São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2009

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Estrangeiros reclamam do excesso de cor preta

VITOR ÂNGELO
COLUNISTA DA FOLHA

Escureceu na São Paulo Fashion Week, com a predominância de looks pretos nas passarelas. Para jornalistas e críticos estrangeiros convidados para o evento, esse velório não combina com espírito dos brasileiros e a maneira como a moda do país é vista no exterior.
""A cor preta não faz o menor sentido aqui no Brasil, embora faça muito sentido pra mim", diz a blogueira inglesa de moda Diane Pernet, que sempre está vestida de negro da cabeça aos pés. "Os brasileiros são tão cheios de energia, cores, texturas, estampas, grafismos, que toda essa quantidade de preto na passarela parece estar fora da realidade do próprio país."
Para a editora de moda da "Harper's Bazaar" de Dubai, Sarah Ross, a presença maciça dessa cor na passarela é culpa da recessão. "É uma cor fácil de vender, combina com tudo", reflete. Pela primeira vez no Brasil, ela diz ter ficado um pouco decepcionada, pois esperava mais estampas e cores. "Num país tropical como o Brasil, o preto não esquenta muito?", pergunta.

Identidade
"Está claro que a SPFW segue a tendência internacional, pois são essas cores [preto e neutras] que nós vamos ver na temporada de inverno lá fora", afirma Paula Mateus, da "Vogue" de Portugal. Mesmo assim, a editora se mostra "muito surpresa" com o negrume das criações brasileiras -o estilista Lino Villaventura chegou a fazer um desfile com todas as roupas em tons negros.
Graciela Maya, da "Elle" da Argentina, gostaria que os estilistas brasileiros apostassem mais "na sua identidade e nas suas cores até para se diferenciar nesse mundo tão globalizado". Para ela, "os brasileiros têm as cores incorporadas no seu jeito de ser".
Foram convidados 130 jornalistas e 29 compradores estrangeiros para a SPFW. Para estes, mais ligados ao produto que à imagem, a onipresença do preto parece não importar. "Venho aqui pelo design. Se for um pretinho básico Chanel ou do Reinaldo Lourenço, a consumidora alemã vai estar mais atenta à qualidade do produto, não importa a grife", garante Ruth Stocker, da loja alemã que leva o seu nome.
O indiano Pradeep Hirani, da loja Kimaya, que vende nos Emirados Árabes e na Índia, também diz não se incomodar com a questão e que, apesar de comprar alguns looks em preto, seus olhos brilham mesmo quando vê roupas com estampas. "É isso que a gente espera do Brasil", exclama.


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