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"Não sei se fui heroína, pelo filho a gente faz tudo"
JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO
GABRIEL BATISTA
DO "AGORA"
A rua Antônio Scarabucci, no
bairro Santa Cruz, em Franca
(400 km de São Paulo), já não é
a mesma desde anteontem. O
movimento de repórteres, vizinhos e curiosos é voltado para a
casa da sapateira Márcia Jerônima Campos, 36.
De uma mãe que buscava
água para abastecer a casa,
Márcia tornou-se heroína na
cidade ao pular em uma espécie
de poço de uma obra abandonada para salvar o filho Gabriel,
7. Como o garoto, Márcia não
sabe nadar.
Falta água em Franca desde o
fim de semana porque quatro
máquinas de captação foram
danificadas pela chuva.
Para a família poder tomar
banho, ela foi buscar água no
poço. Gabriel se debruçou e
caiu, e a mãe logo pulou para
agarrá-lo.
Um idoso segurou o braço de
Márcia para ela não afundar. O
motorista Wilson Batista de
Moura, que estava com o fotógrafo que registrou a cena, retirou o menino da água. Em seguida, eles puxaram a mãe.
Após o susto, veio a fama. A
sapateira, que sustenta os três
filhos com renda mensal de R$
295, concedeu entrevistas e ontem viajou a São Paulo com os
filhos e uma prima para participar de um programa de TV.
À Folha, Márcia falou por telefone. Tímida, disse ter ficado
surpresa com a fama e que na
hora em que viu o filho na água
entrou em desespero, mas não
pensou em nada além de salvá-lo. Católica, atribui o episódio à
sua fé em Deus.
Também criticou o fotógrafo
Tiago Brandão, 24, do jornal
"Comércio da Franca". Ela afirma que ele poderia ter ajudado
a tirar o menino da água. "Eu
não sabia se esganava o fotógrafo ou se pegava o meu filho.
Se tivesse uma pedra na mão,
jogava nele", disse Márcia ontem, já rindo do susto.
A seguir, trechos das entrevistas.
FOLHA - Como aconteceu o acidente em Franca?
MÁRCIA JERÔNIMA CAMPOS - Eu estava pegando água com meus
três filhos [Pedro, 9, e os gêmeos Daniel e Gabriel, 7], porque está faltando água na cidade. Foi tudo coisa de minuto.
Quando vi, ele já tinha caído
na água. O poço tinha muito
ferro da construção, água suja e
peixe.
FOLHA - A senhora não ficou com
medo?
MÁRCIA - Eu não pensei em
mais nada, minha reação foi de
pular lá dentro. Comecei a gritar por socorro.
A gente fica em desespero,
mas eu fiquei com medo que ele
engolisse água, porque ele não
sabe nadar.
FOLHA - A senhora sabe nadar?
MÁRCIA - Não sei. Mas nessa
hora a gente não tem medo,
nem pensa em nada. Acho que é
atitude de mãe mesmo. Eu não
fiquei com medo, porque sou
confiante em Deus. Acho que é
a força de Deus, da fé que eu tenho nele, porque nunca na vida
me aconteceu nada de errado
ou ruim.
FOLHA - Depois do susto, a senhora
virou heroína na cidade. O que pensa desta fama repentina?
MÁRCIA - Ah, eu recebi muitas
visitas de repórteres, dos vizinhos que vieram ver a gente. Só
o apoio das pessoas já está sendo legal. Não sei se fui heroína,
mas pelo filho a gente faz tudo.
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