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Para Serra, fogo pode ter sido criminoso
O governador citou o fato de o incêndio ter ocorrido em uma sala fechada e disse que essa hipótese será investigada
Os sindicatos dos médicos e dos funcionários criticaram a declaração do governador sobre sabotagem, dizendo que isso gera insegurança
MARINA GAZZONI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O governador de São Paulo,
José Serra (PSDB), afirmou ontem que o incêndio que atingiu
uma sala do HC (Hospital das
Clínicas) ontem de manhã pode ter sido "provocado", e não
acidental. O HC faz parte da rede estadual de saúde.
"O incêndio foi numa sala fechada, sem elementos de combustão. Existe a hipótese, que
vai ser investigada, de que foi
provocado", afirmou o governador em entrevista coletiva.
A Folha apurou que, no governo, existe suspeita de sabotagem porque o incêndio não
teve uma causa relacionada
com a engenharia e a manutenção do prédio.
Essa suspeita baseia-se no
fato de que alguns setores tiveram seus interesses contrariados pela direção do hospital.
Há, por exemplo, funcionários descontentes com medidas de moralização adotadas
pela direção do hospital, como
exigência de cumprimento da
jornada de trabalho.
Além disso, cerca de 300 funcionários aposentados foram
demitidos no fim do ano passado, porque acumulavam aposentadoria e salário da ativa.
Por fim, foi feita uma revisão
dos contratos do hospital, incluídos os de terceirização de
pessoal (prestação de serviços).
Provocação
Na entrevista coletiva, Serra
acusou o PT -partido que faz
oposição ao governo estadual-
de influenciar o Sindicato dos
Funcionários e Servidores do
Hospital das Clínicas.
De manhã, a entidade tinha
afirmado que pediria a interdição do prédio até que fossem
realizadas obras de segurança
-à tarde, após uma reunião
com a superintendência do HC,
voltou atrás.
"O sindicato lá é petista. Essa
manifestação é atitude de
quem torce pelo pior e age com
base em provocação para enfraquecer a diretoria do HC. Isso é provocação petista", disse
Serra. "Toda vez que um dirigente sindical falar, é interessante ver a que partido pertence e qual é o esquema político
que está procurando servir."
Itamar Marinho da Costa,
presidente do sindicato dos
funcionários, diz que "não faz
política com a desgraça dos outros" e que Serra está mal assessorado. Sobre a questão da
sabotagem, o sindicalista disse
que a declaração é precipitada.
A hipótese de incêndio "provocado" foi criticada também
pelo Sindicato dos Médicos de
São Paulo. Para o presidente da
entidade, Cid Carvalhaes, a declaração do governador foi "infeliz e inadequada".
"O governador não pode pura
e simplesmente lançar uma
suspeita, sem fundamento nem
explicação. Isso gera ainda
mais insegurança", afirmou.
"A declaração foi inoportuna,
extremamente inábil e não se
justifica. O que se espera de um
governador é maior sensatez",
acrescentou Carvalhaes.
O Sindicato dos Médicos solicitou uma reunião com os dirigentes do Hospital das Clínicas
para saber das condições de segurança do edifício.
"Já havíamos pedido explicações logo após o primeiro incêndio [no dia 24 de dezembro], mas até hoje não tivemos
resposta. Se não obtivermos explicação, vamos acionar o Ministério Público e o Judiciário."
Obras
Em nota, o HC afirmou que
as obras para a recuperação da
rede elétrica danificada no incêndio de dezembro foram iniciadas ontem. O investimento
previsto é de R$ 2,78 milhões, e
o prazo de entrega, abril.
Os promotores José Carlos
de Freitas e Anna Trotta Yaryd
farão hoje uma inspeção no HC
acompanhados de técnicos dos
Bombeiros e do IPT (Instituto
de Pesquisas Tecnológicas).
Se for constatada necessidade de obras emergenciais, devem acionar a Justiça para pedir a liberação "imediata" de
verba. Desde 2005, a promotoria investiga a falta de segurança no prédio e cobra reformas.
Colaborou CINTHIA RODRIGUES
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