São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2008

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Lentidão afasta usuário de carro do ônibus

Para técnicos, transporte coletivo não se torna atraente se sua vantagem de velocidade em relação a carros for pequena

Ações adotadas pela prefeitura em resposta a protesto na zona sul não são suficientes e passageiros ainda enfrentam atrasos

DA REPORTAGEM LOCAL

A maior demora da viagem dos ônibus mesmo nas faixas teoricamente exclusivas também reforça as alegações de motoristas que resistem a deixar seus carros na garagem.
A velocidade dos automóveis em parte das vias com corredor de ônibus pode ser até inferior em alguns horários de pico -na Eusébio Matoso/Rebouças/ Consolação, por exemplo, era de 10,4 km/h em 2005.
Mas uma vantagem muito pequena na rapidez do transporte coletivo em relação ao transporte individual é insuficiente para torná-lo atrativo, de acordo com os técnicos.
"A diferença precisa ser sensível para que alguém deixe seu carro em casa. E ainda é necessário um segundo incentivo", afirma Cláudio Senna Frederico, especialista em transporte.
O segundo incentivo que ele cita é, por exemplo, uma restrição maior ao carro -como a alta do preço para estacioná-lo.
Uma pesquisa feita em 11 municípios e divulgada num congresso da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos) indicou que a desigualdade na ocupação das vias públicas atingia até as com faixas exclusivas de coletivos.
Proporcionalmente à quantidade de usuários que transportam, os carros ocupam 8,7 vezes mais as vias do que os ônibus nos corredores -a diferença atinge 10,5 vezes no caso de pistas sem nenhuma prioridade ao transporte público.
Se a lentidão dos ônibus desestimula a classe média a deixar o carro na garagem, na periferia ela gera atrasos inevitáveis para quem não tem outra opção. Há duas semanas, a demora e a superlotação do transporte chegaram a motivar um protesto em que mil pessoas fecharam por seis horas a estrada do M'Boi Mirim, na zona sul.
A Folha voltou ao local na semana passada e verificou que as ações adotadas pela prefeitura em resposta ao protesto ainda não foram suficientes para resolver os problemas.
O congestionamento dos ônibus continua e se forma a partir das 6h -embora as filas tenham tido breve queda.
O segurança Gilberto Simões, 28, só conseguiu embarcar após meia hora de espera. A empregada doméstica Ana Maria Santana, 53, usuária da mesma linha que levaria ao terminal Jabaquara, na zona sul, resolveu não subir. "É a segunda vez que deixo passar. Vem lotado, não dá para entrar."
Após o protesto, além de ter destacado 50 fiscais da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e da SPTrans (empresa municipal que cuida dos transportes) para a faixa que vai do terminal Jardim Ângela à avenida Guarapiranga, a prefeitura transferiu a operação de quatro linhas da viação Itaim Paulista para a Campo Belo e pôs tachões nas saídas das paradas, para evitar que carros invadam a pista dos ônibus.
A reportagem, porém, flagrou automóveis trafegando pelo corredor entre os pontos, longe das vistas dos fiscais.
No local, as paradas de microônibus, que funcionam do lado direito da pista, contribuem para a lentidão de carros.
"Mesmo depois do protesto, os ônibus ficam parados nos horários de pico", afirmou o segurança Marcelo Joaquim dos Santos, 31, que se disse surpreso ao voltar, em 2006, a Piraporinha, bairro "onde nasceu e se criou", após dez anos em Natal (RN). "Antes não tinha corredor, mas também não havia esse trânsito. Levava 40 minutos ao centro. Hoje, dá duas horas."
(ALENCAR IZIDORO e RICARDO SANGIOVANNI)

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