São Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

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"Não sei se fui heroína, pelo filho a gente faz tudo"

JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO

GABRIEL BATISTA
DO "AGORA"

A rua Antônio Scarabucci, no bairro Santa Cruz, em Franca (400 km de São Paulo), já não é a mesma desde anteontem. O movimento de repórteres, vizinhos e curiosos é voltado para a casa da sapateira Márcia Jerônima Campos, 36. De uma mãe que buscava água para abastecer a casa, Márcia tornou-se heroína na cidade ao pular em uma espécie de poço de uma obra abandonada para salvar o filho Gabriel, 7. Como o garoto, Márcia não sabe nadar.
Falta água em Franca desde o fim de semana porque quatro máquinas de captação foram danificadas pela chuva. Para a família poder tomar banho, ela foi buscar água no poço. Gabriel se debruçou e caiu, e a mãe logo pulou para agarrá-lo.
Um idoso segurou o braço de Márcia para ela não afundar. O motorista Wilson Batista de Moura, que estava com o fotógrafo que registrou a cena, retirou o menino da água. Em seguida, eles puxaram a mãe. Após o susto, veio a fama. A sapateira, que sustenta os três filhos com renda mensal de R$ 295, concedeu entrevistas e ontem viajou a São Paulo com os filhos e uma prima para participar de um programa de TV.
À Folha, Márcia falou por telefone. Tímida, disse ter ficado surpresa com a fama e que na hora em que viu o filho na água entrou em desespero, mas não pensou em nada além de salvá-lo. Católica, atribui o episódio à sua fé em Deus.
Também criticou o fotógrafo Tiago Brandão, 24, do jornal "Comércio da Franca". Ela afirma que ele poderia ter ajudado a tirar o menino da água. "Eu não sabia se esganava o fotógrafo ou se pegava o meu filho. Se tivesse uma pedra na mão, jogava nele", disse Márcia ontem, já rindo do susto. A seguir, trechos das entrevistas.

 

FOLHA - Como aconteceu o acidente em Franca?
MÁRCIA JERÔNIMA CAMPOS
- Eu estava pegando água com meus três filhos [Pedro, 9, e os gêmeos Daniel e Gabriel, 7], porque está faltando água na cidade. Foi tudo coisa de minuto. Quando vi, ele já tinha caído na água. O poço tinha muito ferro da construção, água suja e peixe.

FOLHA - A senhora não ficou com medo?
MÁRCIA
- Eu não pensei em mais nada, minha reação foi de pular lá dentro. Comecei a gritar por socorro. A gente fica em desespero, mas eu fiquei com medo que ele engolisse água, porque ele não sabe nadar.

FOLHA - A senhora sabe nadar?
MÁRCIA
- Não sei. Mas nessa hora a gente não tem medo, nem pensa em nada. Acho que é atitude de mãe mesmo. Eu não fiquei com medo, porque sou confiante em Deus. Acho que é a força de Deus, da fé que eu tenho nele, porque nunca na vida me aconteceu nada de errado ou ruim.

FOLHA - Depois do susto, a senhora virou heroína na cidade. O que pensa desta fama repentina?
MÁRCIA
- Ah, eu recebi muitas visitas de repórteres, dos vizinhos que vieram ver a gente. Só o apoio das pessoas já está sendo legal. Não sei se fui heroína, mas pelo filho a gente faz tudo.


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