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O PODER DO CRIME
Em operação que busca "limpar" a Penitenciária do Estado, presos são transferidos para Centro de Detenção Provisória da Vila Prudente
Governo "caça" segundo escalão do PCC
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo começou ontem a
"caçar" o segundo escalão do PCC
(Primeiro Comando da Capital)
para "limpar" a Penitenciária do
Estado, atual QG do grupo, dos líderes da maior facção das cadeias
paulistas.
A operação foi dividida em duas
partes: a primeira transferiu ontem presos (não necessariamente
do PCC) para o Centro de Detenção Provisório (CDP) de Vila Prudente, zona leste.
A segunda, que ainda não tem
data definida, vai transferir 30 líderes do grupo para a Casa de
Custódia de Taubaté.
As informações oficiais sobres
essa primeira transferência são
desencontradas. Às 17h, o secretário adjunto da Secretaria da Administração Penitenciária, José
Carneiro Rolim Neto, informou
que 480 homens haviam sido
transferidos da penitenciária rumo ao CDP da Vila Prudente.
Às 18h, quando a secretaria divulgou a lista dos transferidos, só
constavam 256 nomes. Para completar, às 20h, a assessoria de imprensa divulgou que a transferência envolveu 300 detentos da Penitenciária do Estado.
Segundo funcionários do presídio, a remoção dos 30 líderes, deverá ocorrer entre amanhã e segunda feira. Advogados de membros do PCC estavam trabalhando com a hipótese de isso ocorrer
na madrugada de hoje.
O governo informou que durante a noite podem haver novas
transferências, mas não deu detalhes da operação.
Segundo os advogados do PCC,
o isolamento de líderes do segundo escalão deve-se ao fato de o governo ter descoberto, após a rebelião do dia 18, que essa turma tem
capacidade de articulação.
Ontem, o dia na penitenciária
foi tenso. Os presos ficaram trancados nas celas até as 16h30, sem
alimentação e energia elétrica.
Normalmente, o café é servido
entre às 6h30 e 7h. Depois disso,
as celas são abertas.
Ontem, em razão da assembléia
dos funcionários, os detentos permaneceram trancados. Antes de
sair da penitenciária, carcereiros
avisaram alguns presos que entre
"400 e 500" seriam removidos,
dando início ao leva-e-traz de informações.
O resultado foi um princípio de
tumulto, por volta das 16h30. Cerca de 30 presos serraram os cadeados das celas e foram soltando
os demais. "Fizemos isso apenas
para pegar comida", disse um dos
líderes do PCC, cujo nome chegou a figurar na listagem oficial de
transferência, embora ele permanecesse na penitenciária.
Dois presos tentaram fugir da
prisão e a polícia reagiu atirando.
Segundo a secretaria, os disparos ocorreram apenas como
"alerta". Funcionários da penitenciária disseram que a falta de
energia (cujo fornecimento não
foi regularizado desde a rebelião
do dia 18) é uma estratégia de segurança para evitar que presos
carreguem seus telefones celulares e continuem a se comunicar.
A Folha apurou que após o Carnaval, os presos levados ao CDP
da Vila Prudente serão distribuídos entre unidades do interior. O
objetivo seria desarticular ainda
mais o PCC, pulverizando inclusive seus simpatizantes.
A secretaria admitiu que os presos transferidos participaram das
rebeliões no último domingo. No
entanto, não informou se entre
eles havia líderes do PCC.
No fim da tarde, o governo reafirmou que o balanço das transferências poderia realmente ser alterado à noite, seguindo a suspeita dos advogados do comando.
O coordenador da Coesp
(Coordenadoria dos Estabelecimentos Penitenciários do Estado
de São Paulo), Sérgio Ricardo Salvador, disse que as remoções são
provisórias e que os presos devem
retornar as suas unidades.
"Remanejamos para poder reformar os pavilhões destruídos
nas rebeliões", disse Salvador. Ele
descartou que essa medida seja
uma estratégia parar isolar líderes
do PCC e evitar novos motins.
O secretário da Administração
Penitenciária, Nagashi Furukawa,
disse ontem que vai haver um reforço dos funcionários para o
Carnaval prevendo novas rebeliões, mas não deu detalhes.
O secretário se irritou com a insistência dos jornalistas sobre os
detalhes do esquema do segurança. "A mesma pergunta várias e
várias vezes. Eu já disse que não
sei", disse irritado. "Hoje todo
mundo parece saber tudo do sistema penitenciário, todas as soluções", disse Furukawa.
(ALESSANDRO SILVA, GILMAR PENTEADO, GABRIELA ATHIAS E SÉRGIO DURAN)
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