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Moradores se mobilizam contra shopping de luxo
Vizinhos do Cidade Jardim (zona oeste) querem barrar obra de nova rua na região
Incorporadora estuda criar rua para encurtar o trajeto de quem mora no complexo residencial e comercial
até a marginal Pinheiros
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Transtornos causados pelo
aumento do trânsito e pela falta
de controle na segurança na região do shopping Cidade Jardim, na zona oeste, levaram
moradores abastados da vizinhança a entrar com uma representação contra a incorporadora JHSF. Além do shopping de luxo, a empresa finaliza
nove torres residenciais e três
comerciais no local.
Os moradores afirmam que
as ruas estreitas do bairro não
comportam a quantidade de
veículos que passou a transitar
por ali; queixam-se da ocupação das calçadas pelos carros e
do tráfego na contramão por
motoristas à procura de saídas
mais rápidas pelo bairro.
"Só nas torres residenciais há
1.300 vagas de garagem. Esses
carros entram e saem por uma
rua que tem cerca de oito metros de largura", afirma o presidente da Associação Moradores Cidade Jardim Panorama
(AMCJP), Juarez Alvarenga.
Retorno
Como o primeiro retorno para o centro é na ponte Octavio
Frias de Oliveira, o visitante do
shopping é obrigado a percorrer quase oito quilômetros indo
até lá e voltando até a ponte Cidade Jardim: para encurtar o
trajeto, a JHSF estaria pensando em pavimentar uma subida
que ligasse a marginal ao bairro, num terreno ao lado do
shopping, de sua propriedade.
A assessoria da JHSF nega a
intenção. Uma funcionária da
Subprefeitura do Butantã diz
que "eles vão abrir a rua, sim,
mas é melhor perguntar na Sehurb (Secretaria municipal de
Habitação e Urbanismo)". A
Sehurb recomenda falar com a
Secretaria de Habitação (Sehab). A Sehab não diz nada.
De acordo com Alvarenga, a
JHSF planejou receber 5.000
carros/dia no shopping, mas o
difícil acesso fez esse número
cair para 2.000/dia. A JHSF
não divulga a informação "por
se tratar de um dado estratégico do negócio".
Assaltos
Além dos problemas de trânsito, o aumento de circulação
de pessoas e veículos deixou a
segurança do bairro vulnerável.
"Sofremos assaltos reincidentes", diz Alvarenga. Ele afirma que o trânsito de criminosos foi facilitado por um acesso
à favela Jardim Panorama, vizinha ao shopping, pela marginal; aberto e pavimentado pela
JHSF, o acesso dá em uma rua
que atravessa a favela e acaba
no bairro.
Inspirado no Bal Harbour, de
Miami, o shopping é frequentado pelos queixosos. "Gostamos
de ir lá. Mas é um empreendimento muito grande para a região", afirma Carlos Alberto
Laurito, da associação.
Os moradores querem a paralisação da obra das torres comerciais (já que as residenciais
estão praticamente concluídas), até que se elabore um estudo de impacto de vizinhança.
A JHSF alega que o estudo de
impacto da vizinhança já foi
realizado. Argumenta que o
empreendimento está dentro
da Operação Urbana Água Espraiada, de 2001, cuja lei exige a
apresentação prévia do estudo.
"As obras são dispensadas da
realização de relatório de impacto de vizinhança, de acordo
com os decretos 34.713/94,
36.613/96 e 44.845/2004",
afirma, em nota, a construtora.
A promotora de habitação e
urbanismo Joiese Salles não
acha que um estudo de impacto
feito para toda uma operação
urbana sirva para avaliar um
empreendimento em particular. Ela firmou um termo de
ajuste de conduta (TAC), para a
realização do estudo.
A JHSF apresentou o estudo
de impacto de vizinhança, mas
sem convocar audiência pública. A empresa diz que isso é
atribuição da Secretaria de Habitação. A assessoria do Ministério Público afirma que é responsabilidade da empresa que
elaborou o estudo.
A Sehab informa que encaminhou o documento para a
Câmara Técnica de Legislação
Urbanística (CTLU), que se
reúne uma vez por mês.
Pelo decreto de 1996, citado
pela JHSF, empreendimentos
comerciais com mais de 60 mil
m2 devem apresentar o estudo
de impacto (ainda que estejam
dentro de operações urbanas).
A área computável do empreendimento, em pelo menos
um alvará a que a Folha teve
acesso (há mais de um), de
2008, é 151.353,68 m2.
A associação de moradores
afirma que a JHSF só conseguiu a liberação da obra porque
não pediu a aprovação do conjunto dos prédios, mas de um
por um, para caber no decreto.
A JHSF afirma que a obra toda tem 71 mil m2.
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