São Paulo, terça-feira, 24 de fevereiro de 2004

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Morador torturado teme Polícia Civil

RENATA VICTAL
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Depois de ter sido torturado por policiais militares do 1º Batalhão na semana passada, o morador do morro da Coroa (zona central do Rio) Nelis Nelson dos Santos, 31, teme agora a ação da Polícia Civil.
Santos contou a familiares que foi intimidado na quinta-feira por policiais civis no hospital Miguel Couto, onde está internado.
De acordo com parentes, que não querem ser identificados, alguns inspetores interrogaram Santos e ainda tiraram fotos.
Na segunda-feira passada, Santos, desempregado e viciado em drogas, recebeu choques elétricos e foi agredido por PMs que queriam saber quais traficantes estariam dominando o morro.
O subsecretário de Direitos Humanos do Estado, Paulo Baía, confirma a ação dos policiais civis, mas nega que o objetivo tenha sido intimidar Santos. Segundo Baía, como a família não registrou o caso na delegacia, foi preciso que os policiais fossem até o hospital para fotografar Santos e ouvir seu depoimento.
As fotos serão anexadas aos três inquéritos abertos pelo Estado -na 6ª Delegacia de Polícia, na Cidade Nova (zona central), no 1º BPM e um terceiro na Corregedoria Geral Unificada da Secretaria de Direitos Humanos.
"O Nelis está com muito medo da polícia e ficou assustado com as fotos tiradas pelos policiais civis, mas isso faz parte da rotina. Precisávamos das fotos para anexá-las aos inquéritos juntamente com a ficha médica que o hospital já nos forneceu", disse Baía.
Ele diz que há dois agentes do grupo de elite da Polícia Civil ao lado da cama de Nelis, oito policiais descaracterizados no andar onde ele está internado e ainda outros dois na porta do hospital.
"O Nelis está sob proteção absoluta e não precisa temer nada. Vamos fazer todo o possível para apurar a verdade", disse. Os 11 policiais suspeitos de torturar Santos estão presos.

Rocinha
Foram enterrados na tarde de ontem os três moradores da Rocinha mortos por policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais) na madrugada de domingo. Com cartazes pedindo paz, cerca de 200 pessoas interromperam o trânsito em frente ao cemitério São João Batista (zona sul).
A manifestação durou cinco minutos e foi contida por homens da PM. O presidente da Associação de Moradores da Rocinha, William de Oliveira, pretende ir a Brasília ainda nesta semana pedir ao ministro da Justiça Márcio, Thomaz Bastos, que exija a apuração das mortes e puna os policiais.
Segundo ele, o morador Marcelo Rodrigues da Silva, 16, que também foi atingido pelos policiais, tem condições de reconhecê-los.


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