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Brasil lidera deportações no Reino Unido
Sozinhos, brasileiros representaram 14,5% do total de 34.435 negações de entrada em 2006, seguidos por paquistaneses
Para representantes diplomáticos, alto índice é explicado, em parte, porque brasileiros não têm de ter visto como turista em solo britânico
RAFAEL CARIELLO
DE LONDRES
O músico brasileiro Daniel
Peixoto, 23, passou 35 horas,
entre 12 e 13 de novembro, detido no aeroporto de Heathrow,
em Londres, antes de ter negada oficialmente a sua entrada
no Reino Unido e ser embarcado num vôo de volta ao Brasil.
Nesse período, ele diz ter
dormido no chão, alimentado-se exclusivamente de sanduíches distribuídos pelas autoridades britânicas e ter sido interrogado por nove horas consecutivas. Enquanto aguardava, dividia duas pequenas salas
contíguas com até dez pessoas,
que iam e vinham, na companhia constante de um iraquiano e um kosovar. Peixoto não
sabia, mas, estatisticamente,
sua chance de entrar no país
era bem menor que a de seus
companheiros de "detenção".
Documentos oficiais do governo britânico mostram que
brasileiros representam a
maior fatia de pessoas, entre
todas as nacionalidades, que
têm a entrada negada no Reino
Unido e são mandadas de volta
ao país de origem da viagem.
O Brasil passou a liderar o
ranking em 2004, quando teve
5.180 cidadãos despachados de
volta ao país, lugar que manteve nos dois anos seguintes.
Dados do Home Office -braço do governo britânico responsável pelo controle de imigrantes, entre outras funções-
contabilizam todas as nacionalidades, com exceção de cidadãos da União Européia.
Os números mostram que,
em 2005 e 2006, o total de brasileiros cuja entrada foi negada
no país representou mais que o
dobro da segunda nacionalidade com maior número de "denegações" nesses períodos.
Outros países
Em 2005, 5.195 brasileiros tiveram a entrada recusada no
Reino Unido e foram enviados
de volta, contra 2.135 nigerianos, em segundo lugar.
No ano seguinte, foram 4.985
negativas dadas a brasileiros.
Paquistaneses -com 2.035 casos- e nigerianos, com 1.960
denegações, vêm em seguida.
Representantes diplomáticos do Brasil no Reino Unido
afirmam que o alto índice de
brasileiros cujo ingresso é negado já em aeroportos, portos e
estações ferroviárias pode ser
explicado, em parte, pelo fato
de os cidadãos do país não precisarem de visto para entrar em
solo britânico como turistas.
Outras nacionalidades que
poderiam ser "visadas" são paradas ou desistem de viajar ainda em seus países de origem devido à exigência do visto.
Soma-se a isso o fato de ser
grande o número de brasileiros
a entrar no país como turistas
ou estudantes a cada ano para,
em seguida, permanecer no
país ilegalmente.
Sozinhos, os brasileiros representaram 16,2% do total de
denegações em 2004 (31.930),
16,1% do total de 2005 (32.275)
e 14,5% do total de 2006
(34.435). Os números do ano
passado não estão disponíveis.
As recusas não são proporcionais às tentativas de entrada
no país por nacionalidade.
O número de brasileiros que
consegue entrar no Reino Unido -com diversos objetivos declarados, de viagens de turismo, período de estudos a residência- é relativamente modesto e significativamente menor do que o volume de norte-americanos, canadenses, indianos e russos, entre outros.
Em 2006, foi permitida a entrada de 182 mil brasileiros no
Reino Unido, contra 4,1 milhões de norte-americanos e
846 mil indianos, por exemplo.
Mesmo os países que seguem
o Brasil no ranking das denegações fizeram maior número de
tentativas e tiveram maior número de cidadãos autorizados a
entrar no Reino Unido. Foram
288 mil nigerianos cuja entrada
foi permitida em 2006, e 262
mil paquistaneses.
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