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NAGASAKI
"Corpos foram incinerados no quintal"
DO ENVIADO A BASTOS (SP)
Três dias já haviam se
passado desde que a bomba atômica caíra em
Hiroshima e ninguém em
Nagasaki sabia ao certo o
que ocorrera. Aos 9 anos,
Nobuaki Honda brincava
no quintal de casa às 11h02
de 9 de agosto de 1945
quando ouviu o vôo rasante de um avião.
O som foi seguido de um
clarão, acompanhado de
um estrondo, que Honda e
irmãos pensavam ser um
terremoto. Na seqüência
veio o deslocamento de ar,
que destelhou a casa de
madeira e jogou tatames e
móveis a distância.
Veio o aviso para a fuga
ao abrigo subterrâneo.
"Depois de algumas horas,
os feridos, queimados em
carne viva, pele rasgada,
couro cabeludo derretido,
começaram a chegar à caverna. Não dava para saber
se era homem ou mulher."
Mães traziam filhos
mortos nas costas. Para
Honda, essa imagem foi o
pior do terror. Ao entardecer, outro alerta dava conta de que era perigoso ficar
no subsolo. A fuga agora
era para as montanhas.
Honda passou dois dias
dormindo num cemitério,
ao lado de corpos chamuscados, que podiam ser parentes ou amigos. "Não era
possível saber."
Depois de dois dias,
Honda voltava para casa.
Com a ajuda dos irmãos
(ele era o mais velho), limpou tudo e tentou voltar às
atividades normais.
Havia dezenas de corpos
jogados no quintal que antes servira de playground.
A prefeitura fez ali mesmo
uma vala comum.
"Esse foi o meu maior
medo. Os corpos foram incinerados ao lado de casa."
Honda saiu pela cidade na
busca de parentes. Não
achou ninguém, apenas
corpos e pedaços de corpos irreconhecíveis.
Hoje aos 72 anos, Honda
não traz seqüelas da explosão. Tem arritmia cardíaca, que os médicos não
relacionam à radiação.
Veio ao Brasil trabalhar
na criação do bicho-da-seda, mas comprou e vendeu
ovos e ainda foi peixeiro.
Hoje é aposentado, campeão de karaokê e não tem
filhos. Não é difícil entender o porquê.
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