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ENSINO SUPERIOR
Professor Michael Paul Zeitlin havia criticado direção por 16 demissões sem consulta a órgãos internos
Alunos protestam após novo corte na FGV
FÁBIO TAKAHASHI
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
A direção do curso de administração da FGV-SP demitiu ontem
mais um professor, ex-diretor da
escola. A medida causou protesto
dos alunos, que fecharam a avenida Nove de Julho no começo da
noite, por cerca de 20 minutos.
O docente dispensado foi Michael Paul Zeitlin, 69. Em reportagem publicada ontem pela Folha,
ele criticou os diretores da faculdade, que demitiram outros 16
professores sem consultar os órgãos internos do curso -o que
tradicionalmente era feito. Em
nota divulgada ontem, a FGV disse que a demissão de Zeitlin foi
por "motivos administrativos".
Zeitlin, que estava na escola havia 36 anos, afirmou que o processo colocava em risco a democracia na faculdade e, com isso,
ameaçava a excelência acadêmica
do curso. Ele também foi um dos
40 signatários de uma lista em que
os docentes se mostram "preocupados com as conseqüências acadêmicas" das demissões e pedem
explicações ao atual diretor, Fernando Meirelles.
"Ele [Meirelles] me disse que eu
estava incomodando", afirmou
ontem Zeitlin, diretor da escola
entre 1991 e 1995 e secretário de
Transportes de São Paulo entre
1997 e 2002 (gestão Mário Covas).
Além da entrevista e da lista, o
professor publicou um artigo
com críticas na revista da escola.
"A escola é democrática. Até as
críticas podem ser públicas."
Além dos "motivos administrativos", a nota da FGV cita ainda a
vontade demonstrada pelo próprio professor de se aposentar.
"No final do ano passado, realmente falei isso. Mas desisti quando os 16 foram demitidos [o que
ocorreu no começo deste mês].
Deixei claro que gostaria de ficar
para tentar mudar isso", disse.
"Essa demissão é injusta, desumana. E reforça o temor de que a
democracia está ameaçada", disse
o presidente do diretório acadêmico, Fernando Oshima, 20.
"Ele era um bom professor, e
seu curso era muito organizado",
afirmou Marcelo Serra, 21, aluno
de Zeitlin no ano passado.
Dentro da faculdade, há o temor
de que a direção concentre todo o
poder de decisão, o que permitiria
retaliações a docentes com idéias
divergentes. A conseqüência disso é que professores e pesquisadores passariam a ter receio de
abordar assuntos que possam desagradar aos dirigentes.
Em nota, a escola reitera que as
demissões foram "meramente
administrativas" e nega que haverá perda de qualidade. O texto cita
o fato de que 70% dos professores
do curso têm doutorado.
Protesto
Cerca de 200 alunos, que estavam comemorando a reinauguração do DA (Diretório Acadêmico), foram para a frente da diretoria da escola assim que souberam
da demissão. Como não foram recebidos pelos diretores, decidiram bloquear a avenida Nove de
Julho, que fica na frente da FGV.
Inicialmente, os alunos impediram a passagem de carros na pista
que segue para o centro da cidade
por cerca de dez minutos. Em seguida, eles liberaram o trecho e
interromperam o trânsito no outro sentido da avenida.
Segundo os alunos, que pagam
mensalidades na casa dos R$
1.800, houve conflito com os policiais quando eles voltaram a interditar a primeira pista.
Os manifestantes disseram ter
levado alguns golpes com cassetetes e ter sido atingidos com spray
de pimenta. "Não revidamos, mas
ficamos revoltados com isso. Um
aluno foi atingido no olho; outro
teve uma reação alérgica e ficou
sem ar", disse Julio Cesar Stella,
20. Procurada pela reportagem, a
PM não se manifestou sobre o caso até o fechamento desta edição.
Os alunos pretendem fazer uma
paralisação hoje e começar uma
greve após o Carnaval.
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