São Paulo, sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

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ENSINO SUPERIOR

Professor Michael Paul Zeitlin havia criticado direção por 16 demissões sem consulta a órgãos internos

Alunos protestam após novo corte na FGV

FÁBIO TAKAHASHI
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

A direção do curso de administração da FGV-SP demitiu ontem mais um professor, ex-diretor da escola. A medida causou protesto dos alunos, que fecharam a avenida Nove de Julho no começo da noite, por cerca de 20 minutos.
O docente dispensado foi Michael Paul Zeitlin, 69. Em reportagem publicada ontem pela Folha, ele criticou os diretores da faculdade, que demitiram outros 16 professores sem consultar os órgãos internos do curso -o que tradicionalmente era feito. Em nota divulgada ontem, a FGV disse que a demissão de Zeitlin foi por "motivos administrativos".
Zeitlin, que estava na escola havia 36 anos, afirmou que o processo colocava em risco a democracia na faculdade e, com isso, ameaçava a excelência acadêmica do curso. Ele também foi um dos 40 signatários de uma lista em que os docentes se mostram "preocupados com as conseqüências acadêmicas" das demissões e pedem explicações ao atual diretor, Fernando Meirelles.
"Ele [Meirelles] me disse que eu estava incomodando", afirmou ontem Zeitlin, diretor da escola entre 1991 e 1995 e secretário de Transportes de São Paulo entre 1997 e 2002 (gestão Mário Covas). Além da entrevista e da lista, o professor publicou um artigo com críticas na revista da escola. "A escola é democrática. Até as críticas podem ser públicas."
Além dos "motivos administrativos", a nota da FGV cita ainda a vontade demonstrada pelo próprio professor de se aposentar.
"No final do ano passado, realmente falei isso. Mas desisti quando os 16 foram demitidos [o que ocorreu no começo deste mês]. Deixei claro que gostaria de ficar para tentar mudar isso", disse.
"Essa demissão é injusta, desumana. E reforça o temor de que a democracia está ameaçada", disse o presidente do diretório acadêmico, Fernando Oshima, 20.
"Ele era um bom professor, e seu curso era muito organizado", afirmou Marcelo Serra, 21, aluno de Zeitlin no ano passado.
Dentro da faculdade, há o temor de que a direção concentre todo o poder de decisão, o que permitiria retaliações a docentes com idéias divergentes. A conseqüência disso é que professores e pesquisadores passariam a ter receio de abordar assuntos que possam desagradar aos dirigentes.
Em nota, a escola reitera que as demissões foram "meramente administrativas" e nega que haverá perda de qualidade. O texto cita o fato de que 70% dos professores do curso têm doutorado.

Protesto
Cerca de 200 alunos, que estavam comemorando a reinauguração do DA (Diretório Acadêmico), foram para a frente da diretoria da escola assim que souberam da demissão. Como não foram recebidos pelos diretores, decidiram bloquear a avenida Nove de Julho, que fica na frente da FGV.
Inicialmente, os alunos impediram a passagem de carros na pista que segue para o centro da cidade por cerca de dez minutos. Em seguida, eles liberaram o trecho e interromperam o trânsito no outro sentido da avenida.
Segundo os alunos, que pagam mensalidades na casa dos R$ 1.800, houve conflito com os policiais quando eles voltaram a interditar a primeira pista.
Os manifestantes disseram ter levado alguns golpes com cassetetes e ter sido atingidos com spray de pimenta. "Não revidamos, mas ficamos revoltados com isso. Um aluno foi atingido no olho; outro teve uma reação alérgica e ficou sem ar", disse Julio Cesar Stella, 20. Procurada pela reportagem, a PM não se manifestou sobre o caso até o fechamento desta edição.
Os alunos pretendem fazer uma paralisação hoje e começar uma greve após o Carnaval.


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