São Paulo, quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

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Caixa veta, mas não fiscaliza bolão de lotérica

Há 242 funcionários para fiscalizar a prática nos 10.200 estabelecimentos do país; inspeção só ocorre mediante denúncia

Banco afirma que oferta de bolões pelas lotéricas não é prevista na legislação, mas prática é disseminada nas casas de apostas do país

GUSTAVO HENNEMANN
DA AGÊNCIA FOLHA

GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM NOVO HAMBURGO

Apesar de considerar ilegal que as lotéricas promovam os chamados bolões, a Caixa Econômica Federal só fiscaliza esse tipo de prática mediante denúncia. A Caixa tem 242 funcionários para inspecionar as 10.200 casas de apostas do país.
O banco não soube dizer quantas denúncias já recebeu sobre a oferta de bolões pelas lotéricas nem se o número de fiscais é suficiente. A assessoria informou apenas que há uma constante discussão sobre a necessidade de ampliar ou não o quadro desses servidores.
No sábado, ao menos 35 compradores de um bolão em Novo Hamburgo (RS) acertaram os números sorteados no concurso 1.155 da Mega-Sena, mas não levaram o prêmio de R$ 53 milhões. A suspeita é que a aposta não tenha sido registrada no sistema pela lotérica.
A Caixa suspendeu as atividades da casa, fechada desde anteontem. Em nota, o banco disse que a oferta de bolões pelas lotéricas não é prevista na Norma Geral dos Concursos de Prognósticos, do Ministério da Fazenda, nem nas circulares da Caixa que regem a atividade.
Embora reprovado pela Caixa, o bolão é disseminado em casas de apostas de todo o país. Ontem, a Folha visitou dez lotéricas em São Paulo -em nove, o apostador podia participar de bolões de R$ 5 a R$ 500.

Estelionato
O delegado que investiga o caso de Novo Hamburgo, Clóvis Nei da Silva, afirma que há indícios de estelionato. Cópias de outros dois bolões vendidos pela mesma lotérica serão enviadas à Caixa para verificar se as apostas foram registradas. Segundo o delegado, isso pode revelar se o caso do último sábado foi um erro ou um golpe.
Até ontem, o dono da lotérica, José Paulo Abend, não havia ido à polícia. Seu advogado, Marcelo Dias, classificou o caso como "fatalidade inexplicável", disse que está sendo feita uma auditoria e negou má-fé. "Ele [Abend] é um pequeno empresário e, de repente, caiu um problema de R$ 53 milhões na cabeça dele. Ele está arrasado."
Já o advogado Marcelo Luciano, que defende 21 apostadores, afirma que vai processar a Caixa e a lotérica, exigindo o pagamento do prêmio e uma indenização por danos morais.


Colaborou a Reportagem Local


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