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Estrangeiros reclamam do excesso de cor preta
VITOR ÂNGELO
COLUNISTA DA FOLHA
Escureceu na São Paulo Fashion Week, com a predominância de looks pretos nas passarelas. Para jornalistas e críticos
estrangeiros convidados para o
evento, esse velório não combina com espírito dos brasileiros
e a maneira como a moda do
país é vista no exterior.
""A cor preta não faz o menor
sentido aqui no Brasil, embora
faça muito sentido pra mim",
diz a blogueira inglesa de moda
Diane Pernet, que sempre está
vestida de negro da cabeça aos
pés. "Os brasileiros são tão
cheios de energia, cores, texturas, estampas, grafismos, que
toda essa quantidade de preto
na passarela parece estar fora
da realidade do próprio país."
Para a editora de moda da
"Harper's Bazaar" de Dubai,
Sarah Ross, a presença maciça
dessa cor na passarela é culpa
da recessão. "É uma cor fácil de
vender, combina com tudo", reflete. Pela primeira vez no Brasil, ela diz ter ficado um pouco
decepcionada, pois esperava
mais estampas e cores. "Num
país tropical como o Brasil, o
preto não esquenta muito?",
pergunta.
Identidade
"Está claro que a SPFW segue a tendência internacional,
pois são essas cores [preto e
neutras] que nós vamos ver na
temporada de inverno lá fora",
afirma Paula Mateus, da "Vogue" de Portugal. Mesmo assim, a editora se mostra "muito
surpresa" com o negrume das
criações brasileiras -o estilista
Lino Villaventura chegou a fazer um desfile com todas as
roupas em tons negros.
Graciela Maya, da "Elle" da
Argentina, gostaria que os estilistas brasileiros apostassem
mais "na sua identidade e nas
suas cores até para se diferenciar nesse mundo tão globalizado". Para ela, "os brasileiros
têm as cores incorporadas no
seu jeito de ser".
Foram convidados 130 jornalistas e 29 compradores estrangeiros para a SPFW. Para estes,
mais ligados ao produto que à
imagem, a onipresença do preto parece não importar. "Venho
aqui pelo design. Se for um pretinho básico Chanel ou do Reinaldo Lourenço, a consumidora alemã vai estar mais atenta à
qualidade do produto, não importa a grife", garante Ruth
Stocker, da loja alemã que leva
o seu nome.
O indiano Pradeep Hirani, da
loja Kimaya, que vende nos
Emirados Árabes e na Índia,
também diz não se incomodar
com a questão e que, apesar de
comprar alguns looks em preto,
seus olhos brilham mesmo
quando vê roupas com estampas. "É isso que a gente espera
do Brasil", exclama.
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