São Paulo, sábado, 24 de fevereiro de 2001

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O PODER DO CRIME

Em operação que busca "limpar" a Penitenciária do Estado, presos são transferidos para Centro de Detenção Provisória da Vila Prudente

Governo "caça" segundo escalão do PCC

DA REPORTAGEM LOCAL

O governo começou ontem a "caçar" o segundo escalão do PCC (Primeiro Comando da Capital) para "limpar" a Penitenciária do Estado, atual QG do grupo, dos líderes da maior facção das cadeias paulistas.
A operação foi dividida em duas partes: a primeira transferiu ontem presos (não necessariamente do PCC) para o Centro de Detenção Provisório (CDP) de Vila Prudente, zona leste.
A segunda, que ainda não tem data definida, vai transferir 30 líderes do grupo para a Casa de Custódia de Taubaté.
As informações oficiais sobres essa primeira transferência são desencontradas. Às 17h, o secretário adjunto da Secretaria da Administração Penitenciária, José Carneiro Rolim Neto, informou que 480 homens haviam sido transferidos da penitenciária rumo ao CDP da Vila Prudente.
Às 18h, quando a secretaria divulgou a lista dos transferidos, só constavam 256 nomes. Para completar, às 20h, a assessoria de imprensa divulgou que a transferência envolveu 300 detentos da Penitenciária do Estado.
Segundo funcionários do presídio, a remoção dos 30 líderes, deverá ocorrer entre amanhã e segunda feira. Advogados de membros do PCC estavam trabalhando com a hipótese de isso ocorrer na madrugada de hoje.
O governo informou que durante a noite podem haver novas transferências, mas não deu detalhes da operação.
Segundo os advogados do PCC, o isolamento de líderes do segundo escalão deve-se ao fato de o governo ter descoberto, após a rebelião do dia 18, que essa turma tem capacidade de articulação.
Ontem, o dia na penitenciária foi tenso. Os presos ficaram trancados nas celas até as 16h30, sem alimentação e energia elétrica.
Normalmente, o café é servido entre às 6h30 e 7h. Depois disso, as celas são abertas.
Ontem, em razão da assembléia dos funcionários, os detentos permaneceram trancados. Antes de sair da penitenciária, carcereiros avisaram alguns presos que entre "400 e 500" seriam removidos, dando início ao leva-e-traz de informações.
O resultado foi um princípio de tumulto, por volta das 16h30. Cerca de 30 presos serraram os cadeados das celas e foram soltando os demais. "Fizemos isso apenas para pegar comida", disse um dos líderes do PCC, cujo nome chegou a figurar na listagem oficial de transferência, embora ele permanecesse na penitenciária.
Dois presos tentaram fugir da prisão e a polícia reagiu atirando.
Segundo a secretaria, os disparos ocorreram apenas como "alerta". Funcionários da penitenciária disseram que a falta de energia (cujo fornecimento não foi regularizado desde a rebelião do dia 18) é uma estratégia de segurança para evitar que presos carreguem seus telefones celulares e continuem a se comunicar.
A Folha apurou que após o Carnaval, os presos levados ao CDP da Vila Prudente serão distribuídos entre unidades do interior. O objetivo seria desarticular ainda mais o PCC, pulverizando inclusive seus simpatizantes.
A secretaria admitiu que os presos transferidos participaram das rebeliões no último domingo. No entanto, não informou se entre eles havia líderes do PCC.
No fim da tarde, o governo reafirmou que o balanço das transferências poderia realmente ser alterado à noite, seguindo a suspeita dos advogados do comando.
O coordenador da Coesp (Coordenadoria dos Estabelecimentos Penitenciários do Estado de São Paulo), Sérgio Ricardo Salvador, disse que as remoções são provisórias e que os presos devem retornar as suas unidades.
"Remanejamos para poder reformar os pavilhões destruídos nas rebeliões", disse Salvador. Ele descartou que essa medida seja uma estratégia parar isolar líderes do PCC e evitar novos motins.
O secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, disse ontem que vai haver um reforço dos funcionários para o Carnaval prevendo novas rebeliões, mas não deu detalhes.
O secretário se irritou com a insistência dos jornalistas sobre os detalhes do esquema do segurança. "A mesma pergunta várias e várias vezes. Eu já disse que não sei", disse irritado. "Hoje todo mundo parece saber tudo do sistema penitenciário, todas as soluções", disse Furukawa.
(ALESSANDRO SILVA, GILMAR PENTEADO, GABRIELA ATHIAS E SÉRGIO DURAN)


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