São Paulo, quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

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PM é suspeito de usar de propósito munição real em simulação em MT

RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

A Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público de Mato Grosso contra o soldado Cleber dos Santos, da Polícia Militar, apontado como o autor dos disparos que mataram um estudante de 13 anos e feriram outras nove pessoas durante uma operação que simulava um seqüestro a um ônibus em Rondonópolis (220 km de Cuiabá), em abril do ano passado.
Segundo a denúncia dos promotores, o policial, insatisfeito por ter sido designado para a tarefa, trocou intencionalmente a munição de festim que seria usada por cartuchos verdadeiros: "Movido pela insatisfação contra a determinação para participar de apresentações como a que iria acontecer naquele dia, [Santos] intencionalmente trocou as munições antimotim da arma que levava consigo por munições reais". A acusação é de homicídio doloso, duplamente qualificado.
O objetivo da PM era simular a libertação de reféns em um ônibus. A encenação seria o ponto alto de um mutirão comunitário na periferia. Antes de deixar o quartel, segundo o Ministério Público, Santos verificou sua arma e, diante de dois outros policiais, carregou a munição de festim.
Centenas de pessoas, a maioria crianças, se aglomeravam em torno do ônibus. Em meio a dezenas de disparos de festim, cinco tiros foram reais. Um deles atingiu a cabeça do estudante Luiz Henrique Dias Bulhões, 13, que morreu na hora. Outras nove pessoas caíram feridos. Em dezembro, um laudo técnico concluiu que o disparo que matou o estudante partiu da escopeta calibre 12 de Souza.

Provas
O relatório do Inquérito Policial Militar concluiu, em agosto, que um comandante, um tenente e um capitão da PM de Rondonópolis também deveriam ser indiciados no caso.
De acordo com a investigação, o então comandante da regional Sul da PM, tenente-coronel Wilquerson Sandes, não tomou medidas previstas no Código de Processo Penal Militar para a preservação do local e de eventuais provas do crime.
Segundo o inquérito, o tenente Gyancarlos Cabelho determinou a retirada do ônibus do local, quando ainda havia provas a recolher, e o capitão Hender Ulisses levou-o até o pátio do 5º Batalhão.
Eles não foram denunciados pelo Ministério Público. Respondem apenas a processos na Justiça Militar. Os três não foram localizados ontem.
A Folha também não conseguiu falar com o soldado Cleber dos Santos. A reportagem tentou contato com a assessoria da PM à noite, mas não conseguiu falar com ninguém.


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