São Paulo, quarta-feira, 24 de março de 2010

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No 2º dia do júri, defesa não desmonta perícia

Promotoria e defesa fizeram questionamentos a testemunhas sobre o laudo do IC e a versão da polícia para a morte de Isabella

Depoimento de legista, que mostrou fotos de ferimentos, emocionou jurados; delegada disse que não havia sangue na roupa de Anna Jatobá

AFONSO BENITES
EDUARDO GERAQUE
TALITA BEDINELLI

DA REPORTAGEM LOCAL

No segundo dia do julgamento de Alexandre Nardoni, 31, e Anna Carolina Jatobá, 26, a defesa ainda não conseguiu desarticular as principais provas coletadas pelo Instituto de Criminalística contra os dois.
Para os defensores, os laudos têm falhas, e evidenciá-las é a aposta para inocentar o casal, acusado de esganar e atirar do sexto andar do edifício onde moravam a menina Isabella Nardoni, 5, há quase dois anos.
Contudo, a principal perita do caso, Rosângela Monteiro, ainda não foi ouvida. Ela será a primeira a depor hoje no Fórum de Santana, onde desde segunda acontece o julgamento. As provas da perícia são cruciais, já que não há confissão ou testemunha na cena do crime.
Ontem, foram ouvidos a delegada Renata Pontes, responsável pelo inquérito do caso, o legista Paulo Tieppo, que analisou o corpo de Isabella, e o perito criminal Luiz Eduardo Carvalho.
Um dos principais questionamentos de Roberto Podval, advogado dos Nardoni, foi a ausência de perícias na chave do apartamento. A investigação aponta que o objeto pode ter sido usado para agredir a criança na testa. Para a delegada, a falta da análise é irrelevante. "A lesão na testa foi superficial, e não a causadora da morte".
A delegada também afirmou ter "convicção" de que o casal matou Isabella.
Podval perguntou à delegada por que não foram coletadas impressões digitais da tesoura usada para cortar a tela do quarto do qual Isabella foi jogada. "Isso o senhor tem que perguntar à perícia", respondeu.
O perito Luiz Eduardo Carvalho, que não atuou no caso, mas é um especialista no tema, analisou manchas de sangue encontradas na cena do crime e reafirmou a tese da acusação de que elas foram gotejadas de uma altura superior a 1,25 metro, o que indica que a menina foi carregada por um adulto.

Emoção
A emoção, principal aposta da Promotoria para comover os jurados, esteve presente novamente. Anteontem, durante o depoimento de Ana Oliveira, mãe de Isabella, uma jurada de aproximadamente 45 anos chegou a se emocionar.
Ontem, a mulher ficou novamente comovida. O juiz Maurício Fossen perguntou se ela estava bem. Isso aconteceu quando o legista Paulo Tieppo apresentou fotos de lesões do corpo da menina.
Ele mostrou as marcas de esganadura encontradas no pescoço de Isabella e afirmou que lesões na testa, no quadril e no maxilar da garota foram produzidas quando ela ainda estava viva, e não por causa da queda.
Podval disse que a agressão não pode ser atribuída a seus clientes. Na saída do julgamento, voltou a criticar o trabalho da perícia. "É uma investigação correta? Séria? Acho que não".
Para Luiz Flávio Gomes, professor de direito que acompanha o julgamento, Podval vai "insistir fortemente nas falhas da perícia e, com isso, embutir dúvidas nos jurados".
A defesa pretende fazer uma demonstração aos jurados com o reagente Bluestar, usado para mostrar que havia sangue no local, para provar que o produto pode reagir com substâncias como detergentes. Especialista ouvidos pela Folha, porém, dizem que só um amador não saberia a diferença, já que as manchas de sangue tem formas e texturas bastante específicas.
Ontem, o juiz chegou a repreender a defesa por chamar Alexandre de "vítima" durante uma pergunta. "A única vítima dessa caso está morta", disse. Podval rebateu: "Todos são vítimas desse fatídico episódio".


Colaboraram o "Agora" e a Folha Online


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