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Sem estrutura, parque da Bocaina padece
Com 104 mil hectares, área é a segunda maior reserva de mata atlântica do país, mas tem verba anual de apenas R$ 50 mil
Com somente um veículo, os
sete fiscais não conseguem
controlar o desmatamento
provocado por fazendeiros
cujo gado pasta no parque
MARIO HUGO MONKEN
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DO
BARREIRO (SP)
Sete fiscais e um veículo para
patrulhar uma área de 104 mil
hectares. Uma verba anual de
apenas R$ 50 mil da União. Essa é a situação hoje do Parque
Nacional da Serra da Bocaina,
que fica na divisa entre o Rio de
Janeiro e São Paulo.
O parque é a segunda maior
reserva de mata atlântica do
país -a primeira é o parque estadual da Serra do Mar, em São
Paulo, com 315 mil hectares.
A precária estrutura tem trazido conseqüências graves. O
número reduzido de fiscais não
é capaz de controlar o desmatamento, principalmente o provocado por fazendeiros cujo gado pasta dentro do parque.
Um levantamento da ONG
SOS Mata Atlântica revela que
apenas 7% desse tipo de floresta ainda se mantém preservada.
Estima-se que, na Bocaina, haja
cerca de 1.500 cabeças de gado.
O pior é que, sem pessoal, o
Ibama (Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis), órgão
responsável pela reserva, não
tem como fazer o diagnóstico
sobre o percentual de mata preservada na Bocaina.
No último sobrevôo no parque, no fim do ano passado,
constatou-se que ao menos 30
áreas estão sob risco, mas não
foi calculado o tamanho da região afetada. O diretor da unidade, Dalton Novaes, se diz
preocupado. "Se continuarmos
assim, o parque poderá ser dividido e perderemos a cobertura
contínua de mata atlântica."
Entre 2002 e 2005, o parque
perdeu cerca de mil hectares
(equivalente a mil campos de
futebol) de floresta devido às
queimadas. Entretanto, segundo Novaes, esse dado é ínfimo,
porque representa só os cinco
meses (junho a outubro) de cada um dos anos em que houve
controle das queimadas. Esse é
o período anual em que uma
brigada de incêndio atua na reserva por causa da falta de chuva. As punições para os culpados são raras. Segundo os fiscais, 86% dos incêndios têm
causas desconhecidas.
"Parque de papel"
O parque da Bocaina foi criado por decreto federal em 1971.
Ele passa por seis municípios:
Cunha, Areias, Ubatuba e São
José do Barreiro, em São Paulo;
Parati e Angra dos Reis, no Rio
de Janeiro. Inicialmente, o objetivo era criar uma espécie de
cinturão contra um eventual
acidente na usina nuclear de
Angra dos Reis. Para Novaes,
devido à falta de estrutura, "a
Bocaina é ainda um parque de
papel". O parque só tem uma
sede, em São José do Barreiro, e
uma portaria, em Cunha. Praticamente não há controle sobre
a entrada e a saída de pessoas.
A pequena verba não consegue custear nem os serviços essenciais. Na semana passada, os
telefones da sede estavam cortados por falta de pagamento.
"Essa verba é uma piada", disse
o analista ambiental Marcelo
Guena, fiscal do parque.
Outro problema é a questão
fundiária. Quando o parque foi
criado, muitas famílias já moravam no local. Para poder retirá-las, o governo tem de indenizá-las. Segundo funcionários, a última vez em que indenizações
foram pagas foi em 1985. O Ibama não tem estimativa sobre o
número de famílias que vivem
no parque. O último dado, de
1976, falava em 422.
Na região de Mambucaba,
em Angra dos Reis, por exemplo, o bairro pobre de Boavista,
que fica às margens da rodovia
BR-101, se formou no parque.
Também não há dados sobre
construções irregulares.
Dentro do parque, não há
serviços que auxiliem seus freqüentadores. Não há placas informando sobre os pontos turísticos ou qualquer orientação
sobre as trilhas existentes. A
principal atração da Bocaina é a
Trilha do Ouro, uma estrada de
blocos de pedra construída no
século 18 por escravos que levavam o ouro de Minas Gerais até
o porto de Parati. Outro ponto é
a praia do Caixadaço, em Parati, que vem sendo degradada
em razão da construção de
quiosques e hotéis.
A ausência de estrutura na
Bocaina não tem trazido bons
frutos para o turismo na região.
Funcionários contaram que,
em média, 7.000 pessoas visitam o parque num ano.
Um dos principais hotéis nas
redondezas do parque, o Porto
da Bocaina, estava vazio na semana passada e só deverá ter
hóspedes na Semana Santa, no
início de abril.
A falta de pessoal traz outros
problemas para a fiscalização.
Os fiscais só patrulham o parque de duas em duas semanas.
Quando não estão na floresta,
têm de ajudar nos serviços burocráticos na sede. "Precisaríamos de, no mínimo, 20 fiscais e
4 viaturas para poder trabalhar", disse Dalton Novaes.
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