantes da favela do Muquiço (zona norte).
Policial há 20 anos, ele foi agraciado com a medalha Tiradentes, maior condecoração da Assembléia Legislativa do Rio.
Ele foi preso em uma operação da Corregedoria da Polícia Militar com a Polícia Federal.
A prisão faz parte da Operação Tingüi, da PF, responsável pela detenção de 76 PMs em dezembro de 2006. Foi a maior captura coletiva de policiais da história da corporação, sob a acusação de haver esquema de extorsão, apoio e negociação com traficantes. Ontem, também foram presos três PMs do 9º Batalhão, sob a mesma acusação contra o major.
Segundo a PF, Fragoso foi apontado por um subordinado já preso e apareceu em gravações telefônicas como o chefe do esquema de proteção a criminosos do Muquiço. Numa gravação, um policial diz a um traficante que "metade da merenda é do major", referindo-se a uma propina.
Ele foi afastado na semana passada do comando do Getam, por motivos administrativos, de acordo com a PM. O Getam, do qual o major havia sido também subcomandante, já tinha dez policiais presos pela Operação Tingüi, acusados de integrar quadrilha com esse fim.
A mulher do oficial, Kelaine, estava ao seu lado no momento da prisão, no quartel. "Ele não negocia com bandido, não é bandido. Pode perguntar a qualquer oficial na PM, até ao comandante. Não há indenização que pague meu marido ser humilhado na frente da tropa por algo que não fez", disse à Folha, chorando ao telefone.
Após ser detido, o major foi levado, sem algemas, para prestar depoimento na sede da PF no Rio. Ele seria mantido preso no Grupamento Especial de Policiamento de Estádios.
O ex-comandante do Getam recebeu em maio de 2006 a medalha Tiradentes. Semana passada, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, também recebeu a honraria. O deputado Ely Patrício (PSDC) justificou o gesto dizendo que Fragoso é uma "pessoa proba, portadora de um caráter exemplar e possuidora de preciosas virtudes".
Ao ser informado da prisão, ontem, o deputado disse ter conhecido o oficial por meio de um sargento que trabalha com ele e o indicou para receber a medalha. Disse estar "surpreso" e considera até retirar a homenagem feita. "Não seria contra [retirar], não."
Não é a primeira vez que o Getam, grupamento de elite da PM criado em 99, tem oficiais envolvidos em denúncias de corrupção em favelas.
Em 2003, o tenente-coronel José Carlos Dias de Azevedo -então comandante regional do Getam- foi condenado a três anos de prisão, com o major Fábio Gutman e o capitão Wellington Medeiros -pena de quatro anos- por extorsão. Eles teriam pedido R$ 120 mil a criminosos da Cidade de Deus para evitar reprimir o tráfico.
Segundo a página da PM na internet, o Getam -unidade operacional de elite- foi criado em 1999, com o fim de "isolar e extinguir as manchas criminais", com "ações táticas, em áreas onde tenha comprovado aumento de determinado delito, e atuação coordenada e qualificada de um grupo de PMs especialmente treinados".
Como unidade de elite, é diretamente subordinado ao Comando de Policiamento da Capital (CPC), desde 2002, como um batalhão de área.


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