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Em 3ª versão para episódio, vice-prefeito diz ter pedido suspensão de embargo para viabilizar acordo de dívida
Bicudo diz que fez "encontro de contas"
DA REPORTAGEM LOCAL
O vice-prefeito de São Paulo,
Hélio Bicudo (PT), deu três versões sobre sua participação no caso do embargo do prédio da Cesp
e da renegociação da dívida da
Emurb com a companhia.
Em uma primeira conversa, na
quinta-feira de manhã, na USP,
Bicudo disse apenas que não se
lembrava do episódio e que não é
do "tipo de pessoa que pede embargo para fazer negociata". Na
ocasião, porém, ele não permitiu
que a conversa fosse gravada e pediu que a reportagem procurasse
seu chefe-de-gabinete, Marcelo
Nobre, na tarde daquele dia.
Nobre, por sua vez, falando em
nome do vice-prefeito, disse que
Bicudo -"sensibilizado"- havia participado de reuniões para
"tentar auxiliar na solução de um
problema que inviabilizaria a
existência da Emurb". "Mas não
houve nunca, nunca, nenhum
contato com subprefeitura. Isso é
tão absurdo", disse Nobre.
No começo da noite foi Hélio
Bicudo quem telefonou para o
jornal. Dizendo ter se lembrado
do que ocorreu e sem esperar perguntas, ele concedeu a seguinte
entrevista à Folha.
Hélio Bicudo - Havia uma ação
indireta de desapropriação movida pela Cesp contra a prefeitura. A
Cesp ganhou essa ação e estava
em cima para cobrar essa dívida.
A responsabilidade de saldar esse
débito era da Emurb, mas ela não
teria patrimônio para isso. Aí me
coube começar um entendimento
para resolver esse problema. Fizemos um inventário. Quais são os
terrenos da prefeitura usados pelo
Estado? Por exemplo, o Dante
Pazzanese. Todo aquele conjunto
está em terreno da prefeitura. Então, essa parte ficaria resolvida, e a
Cesp ficaria recompensada.
Folha - Então o sr. pediu um levantamento de áreas municipais
ocupadas pelo Estado para propor
que ficasse uma coisa pela outra?
Bicudo - É, um encontro de interesses. Aproveitaríamos o caso da
Cesp para não ir adiante com a
ação e ainda teríamos a oportunidade de acertar um problema geral, que é esse do uso de imóveis.
Folha - E o embargo do prédio?
Bicudo - Nessa época havia a reforma da Cesp e havia um embargo desse prédio com relação à garagem, parece. Então, o que aconteceu foi o seguinte: pedi que o
embargo fosse levantado, porque
se ele prosseguisse não daria, evidentemente, para haver acordo
[sobre a dívida]. Falei com a Clara
[Ant, então administradora regional da Sé] sobre o que estava
acontecendo, e ela levantou o embargo para a obra prosseguir.
Folha - Mas a irregularidade que
motivou o embargo não persistia?
Bicudo - Não, não persistiria,
porque daí aquele seria terreno da
Cesp e não haveria invasão.
Folha - Havia a ação...
Bicudo - Sim, havia uma ação de
desapropriação e uma indenização a ser paga. A prefeitura já estava esperando a execução. E a execução, que recairia sobre a
Emurb, já tinha transitado em julgado. Essa questão, então, não
poderia ser suspensa, a não ser
por parte da Cesp. Só a Cesp poderia não cobrar. E havia um embargo da obra exatamente em virtude dessa ação da Cesp.
Folha - O embargo era por causa
da ação?
Bicudo - Era. Por causa do terreno. E, se nós prosseguíssemos
nesse embargo, a Cesp iria executar a dívida e acabar com a
Emurb. Aí que surgiu a idéia de
fazer esse encontro de contas. Levantar o embargo e viabilizar esse
acordo. Eu dei início ao processo.
Folha - Mas o argumento do embargo não foi invasão de terreno,
mas falta de documento.
Bicudo - Isso é um problema burocrático que eu não quero nem
saber. Foi uma questão burocrática exatamente para evitar que a
Cesp fizesse a reforma. A questão
era muito mais ampla, mas os fiscais acharam uma questão burocrática, não respeitando os interesses maiores da prefeitura.
Folha - Mas a funcionária diz que
o sr. ordenou o embargo.
Bicudo - Eu apenas esclareci à
Clara as conseqüências desse embargo para o município, o global.
Folha - Mas a funcionária disse
que falou com o sr...
Bicudo - Se eu falei, foi para ela
me comunicar com a Clara, que
era chefe dela. Eu não iria falar
com funcionários subalternos.
Folha - E se ela não levantasse o
embargo?
Bicudo - A Cesp faria a execução.
Folha - Mas, se o embargo era regular, levantá-lo assim foi uma irregularidade.
Bicudo - Há vários pretextos burocráticos para impedir uma
obra. Esse é um problema que
não me cabe. Eu estava envolvido
em um problema maior e não
num problema burocrático de
embargar ou não. Eu acho que
política se faz por cima, não por
baixo. E não entendo o motivo
desta sua reportagem.
(SÍLVIA CORRÊA)
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