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SAÚDE
Laboratório, de Rio Preto, foi interditado; Secretaria Estadual da Saúde suspendeu a comercialização e o uso do produto
6 morrem após aplicação de soro glicosado
VÂNIA CARVALHO
DA FOLHA VALE
Seis pessoas morreram em duas
cidades do Vale do Paraíba e tiveram suas mortes atribuídas à aplicação de soro glicosado em hospitais conveniados ao SUS (Sistema
Único de Saúde).
Cinco mortes ocorreram na
Santa Casa de Guaratinguetá (177
km de São Paulo). A sexta morte
foi em Cruzeiro (210 km de São
Paulo). Segundo a Folha apurou,
pelo menos três pessoas estão internadas em UTIs (Unidades de
Tratamento Intensivo) da região.
As vítimas fatais apresentaram
quadro idêntico de insuficiência
renal e hepática e distúrbio grave
de coagulação sanguínea.
As mortes ocorreram em média
24 horas depois da aplicação do
medicamento, que agora é investigado como a possível causa.
As vítimas receberam um soro
com glicose fabricado pela empresa Labormédica Industrial
Farmacêutica Ltda., de São José
do Rio Preto (451 km de SP).
Ontem, a Secretaria da Saúde de
São Paulo suspendeu a comercialização e o uso de soro glicofisiológico fabricado pelo laboratório.
Ao mesmo tempo, a Secretaria
da Saúde de São José do Rio Preto
interditou o laboratório, instalado
na cidade, e proibiu a fabricação
dos medicamentos sob suspeita,
até que seja divulgado laudo oficial de análise pelo Estado.
O lote suspeito, número 45.794,
fabricado em dezembro, tem validade de três anos. Segundo o Centro de Vigilância Sanitária do Estado, o medicamento apresentava
"visível turbidez".
Amostras do lote de soro glicosado suspeito de provocar as
mortes foram encaminhadas ao
Instituto Adolfo Lutz anteontem.
O resultado deve ser divulgado
em três dias.
O dono do laboratório interditado, Anísio José Moreira Júnior,
negou que seus produtos estejam
contaminados. Ele disse que "soro não mata ninguém", mesmo
que supostamente contaminado
(leia texto ao lado).
O diretor-técnico da Santa Casa
de Cruzeiro, Plínio Luiz Nunes
Dias, disse que registrou três casos de reação ao soro em sua unidade. Todas as três eram mulheres que foram submetidas a cirurgias cesarianas.
Segundo ele, no último dia 15,
uma gestante recebeu o soro durante a cesariana. Três horas depois, a paciente de 21 anos começou a apresentar insuficiência nos
rins e fígado e dificuldades de coagulação. A morte ocorreu no dia
seguinte à cirurgia.
Outras duas mulheres que passaram por cesarianas nos dias 19 e
21 tiveram as mesmas complicações e estão internadas em estado
grave em hospitais de Taubaté e
Guaratinguetá.
"O único medicamento utilizado em comum nas três pacientes
foi o soro com glicofisiológico",
disse Dias.
Gilberto Nering, diretor administrativo do Hospital Frei Galvão, de Guaratinguetá, onde não
houve vítimas fatais, disse que um
dos pacientes de hemodiálise da
unidade apresentou distúrbios
após uma sessão há duas semanas. "Suspendemos o uso dos medicamentos do laboratório."
A equipe de controle de infecção hospitalar foi acionada e exames realizados nos medicamentos constataram a presença da
bactéria estafilococos em soluções de hemodiálise, água para injeção, soros e glicose.
"Acredito que todos os medicamentos devem ser recolhidos por
precaução", disse.
A Santa Casa de Guaratinguetá
tem um paciente hospitalizado
em estado grave, na UTI. A direção informou que só vai se pronunciar sobre as mortes depois da
divulgação do resultado dos exames do Adolfo Lutz.
A diretora da DIR de Taubaté
(que abrange Guaratinguetá e
Cruzeiro), Nádia Maria Magalhães Meireles, disse que, após as
mortes, todos os hospitais da região foram avisados para evitar
novos problemas e recolher informações sobre novas mortes.
"Estamos determinando a suspensão do uso por precaução, até
que sejam esclarecidas as mortes", disse.
A Secretaria de Estado da Saúde
informou que não existe risco de
falta de glicose no Carnaval por
causa da suspensão, porque a
compra dos produtos médicos é
descentralizada.
Casos em Rio Preto
Em São José do Rio Preto, existem pelo menos dois registros de
pacientes que supostamente foram vítimas de outros três produtos do mesmo laboratório.
Delaine Silmara Lopes, 32, e o
aposentado Valter André Lui, 59,
foram parar na UTI (Unidade de
Terapia Intensiva) com infecção
generalizada no início do mês.
Ela tinha se submetido a uma cirurgia ginecológica. Ele fez uma
cirurgia de retirada de varizes.
Delaine já teve alta. Lui, com complicações renais, continua internado.
A paciente é cunhada do secretário da Saúde do município, José
Carlos Cacau Lopes, que disse ter
descoberto o problema ao visitá-la no hospital.
Ele acredita que a contaminação
do soro pode ocorrer durante o
processo de fabricação, no transporte ou mesmo no armazenamento nos hospitais.
O Hospital Nossa Senhora da
Paz, que fez as cirurgias, atribui as
infecções à contaminação de medicamentos comprados da Labormédica. Laudo de análise feita por
um laboratório particular, encomendado pelo hospital, revelou a
presença de três bactérias nos
produtos.
Os pacientes utilizaram cloreto
de sódio, glicose em solução isotônica e ringer conlactato. Os lotes suspeitos são os de números
45.951, 45.262 e 45.406. Amostras
foram enviadas para o Instituto
Adolfo Lutz para análise. O laudo
sai no início de março.
Rastreamento feito pela Vigilância Sanitária do município
constatou que foram vendidas
11.893 unidades de 500 ml dos lotes suspeitos para 35 hospitais de
SP, SC, RS, ES, RJ, MG e PR.
Colaborou Edmilson Zanetti, da Agência Folha, em São José do Rio Preto
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