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Lentidão afasta usuário de carro do ônibus
Para técnicos, transporte coletivo não se torna atraente se sua vantagem de velocidade em relação a carros for pequena
Ações adotadas pela prefeitura em resposta a protesto na zona sul não são
suficientes e passageiros ainda enfrentam atrasos
DA REPORTAGEM LOCAL
A maior demora da viagem
dos ônibus mesmo nas faixas
teoricamente exclusivas também reforça as alegações de
motoristas que resistem a deixar seus carros na garagem.
A velocidade dos automóveis
em parte das vias com corredor
de ônibus pode ser até inferior
em alguns horários de pico -na
Eusébio Matoso/Rebouças/
Consolação, por exemplo, era
de 10,4 km/h em 2005.
Mas uma vantagem muito
pequena na rapidez do transporte coletivo em relação ao
transporte individual é insuficiente para torná-lo atrativo, de
acordo com os técnicos.
"A diferença precisa ser sensível para que alguém deixe seu
carro em casa. E ainda é necessário um segundo incentivo",
afirma Cláudio Senna Frederico, especialista em transporte.
O segundo incentivo que ele
cita é, por exemplo, uma restrição maior ao carro -como a alta do preço para estacioná-lo.
Uma pesquisa feita em 11
municípios e divulgada num
congresso da ANTP (Associação Nacional de Transportes
Públicos) indicou que a desigualdade na ocupação das vias
públicas atingia até as com faixas exclusivas de coletivos.
Proporcionalmente à quantidade de usuários que transportam, os carros ocupam 8,7 vezes mais as vias do que os ônibus nos corredores -a diferença atinge 10,5 vezes no caso de
pistas sem nenhuma prioridade ao transporte público.
Se a lentidão dos ônibus desestimula a classe média a deixar o carro na garagem, na periferia ela gera atrasos inevitáveis para quem não tem outra
opção. Há duas semanas, a demora e a superlotação do transporte chegaram a motivar um
protesto em que mil pessoas fecharam por seis horas a estrada
do M'Boi Mirim, na zona sul.
A Folha voltou ao local na
semana passada e verificou que
as ações adotadas pela prefeitura em resposta ao protesto
ainda não foram suficientes para resolver os problemas.
O congestionamento dos
ônibus continua e se forma a
partir das 6h -embora as filas
tenham tido breve queda.
O segurança Gilberto Simões, 28, só conseguiu embarcar após meia hora de espera. A
empregada doméstica Ana Maria Santana, 53, usuária da
mesma linha que levaria ao terminal Jabaquara, na zona sul,
resolveu não subir. "É a segunda vez que deixo passar. Vem
lotado, não dá para entrar."
Após o protesto, além de ter
destacado 50 fiscais da CET
(Companhia de Engenharia de
Tráfego) e da SPTrans (empresa municipal que cuida dos
transportes) para a faixa que
vai do terminal Jardim Ângela
à avenida Guarapiranga, a prefeitura transferiu a operação de
quatro linhas da viação Itaim
Paulista para a Campo Belo e
pôs tachões nas saídas das paradas, para evitar que carros
invadam a pista dos ônibus.
A reportagem, porém, flagrou automóveis trafegando
pelo corredor entre os pontos,
longe das vistas dos fiscais.
No local, as paradas de microônibus, que funcionam do
lado direito da pista, contribuem para a lentidão de carros.
"Mesmo depois do protesto,
os ônibus ficam parados nos
horários de pico", afirmou o segurança Marcelo Joaquim dos
Santos, 31, que se disse surpreso ao voltar, em 2006, a Piraporinha, bairro "onde nasceu e se
criou", após dez anos em Natal
(RN). "Antes não tinha corredor, mas também não havia esse trânsito. Levava 40 minutos
ao centro. Hoje, dá duas horas."
(ALENCAR IZIDORO e RICARDO SANGIOVANNI)
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